Os dias passavam como as marés, e Gabriel sentia uma mudança crescente dentro de si. Cada encontro com Lara parecia aprofundar algo que ele ainda não conseguia nomear, uma sensação de que estava começando a descobrir partes de si mesmo que antes estavam escondidas.
Era uma manhã como qualquer outra, e Gabriel estava na varanda de sua casa, o aroma de café preenchendo o ar enquanto ele observava o mar ao longe. Lara tinha se tornado uma constante na sua vida, seus encontros diários algo que ele aguardava com expectativa, como se o dia só começasse de verdade quando a via.
Quando terminou o café, Gabriel decidiu que aquela manhã seria diferente. Ele tinha passado tanto tempo focado em sua busca pessoal, tentando encontrar respostas dentro de si, que talvez tivesse esquecido a importância de conhecer melhor a pessoa que, inesperadamente, se tornara tão importante para ele.
Com essa decisão firme na mente, ele pegou a prancha, mas em vez de ir direto para a água, seguiu para a rocha onde sabia que Lara estaria. Quando a viu, já esperando por ele com a câmera em mãos, ele sentiu uma onda de conforto. Mas hoje, não queria apenas o conforto habitual, queria saber mais, queria entender.
— Hoje eu vou surfar mais tarde — anunciou, sentando-se ao lado dela.
Lara ergueu as sobrancelhas, surpresa, mas sorriu.
— Mudança de planos? — perguntou, curiosa.
— Um pouco — respondeu Gabriel, olhando para o horizonte. — Tenho sentido que passo tanto tempo perdido em meus próprios pensamentos que talvez esteja esquecendo de viver o momento. E você parece ser muito boa nisso.
Lara riu suavemente, ajeitando uma mecha de cabelo que o vento soprara em seu rosto.
— Você se engana se acha que eu tenho tudo resolvido — disse ela. — Mas estou tentando, como todo mundo.
Gabriel virou-se para ela, interessado.
— Então, me diga, o que te trouxe até aqui, Lara? Você já me viu em ação no mar, mas eu não sei quase nada sobre você.
Lara hesitou por um momento, como se estivesse ponderando o quanto estava disposta a compartilhar. Finalmente, ela suspirou e começou a falar, a voz leve, mas com uma ponta de melancolia.
— Eu sou do tipo que sempre buscou um propósito, uma razão para o que faço. A fotografia me deu isso. Comecei fotografando paisagens, animais, até mesmo pessoas, mas nunca senti que estava capturando a verdade. Foi só quando comecei a fotografar o oceano que senti que estava chegando perto de algo real. Algo que não pode ser controlado, que é imenso e incontrolável. Foi isso que me trouxe aqui.
Gabriel ouviu em silêncio, sentindo que havia muito mais por trás das palavras dela.
— E por que o oceano? — perguntou, incentivando-a a continuar.
Lara mordeu o lábio, pensativa, antes de responder.
— Porque ele reflete muito do que sinto por dentro. A maré alta e baixa, as correntes que nos arrastam sem aviso, as tempestades inesperadas. Tudo isso é muito parecido com o que sinto na minha própria vida. E talvez, ao fotografar o mar, eu esteja tentando entender essas correntes internas.
Gabriel ficou em silêncio, as palavras dela ressoando profundamente. Ele sempre viu o oceano como um desafio, um adversário a ser conquistado, mas agora começava a entender que havia algo mais. Algo que ele ainda estava descobrindo, mas que Lara já parecia ter captado.
— Sabe, eu acho que entendo um pouco do que você está falando — disse Gabriel, a voz baixa. — Eu sempre vi o surfe como uma maneira de provar algo, para mim mesmo e para os outros. Mas ultimamente, sinto que não é mais suficiente. E estar aqui, com você, ouvindo você falar sobre como vê o mar, me faz pensar que talvez haja mais coisas que eu não tenha considerado.
Lara olhou para ele, seus olhos verdes capturando a luz do sol nascente.
— Talvez, Gabriel — disse ela suavemente. — Às vezes, a gente só precisa parar de lutar contra a corrente e deixar que o mar nos leve aonde precisamos estar.
Gabriel sentiu o peso das palavras dela, como se um novo entendimento estivesse começando a surgir. Ele não estava mais apenas procurando respostas para si mesmo; estava começando a perceber que, talvez, as respostas que ele buscava não estivessem apenas dentro dele, mas também naqueles que o cercavam.
Eles ficaram em silêncio novamente, mas dessa vez, o silêncio não era de incerteza ou desconforto. Era o silêncio de uma compreensão mútua, uma aceitação do fato de que, como o oceano, a vida era cheia de correntes inesperadas, e que talvez, apenas talvez, era preciso aprender a navegar com elas em vez de tentar controlá-las.
Quando finalmente levantaram-se para seguir seus caminhos, Gabriel sentiu uma leveza que não sentia há muito tempo. Ao olhar para Lara, ele sabia que algo entre eles estava mudando, evoluindo, como as ondas que continuam a se transformar à medida que se aproximam da costa. E ele estava curioso, quase ansioso, para ver onde essa maré os levaria a seguir.
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Boa leitura 💕📚
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Mares do coração-Gabriel Medina
FanfictionSinopse: Gabriel Medina, no auge de sua carreira como surfista profissional, encontra-se em um momento decisivo. Após conquistar seu segundo título mundial, ele sente que algo falta em sua vida. Mesmo cercado por fama, pranchas e ondas perfeitas, um...