Maré cheia

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O som das ondas quebrando ao longe era como música para os ouvidos de Gabriel Medina. Ele estava sentado na varanda da pequena casa de praia que alugara, a prancheta encostada na parede ao lado, com marcas de areia e sal que testemunhavam batalhas recentes contra o mar. Apesar do sol estar se pondo no horizonte, tingindo o céu de laranja e rosa, Gabriel não conseguia relaxar.

O cenário era paradisíaco: uma praia deserta em algum lugar do Pacífico, onde a natureza ainda reinava soberana. Mas, dentro de Gabriel, uma tempestade silenciosa rugia. Era um sentimento de insatisfação, algo que ele não conseguia explicar nem para si mesmo. Ele havia conquistado tudo o que sempre sonhara – dois títulos mundiais, fama, uma legião de fãs – e, ainda assim, sentia-se incompleto.

Ele passou a mão pelos cabelos, olhando para o mar como se esperasse que as ondas lhe dessem uma resposta. Elas sempre foram suas companheiras mais fiéis, oferecendo consolo e desafio na mesma medida. Mas, ultimamente, nem elas conseguiam acalmar o turbilhão dentro dele.

Decidido a deixar a inquietação de lado, Gabriel pegou sua prancha e caminhou em direção à água. O contato da areia fria nos pés descalços lhe trouxe um breve momento de paz, e quando finalmente mergulhou nas ondas, sentiu o peso em seus ombros diminuir. O mar sempre tinha esse efeito nele.

Paddle out, pensamento livre. Foi assim que ele treinara por anos, uma espécie de mantra pessoal. Mas, naquela tarde, algo estava diferente. Ele surfou algumas ondas pequenas, sentindo o equilíbrio, o controle. Mas faltava a conexão profunda que sempre experimentara.

Foi então que a viu.

Na margem, uma figura solitária estava ajoelhada na areia, com uma câmera nas mãos. Gabriel a observou por um momento enquanto esperava pela próxima onda. A mulher parecia absorta, totalmente concentrada em capturar algo com sua lente. Ele se perguntou o que poderia ser tão interessante naquele trecho isolado da costa.

Com um movimento ágil, Gabriel pegou a onda seguinte, deslizando sobre a crista com a facilidade de quem conhece o mar como a palma da mão. Quando chegou à beira da água, ele se levantou, sacudiu a água salgada dos cabelos e caminhou em direção à mulher.

— Foto para a capa de revista? — ele perguntou, com um sorriso, quando se aproximou.

A mulher ergueu os olhos da câmera, visivelmente surpresa. Seus olhos eram de um verde profundo, quase tão hipnotizantes quanto as ondas que ele acabara de surfar.

— Eu não trabalho para revistas — respondeu ela, devolvendo o sorriso, mas com um ar de mistério. — Só tento capturar a essência das coisas.

Gabriel arqueou uma sobrancelha, intrigado. Ela não parecia se importar que estava falando com um dos surfistas mais famosos do mundo, e isso, de alguma forma, foi refrescante.

— E o que você está capturando aqui? — ele perguntou, genuinamente curioso.

— A maré cheia — disse ela, voltando a ajustar a lente da câmera. — A forma como a luz reflete na água, como cada onda é diferente da outra. É como se o oceano estivesse conversando, contando uma história que poucos param para ouvir.

Gabriel ficou em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. Ele sempre amou o mar, mas nunca havia pensado nele dessa maneira.

— Você vê o mundo de uma forma interessante — comentou, sentindo-se subitamente inseguro, uma sensação que raramente experimentava.

Ela deu de ombros, como se não fosse nada de mais.

— Eu vejo o mundo como ele é. Nem mais, nem menos. Sou Lara, a propósito.

— Gabriel — respondeu ele, estendendo a mão.

Eles se cumprimentaram, e, por um breve segundo, Gabriel sentiu uma corrente passar entre eles, como se algo importante estivesse prestes a começar.

— Gabriel Medina, certo? — Lara perguntou com um sorriso leve. — Eu vi algumas competições suas.

Gabriel assentiu, acostumado com o reconhecimento, mas o jeito como ela disse seu nome o fez sentir-se visto de uma forma diferente, como se ela enxergasse além da figura pública, tocando algo mais profundo.

— Bom, Gabriel, se você não se importar, eu vou continuar minha conversa com o oceano — disse ela, voltando a se concentrar na câmera. — Ele ainda tem muito a dizer.

Gabriel riu, surpreso com a resposta.

— Não vou atrapalhar. Talvez eu deva tentar ouvi-lo também.

Enquanto Lara continuava fotografando, Gabriel sentiu que, pela primeira vez em muito tempo, estava exatamente onde deveria estar. Ele voltou ao mar, sentindo-se mais leve, com uma sensação que não experimentava há tempos: esperança.

Enquanto remava para pegar outra onda, ele lançou um olhar para a praia, onde Lara ainda estava, totalmente imersa em sua arte. Mal sabia ele que aquela breve conversa seria o início de algo que mudaria sua vida para sempre, como as marés que mudam a costa a cada dia.

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Oiii gente,essa é a minha primeira fanfic escrita diretamente por mim então relevem qualquer erro de português
Se poderem curtir e comentar pra me dar ânimo de postar mais capítulos
Boa leitura 📖💕

Mares do coração-Gabriel Medina Onde histórias criam vida. Descubra agora