te esperando

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Um ano e meio se passou desde que deixou Manchester e tudo que conhecia para trás, em busca de uma vida que ela sabia que precisava viver. Quando colocou os pés na cidade pela primeira vez, o peso da decisão ainda estava ali, pressionando seu peito, trazendo insegurança e dúvidas sobre se havia feito a escolha certa.

Mas, à medida que os dias se transformaram em semanas e as semanas em meses, Madrid revelou-se o lugar onde ela pertencia, o cenário perfeito para a jornada de cura que estava apenas começando.

Cada rua, cada praça, cada edifício guardava uma memória de sua mãe. Foram muitos os dias que passaram planejando a vida juntas, sonhando com as viagens que fariam, e Madrid sempre foi um desses destinos. Agora, sozinha, Celina caminhava por esses lugares, sentindo a presença de sua mãe a cada passo. Era uma presença suave, uma lembrança de amor e força que a guiava nos momentos mais difíceis.

Ela começou a explorar a cidade com uma determinação silenciosa. Visitar cada local que havia planejado com sua mãe não era apenas uma forma de honrar sua memória, mas também de encontrar o fechamento que tanto precisava. A primeira parada foi no Parque del Retiro, um lugar que sua mãe sempre mencionava como um dos mais belos do mundo. Celina caminhou pelos jardins, sentindo a brisa suave e o sol quente em seu rosto, lembrando-se das histórias que sua mãe contava sobre como seria andar de barco no lago do parque.

Celina alugou um barco a remo e, enquanto navegava pelas águas tranquilas, lágrimas silenciosas escorreram por seu rosto. Não era tristeza, mas uma mistura de saudade e aceitação. Ali, em meio àquele ambiente sereno, ela percebeu que finalmente podia deixar sua mãe partir. As palavras dela ecoavam em sua mente: "Você é forte, minha filha. Nunca esqueça isso". E naquele momento, Celina soube que estava começando a acreditar nisso novamente.

Outros lugares seguiram, cada um trazendo uma nova emoção, uma nova camada de cura. O Palácio Real, a Gran Vía, a Plaza Mayor — todos esses cenários se tornaram partes essenciais de sua jornada, cada um ajudando a reconstruir as partes de si mesma que haviam sido quebradas pelo luto e pela dor. Ela começou a ver Madrid não apenas como um lugar de memórias, mas como um lugar de novos começos, onde poderia ser quem realmente era, sem as sombras do passado a assombrando.

Nos meses que seguiram sua mudança para Madrid, Celina não apenas redescobriu a si mesma, mas também se abriu para o mundo ao seu redor de uma forma que nunca havia feito antes. A cidade vibrante, cheia de vida e diversidade, ofereceu-lhe mais do que apenas um refúgio para sua cura interior; ofereceu-lhe a oportunidade de conhecer novas pessoas e explorar culturas que ampliaram sua visão de mundo.

Em seu ambiente de trabalho, Celina rapidamente fez amizades com colegas de diferentes países e origens. Eles a convidaram para cafés após o expediente, e em pouco tempo, as conversas formais se transformaram em discussões animadas sobre cultura, política e vida pessoal. Ela ficou fascinada ao ouvir as histórias de vida de seus novos amigos, como os desafios que enfrentaram ao deixar seus países de origem, as tradições que mantinham vivas em Madrid e as formas como se adaptaram a uma nova cultura sem perder suas identidades.

Uma de suas novas amigas, Clara, era uma espanhola apaixonada pela arte e pela gastronomia. Clara a apresentou ao flamenco, levando-a a espetáculos emocionantes onde a música e a dança contavam histórias profundas de paixão e dor. Elas também exploraram juntos os mercados locais, onde Celina se apaixonou pelos sabores autênticos da cozinha espanhola — do jamón ibérico aos churros com chocolate. Essas experiências enriqueceram sua vida de maneiras que ela nunca imaginou, oferecendo-lhe uma conexão mais profunda com a cultura espanhola.

Celina também conheceu Julia, uma francesa que se mudara para Madrid em busca de um novo começo. Julia, com seu jeito descontraído e riso fácil, trouxe leveza à vida de Celina. Juntas, exploraram as ruas de Madrid em busca de cafés charmosos, museus escondidos e parques tranquilos onde podiam sentar e conversar por horas. A perspectiva de Julia sobre a vida, sempre tão otimista e cheia de gratidão, influenciou Celina a valorizar ainda mais as pequenas alegrias do dia a dia.

Voltar para Casa - Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora