Mares do coração-Gabriel Medina

Primeiro Salto

O som das ondas batendo suavemente na praia se misturava ao som das batidas aceleradas do coração de Lara. Ela olhava para a linha do horizonte, onde as ondas se formavam antes de rolar em direção à costa. A prancha sob seu corpo balançava ligeiramente, e a água fria contra sua pele contrastava com a adrenalina que começava a correr por suas veias.

— Estou pronta — respondeu Lara, com um misto de determinação e nervosismo na voz.

Gabriel sorriu, encorajando-a com um aceno de cabeça.

— Lembre-se, não se trata de acertar logo de cara. É sobre sentir o momento. A água, o movimento... e se divertir.

Com isso, ele olhou para o mar, observando uma pequena onda se aproximar. Era a oportunidade perfeita para Lara experimentar sua primeira onda. Gabriel se posicionou ao lado dela, pronto para ajudá-la a se levantar na prancha.

— Ok, quando eu disser "agora", você começa a remar com força e depois se levanta devagar, como praticamos. Confie em si mesma e no que o mar está te oferecendo.

Lara assentiu, os olhos fixos na água à sua frente. Gabriel começou a contar, e quando a onda estava prestes a alcançá-los, ele gritou:

— Agora!

Lara remou com toda a força que tinha, sentindo a onda começar a empurrá-la para frente. Gabriel observava de perto, pronto para ajudá-la se necessário, mas algo dentro dela tomou conta. Seguindo as instruções de Gabriel, ela começou a se levantar, as pernas trêmulas de esforço e tensão. O movimento foi desajeitado, mas ela conseguiu se erguer, a prancha deslizando pela onda de maneira instável.

Por um breve momento, Lara estava em pé, sentindo a força da água sob seus pés e a brisa do mar no rosto. Ela soltou uma risada surpresa, misturada com pura alegria. Mas, como era de se esperar, o momento foi fugaz. Perdendo o equilíbrio, Lara caiu na água, o som de sua risada ecoando enquanto ela desaparecia na espuma branca.

Gabriel imediatamente remou até onde ela estava, pronto para ajudá-la, mas Lara emergiu logo em seguida, ainda rindo.

— Isso foi... incrível! — disse ela, ofegante, mas claramente empolgada.

Gabriel sorriu, aliviado e feliz por vê-la tão animada.

— Você foi muito bem para a primeira vez! A maioria das pessoas nem consegue se levantar.

Lara passou a mão pelo rosto, afastando a água salgada dos olhos, ainda rindo.

— Eu senti o que você disse, Gabriel. Por um momento, foi como se eu estivesse em perfeita sintonia com o mar. Mesmo que tenha durado pouco, foi... — Ela parou, procurando as palavras certas. — Libertador.

Gabriel assentiu, entendendo exatamente o que ela queria dizer. Para ele, o surfe sempre foi uma forma de libertação, uma maneira de se conectar com algo maior do que ele mesmo. Ver Lara experimentar isso pela primeira vez foi um momento especial, quase sagrado.

— Quer tentar de novo? — perguntou ele, já sabendo a resposta.

Lara sorriu, determinada.

— Com certeza.

Eles passaram o resto da manhã na água, com Gabriel ensinando Lara a entender melhor as ondas e a confiar em seus próprios instintos. A cada tentativa, ela melhorava, se levantando por mais tempo e ganhando mais confiança. O tempo parecia voar, e logo o sol estava alto no céu, brilhando intensamente sobre o mar.

Exaustos, mas felizes, eles finalmente voltaram para a praia, deitando na areia quente para descansar. Lara estava ofegante, mas havia uma expressão de pura satisfação em seu rosto.

— Eu nunca pensei que surfar pudesse ser tão... viciante — disse ela, fechando os olhos e deixando o calor do sol secar sua pele molhada.

Gabriel riu, deitando-se ao lado dela.

— É, isso acontece. Uma vez que você sente aquela conexão com o mar, é difícil não querer mais.

Lara virou a cabeça para olhar para ele, seus olhos brilhando com uma nova compreensão.

— Eu acho que entendo melhor você agora, Gabriel. Por que você ama tanto isso. Não é apenas sobre as manobras ou a competição... é sobre a sensação de estar vivo, de estar presente em cada segundo.

Gabriel ficou em silêncio por um momento, tocado pelas palavras dela. Ele sempre soube que havia algo especial em Lara, mas naquele instante, percebeu o quão profundamente ela o compreendia, talvez até mais do que ele se compreendia.

— É exatamente isso — disse ele, finalmente. — E é por isso que eu queria que você experimentasse. Porque eu sabia que você entenderia.

Lara sorriu suavemente, estendendo a mão para entrelaçar os dedos nos dele. O toque foi simples, mas carregado de significado.

— Obrigada por me mostrar isso, Gabriel. Não apenas o surfe, mas como é confiar em alguém, deixar alguém te guiar.

Gabriel apertou a mão dela, sentindo o mesmo calor e conforto que vinha sentindo desde que a conhecera.

— Eu é que devo agradecer, Lara. Por me ajudar a ver o que realmente importa. Não só no surfe, mas na vida.

Eles ficaram em silêncio, observando as ondas quebrarem suavemente na praia, o som do mar criando uma melodia tranquila ao fundo. Gabriel sabia que, com Lara ao seu lado, ele estava finalmente começando a entender o que era realmente viver — e o que significava confiar em alguém, não apenas nas ondas, mas em todas as marés da vida.
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