Maré Alta

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A manhã da competição amanheceu com o céu tingido de tons laranjas e rosas, enquanto o sol nascia sobre o horizonte do oceano. Gabriel acordou com uma sensação de nervosismo misturada com excitação. Depois de meses afastado das competições, ele estava prestes a voltar às ondas de uma forma que não fazia há muito tempo.

Na praia, o ambiente era elétrico. Centenas de espectadores estavam reunidos, os sons das ondas quebrando competiam com as vozes animadas do público, enquanto os surfistas aqueciam na areia ou conversavam com seus treinadores. Lara estava entre os fotógrafos, capturando os momentos cruciais e eternizando a adrenalina que pairava no ar. Com a câmera em mãos, ela registrava cada detalhe, mas seu olhar frequentemente se voltava para Gabriel, observando-o se preparar mentalmente para o grande momento.

Gabriel tinha um ritual que sempre seguia antes das competições. Ele caminhava até a beira da água, sentindo a areia fria sob seus pés, e passava alguns minutos de olhos fechados, escutando o mar. O som das ondas batendo contra a costa tinha um efeito calmante, como se fossem velhos amigos se reencontrando. Sentia-se em casa ali, no oceano, e cada vez mais percebia que essa conexão com a natureza também era parte do que o motivava em seu projeto ambiental.

Felipe Cesarano e Ítalo Ferreira, dois de seus melhores amigos e colegas surfistas, estavam lá para apoiá-lo. Eles sabiam o quão importante essa competição era para Gabriel, e sua presença só reforçava o apoio que ele recebia.

— Cara, você vai destruir lá fora — disse Felipe, conhecido pelo apelido "Gordo", batendo nas costas de Gabriel antes dele entrar na água. — Sinto que esse é o seu momento.

Ítalo, que sempre tinha um sorriso contagiante no rosto, assentiu com entusiasmo.

— Vamos ver aquele Gabriel que sempre fez as ondas parecerem fáceis. Vai lá e mostra o que você sabe fazer.

Gabriel sorriu, grato pelas palavras de encorajamento dos amigos. Ele sabia que, independentemente do resultado, ter seus amigos e Lara ali ao seu lado fazia toda a diferença. A pressão ainda existia, mas a presença deles tornava tudo mais leve.

Quando o juiz sinalizou o início da bateria, Gabriel entrou na água com sua prancha sob o braço, sentindo a familiaridade do mar o envolver. As ondas estavam perfeitas naquela manhã — grandes, fortes e poderosas, o tipo exato de desafio que ele sempre adorou. Ele remou até o ponto onde as ondas quebravam, sentindo o coração bater forte no peito.

A primeira onda que ele pegou foi intensa. Gabriel se lançou em um drop agressivo, descendo com velocidade e precisão. Ele já não competia há meses, mas seu corpo ainda sabia exatamente o que fazer. Movimentos fluídos, manobras calculadas — tudo parecia natural. Cada manobra executada gerava gritos de entusiasmo da plateia na praia.

Lara assistia de longe, o coração batendo acelerado a cada movimento de Gabriel. Ela sabia o quanto esse momento era importante para ele, e seu olhar não deixava a lente da câmera nem por um segundo, capturando cada curva de onda que ele pegava. Ao mesmo tempo, o apoio incondicional de Lara era palpável. Ela estava ali, não apenas como espectadora, mas como alguém que entendia profundamente o significado daquela competição para Gabriel.

Conforme o dia avançava, Gabriel continuava a impressionar os juízes e o público. Ele avançava pelas baterias, derrotando competidores fortes, e se encontrava na final, disputando o título com um dos surfistas mais jovens e promissores do circuito. A tensão era alta, mas Gabriel estava em paz. Mais do que nunca, ele estava consciente de que o resultado não era o mais importante. O que realmente importava era estar de volta às ondas, sentir aquela conexão com o mar, e saber que ele poderia continuar equilibrando sua paixão pelo surfe com o projeto que estava construindo ao lado de Lara.

Na bateria final, Gabriel decidiu dar tudo de si. Ele pegou uma das maiores ondas do dia, deslizando pela parede de água com uma técnica impecável. Quando chegou ao topo da onda, ele executou uma manobra radical, um aéreo perfeito, que arrancou aplausos ensurdecedores do público. O sentimento de liberdade enquanto voava por sobre a água foi indescritível. Era aquele instante, aquele momento de pura conexão com o oceano que ele sempre buscava.

Quando a bateria terminou, Gabriel saiu do mar com um sorriso largo no rosto, exausto, mas incrivelmente satisfeito. Ele sabia que tinha feito o seu melhor, e o segundo lugar que conquistou foi recebido com orgulho. Mesmo sem a vitória, a sensação de realização era imensa. O público o aplaudia de pé, e seus amigos o abraçaram calorosamente na chegada à areia.

— Que performance, cara! — exclamou Ítalo, abraçando Gabriel com entusiasmo. — Você voltou com tudo!

— Não foi só a competição, foi ver você se divertindo de novo — comentou Felipe, rindo. — Dá pra ver nos seus olhos que você estava exatamente onde devia estar.

Gabriel sorriu, concordando. Ele olhou em direção a Lara, que também caminhava em sua direção com um grande sorriso no rosto. Quando se aproximou, ela o envolveu em um abraço apertado, sentindo o cheiro do sal em sua pele e a energia vibrante que ele emanava.

— Você foi incrível — disse ela, segurando o rosto dele entre as mãos, os olhos brilhando de orgulho. — Eu sabia que você faria algo especial hoje.

Gabriel, ainda ofegante e emocionado, a beijou suavemente, sentindo-se mais conectado a ela e àquele momento do que nunca.

— Eu me senti vivo lá fora — disse ele, sorrindo. — E não foi apenas por causa da competição. Foi por tudo... por você estar aqui, pelos amigos, e por saber que, quando saio da água, há um propósito maior me esperando.

Lara assentiu, compreendendo exatamente o que ele queria dizer. O surfe não era apenas uma competição para Gabriel, era uma maneira de se reconectar consigo mesmo e com o mundo ao redor. E agora, com o projeto ambiental em pleno desenvolvimento, ele havia encontrado um novo sentido para essa paixão.

Ao final da cerimônia de premiação, Gabriel e Lara se afastaram da multidão, caminhando juntos pela praia enquanto o sol começava a se pôr. O céu estava pintado de laranja e vermelho, refletindo nas ondas calmas que se quebravam suavemente na areia.

— Então, o que vem agora? — perguntou Lara, olhando para ele com curiosidade.

— Agora, eu volto ao projeto com mais força do que nunca — respondeu Gabriel, olhando para o horizonte. — Eu percebi hoje que posso fazer as duas coisas. Posso continuar surfando, competindo quando quiser, mas o projeto ambiental... esse é o meu verdadeiro legado. Isso vai durar muito além de mim.

Lara sorriu, apertando a mão dele enquanto eles caminhavam de volta para o futuro que estavam construindo juntos, tanto nas ondas quanto fora delas.

Mares do coração-Gabriel Medina Onde histórias criam vida. Descubra agora