quatro, vinho é uma boa.

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"Veio até mim
Quem deixou me olhar assim?
Não pediu minha permissão
Não pude evitar, tirou meu ar
Fiquei sem chão" - Malemolência

Lilian Bianchi

— Eu preciso saber mais sobre você! — Wagner gargalhou junto a mim enquanto compartilhava histórias vergonhosas do meu tempo como caloura de medicina.

Neguei com a cabeça ainda rindo e então peguei minha taça de vinho, levando ela até a boca.

Assim que a afastei notei a marca de batom no cristal delicado, ele também notou já que sorriu de lado. Encantado.

— Mais e você senhor Moura, nenhuma história interessante? — Perguntei largando minha taça com cuidado sobre a mesa.

— Com certeza eu tenho muitas histórias, principalmente nos bastidores, ensaios, minhas primeiras peças... — Assentiu dando de ombros. — Posso te contar cada detalhe no nosso próximo jantar, hoje eu quero saber apenas de você.

Próximo jantar.

Meu sorriso se alargou. Era absurdamente estranho e impossível encontrar um homem que não quisesse falar apenas de si mesmo e de se gabar de todos os seus feitos, era entediante sair com pessoas assim. Desgastante e entediante.

Com certeza se Wagner Moura fosse desse tipo, ficaríamos aqui até amanhecer já que o cara é praticamente uma lenda dos cinemas, ele deve ter muita bagagem para ter chegado até aqui com tamanho sucesso.

— Eu já te disse tudo sobre mim Wagner, não tenho mais o que falar.

— Com certeza você tem Lili. — Insistiu. — Hum, por que você quis fazer medicina? É um bom começo não é?

Pisquei devagar e engoli seco. Fazia tempo que eu não falava mais sobre esse assunto, nem sei ao menos se é algo que ainda me machuca.

— Quando eu era criança sofri um acidente de carro com o meu pai, estávamos indo para a praia. — Comecei tentando mostrar o máximo de indiferença possível, não quero estragar o clima com nenhum choro. — Ele acabou morrendo na minha frente, então... acho que quis salvar vidas, já que não pude salvar a dele.

Wagner alcançou minha mão sobre a mesa e a apertou com firmeza. Meu olhar estava perdido.

— Eu sinto muito. — Murmurou acariciando meu pulso. — E você não podia fazer nada querida. Era apenas uma criança.

Voltei a encara-lo, seu olhar de compreensão aliviou um pouco o caos que começava a se instalar dentro de mim.

— Está tudo bem. — Concordei apertando sua mão de volta. — E você? Nunca pensou em fazer algo que não fosse atuar?

Prontamente ele pareceu entender que eu não queria mais me aprofundar no assunto sobre meu pai. Fico grata por isso.

— Na verdade eu me formei em jornalismo, era uma opção boa até. — Disse. — Mas dai conheci o teatro e foi amor a primeira vista, era algo que me fazia feliz, me faz feliz, nunca me arrependi da minha escolha.

Sorri com seu comentário. Entendo perfeitamente o que ele quis dizer, me sinto do mesmo jeito em relação ao meu trabalho.

— Eu não quero que essas duas semanas acabem. — Confessei olhando para baixo, olhei para qualquer lugar, menos para seus olhos.

Nossos contatos visuais acabam comigo. É arrebatador e intenso o jeito de como podemos enxergar a pessoa apenas pelo jeitinho que ela te olha.

— Eu também não... — Sua voz era tão baixa quanto a minha.

Meu Acaso Perfeito - WAGNER MOURAOnde histórias criam vida. Descubra agora