one shot

Cc Walker e Cairo Sweet: briga, futebol e reconciliação

O sol de outono estava radiante, derramando sua luz dourada sobre o gramado impecável do estádio. As arquibancadas estavam lotadas, uma massa pulsante de cores, bandeiras e gritos ensurdecedores que ecoavam em todas as direções. Era um dia crucial para o time de Cc Walker. A final do campeonato estadual de futebol feminino não era apenas um jogo; era a culminação de meses de treino, suor e sacrifício. Para Cc, era mais um passo em direção ao estrelato que ela sempre sonhara desde criança, jogando bola nas ruas de seu bairro.

Mas naquela tarde, algo estava diferente. Cc sentia um peso no peito que não tinha nada a ver com a pressão da partida. Enquanto seus companheiros de time se esticavam e  alongavam seus músculos, preparando-se mentalmente para o desafio, Cc se pegou distraída, com o olhar perdido no horizonte, para além das linhas do campo, além das câmeras e flashes que aguardavam ansiosamente para capturar o grande momento. Ela estava pensando em Cairo Sweet, sua namorada, e em como tudo parecia estar desmoronando.

Enquanto as outras jogadoras se concentraram nas últimas instruções do treinador, Cc ouvia as palavras dele como um zumbido distante. As palavras de Cairo da noite anterior estavam gravadas em sua mente, cortantes como uma lâmina.

"Você nem me vê mais, Cc. Eu sou apenas mais uma peça na sua vida, algo que você manipula quando é conveniente. Não é justo, não para mim, e não para nós."

Essas palavras ecoavam na mente de CC enquanto ela amarra as chuteiras no vestiário, os dedos trêmulos, como se fossem eles próprios reflexos de sua ansiedade crescente. Ela respirou fundo, tentando afastar os pensamentos, mas a voz de Cairo era persistente.

"CC, você me ama? Porque, às vezes, eu não tenho certeza..."

Ela se levantou, seguindo as outras jogadoras em direção ao campo. O som das torcidas era ensurdecedor, mas de alguma forma distante, como se estivesse ouvindo debaixo d’água. Cada passo que ela dava em direção ao centro do campo parecia mais pesado que o anterior, como se correntes invisíveis a estivesse prendendo. CC parou por um segundo, olhando ao redor, observando a empolgação de suas companheiras, a confiança nos rostos delas, e se perguntou como tudo havia chegado a esse ponto.

O apito inicial soou, arrancando Cc de seus pensamentos. Ela balançou a cabeça, tentando focar no jogo, mas seus pés, que sempre se moviam com a graça e precisão de uma bailarina sobre a grama, pareciam agir por conta própria, desconectados do que sua mente tentava ordenar. Ela pegou a bola, e as jogadas que praticava incontáveis vezes no treino saíam automaticamente, mas faltava algo. O espírito, a paixão, estavam ausentes, substituídos por um vazio que ela não conseguia ignorar.

Cc cruzou a bola, assistindo à trajetória perfeita que seguiu para os pés de uma das atacantes de seu time. Mas, no fundo, ela sabia que seu coração não estava mais ali. Enquanto corria pelo campo, a mente de Cc voltava sempre para Cairo. O olhar triste e decidido de Cairo quando disse que estava indo embora, as malas já quase prontas ao lado da porta, o tom final de suas palavras: "Eu não posso mais fazer isso, Cc. Eu preciso de algo mais. Preciso de alguém que esteja realmente presente."

E então, enquanto driblava em direção ao gol, uma espécie de epifania atingiu Cc com a força de um trem desgovernado. Aquele jogo, por mais importante que fosse, não significava nada se Cairo não estivesse lá para comemorar com ela. Se a mulher que amava não estivesse lá para receber o troféu de suas mãos, para rir e chorar com ela nas vitórias e derrotas, então, de que adiantava tudo isso? Cc sabia o que tinha que fazer, mas a aceitação dessa verdade foi como engolir vidro.

- Cc, você está bem? - Uma das companheiras de time, Lara, perguntou, ao notar o olhar perdido de CC enquanto elas se preparavam para uma jogada.

- Estou... só estou um pouco distraída - Cc respondeu, forçando um sorriso que não chegou aos olhos. - Vamos ganhar isso, certo?