Mantendo o casual ( Só que não...)

12

Capítulo 12
Xiao Zhan

Xuanlu tem uma partida de futebol no final da tarde de sábado. Não tenho certeza se é porque hoje é seu aniversário de verdade e fazer dez anos significa que ela ganhou um superpoder de dois dígitos, mas suas habilidades no futebol estão ainda mais aprimoradas do que o normal. Ela está atropelando as outras garotas do time competidor como se estivesse em um tanque e elas estivessem de bicicleta.
Qinsu e eu ficamos juntos à margem, em um estado combinado de choque com o furacão do futebol que de alguma forma, nós, duas pessoas relativamente pouco competitivas, conseguimos produzir.
— Oh merda — Qinsu diz depois que Xuanlu chuta a bola e acerta uma das jogadoras adversários na boca.
— Porra, isso é um dente? — Pergunto enquanto a garota cospe algo branco em meio a uma boca cheia de sangue.
— Tenho certeza de que já estava solto — Qinsu responde de forma pouco convincente. Trocamos olhares horrorizados.
— As pessoas vão pensar que eu a treinei para infligir ferimentos às crianças da cidade apenas para conseguir negócios para mim — digo ansiosamente.
Felizmente, o apito final soou alguns minutos depois, poupando mais dor ao adversário.
— Mãe, pai, vocês viram meus gols? — Xuanlu corre até nós. Qinsu e eu nos agachamos ao mesmo tempo, e ela corre para nossos braços, então acabamos dando um abraço de três pessoas.
Minha garganta aperta enquanto inalo os aromas familiares: lama, grama e o perfume favorito de Qinsu.
Esses são os momentos que sinto muita falta. Ser uma família adequada.
— Como poderíamos ter perdido eles? Você marcou sete — digo enquanto a solto.
— Oito — ela corrige.
— Devo ter piscado e perdido um deles. Você é bastante rápida.
— Eu me sinto muito mal por ter batido naquela garota — diz Lu. — Mas ela disse que foi culpa dela não ter se esquivado. 
— Acho que o mundo inteiro deveria se abaixar quando você está armada com uma bola de futebol, Lu — digo.
Ela sorri para mim, seu amplo sorriso abrindo seu rosto. Então ela olha para Qinsu.
— Papai pode ir jantar?
Em morde o lábio, me lançando um olhar.
— Você quer?
— Você está bem com isso? —  Eu pergunto em troca.
Depois que nos separamos, eu tentei muito nos manter como uma unidade familiar unida. Continuar envolvido na vida cotidiana de Lu, mesmo quando ela não estava comigo.
Mas uma noite, Qinsu começou a chorar e me disse que era muito difícil me ter por perto constantemente, agindo como se nada tivesse mudado. Então eu me retirei para dar-lhe algum espaço, mesmo que me matasse passar tanto tempo longe de Xuanlu.
— Eu estou bem com isso. Acho que temos o suficiente, desde que papai não coma demais. — Qinsu me lança um sorriso.
— Vamos comer torta de bacon e ovo com batatas recheadas — Xuanlu me informa.
— Parece ótimo. Esperançosamente, sobrará o suficiente para você. — Puxo o rabo de cavalo de Xuanlu.
Ela revira os olhos. — É meu aniversário. Como se você fosse comer toda a minha comida no meu aniversário.
— É aqui que eu digo, ‘desafio aceito?’ — Eu bagunço seu rabo de cavalo novamente, e ela foge para longe do meu alcance.
Enquanto dirijo até o bangalô bonitinho onde morei com Xuanlu e Qinsu, tento conter meu constrangimento e arrependimento. Qinsu e eu pegamos esta casa quando ela estava grávida de Xuanlu, e lentamente fizemos isso juntos ao longo dos anos para torná-la a casa que queríamos.
Por dentro, sou assaltado por lembranças.Qinsu e eu pintando o corredor e o berçário juntos quando Qinsu estava grávida. A parede ao lado da cozinha onde acompanhávamos a altura de Xuanlu todos os meses. Engulo o nó na garganta quando vejo todas as marcas recentes que não estive aqui para testemunhar.
— Você pode se sentar aqui, pai, ao lado da mamãe — Xuanlu instrui. Então, obedientemente, me sento no lugar ao lado de Qinsu, fingindo não notar quando ela fica rígida quando acidentalmente esbarro nela. Xuanlu se senta à nossa frente.
Xuanlu conversa sem parar sobre o jogo de futebol e a escola durante o jantar, exigindo pouca contribuição de Qinsu e de mim.
Os pais de Qinsu ligam via FaceTime para Xuanlu para lhe desejar um feliz aniversário, e ela leva o telefone para fora para mostrar a eles sua nova bicicleta.
Qinsu coloca mais algumas batatas no prato. — Você quer  alguma coisa? — ela pergunta.
— Não, estou bem, obrigado.
A formalidade fica estranhamente no ar. Esta é Qinsu, com quem eu costumava ter conversas que duravam a noite toda. Como alguma vez chegamos a este lugar onde agimos como estranhos educados?
Quando estou tentando pensar em algum assunto seguro para conversar, recebo uma mensagem de Yibo.
Shizui  está em uma festa do pijama essa noite. Quer vir?
Um arrepio percorre meu corpo com a ideia de passar a noite com Yibo.
Não quero parecer muito ansioso, então espero um minuto inteiro antes de enviar uma mensagem de volta.
-Os criadores de galinhas têm travesseiros de penas?
-Hum... acho que sim. Nunca pensei nos travesseiros dos criadores de galinhas.
-Estou pensando que eles teriam um suprimento infinito de penas que teriam que usar de alguma forma.
-Certo... então isso é um sim? Porque na verdade não falo metáforas de galinha fluentemente.
-É decepcionante ouvir isso. Espero que essa seja minha única decepção esta noite, porque é um sim. Estou jantando com Xuanlu agora, então só voltarei para casa daqui uma hora.
-Sem problemas. Eu vou esperar por você.
— Para quem você está enviando mensagens? — Qinsu pergunta.
Eu não quero mentir para ela.
— Yibo.
Ela levanta uma sobrancelha e a balança. — Yibo, seu namorado?
Enfio meu telefone no bolso. — Ele não é meu namorado. Não é um namorado de verdade, de qualquer maneira.
Seu sorriso desaparece e suas sobrancelhas se juntam.
— É por minha causa?
Eu engulo. Sua simples pergunta traz de volta uma onda de culpa que sinto por Qinsu.
— Não, não é por sua causa — digo, desviando o olhar. Eu olho para a porta da cozinha, onde estão as marcas de lápis que medem o crescimento de Xuanlu. — Por que seria por sua causa?
— Você não teve um namorado de verdade desde que nos separamos — diz ela.
— Sim, bem, o cara certo não apareceu. 
— Você tem certeza sobre isso?
Minha garganta entope. Acho que não posso responder a ela sobre isso. Mantenho meus olhos fixos na porta.
— Eu sempre vou amar você, Xiao Zhan . Mas deixei de estar apaixonada por você. Eu só quero que você saiba disso.
Eu olho para ela.
Ela morde o lábio, sua expressão arrependida.
— Desculpe. Acho que estava tão apaixonada por você que fiz você se sentir culpado depois que nos separamos. E isso tornou difícil para você seguir em frente. 
— Qinsu... — eu digo, minha voz cheia de emoção.
Ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha e respira fundo. — Por muito tempo, não entendi como você pôde se afastar de nós quando grande parte do nosso relacionamento era ótimo. Mas eu vi o jeito que você olhou para Yibo na festa de Lu. E você nunca olhou para mim desse jeito.
— Como? — Na verdade, não tenho certeza se quero saber a resposta.
— Como se você quisesse devorá-lo — diz Qinsu.
Na dúvida, brinque.
— É bom saber que minhas tendências canibais secretas estavam expostas para que todos vissem.
Ela cutuca meu ombro. — Você sabe o que eu quero dizer. Você realmente gosta dele, não é?
Suas palavras causam uma vibração dentro de mim. Eu solto um suspiro.
— Não importa o quanto eu gosto dele. Ele não está interessado em um relacionamento — eu digo.
— Você tem certeza? Porque na festa de Xuanlu, ele definitivamente parecia estar agindo como um namorado faria.
Meu coração se eleva com suas palavras.
Ela se inclina para me dar um beijo na bochecha.
— Não se contente com menos do que você realmente deseja, Xiao Zhan  — diz ela.
Minha mente começa a girar.
Xuanlu volta para a sala e nossa conversa passa a falar sobre todas as notícias que seus avós compartilharam com ela.
Mas as palavras de Qinsu estão em minha mente enquanto dirijo para casa.
Estou me contentando com menos do que quero ao concordar em manter as coisas casuais com Yibo?
O que eu realmente quero com ele?
Penso em seu sorriso lento que se transforma em algo incrível. Penso em sua gentileza com Xuanlu. Que pai incrível ele é para Shizui . Como as coisas estão sexys entre nós no quarto, mas a maneira como ele me toca com tanta ternura e reverência. A maneira como podemos falar sobre tudo e qualquer coisa. O quanto fazemos um ao outro rir.
Merda. Eu tenho minha resposta.
Eu quero tudo com ele.
Quero acordar todas as manhãs com ele. Quero cozinhar com ele, rir com ele, fazer um sexo incrível com ele.
Quero unir nossas famílias, apoiar uns aos outros nos bons e nos maus momentos.
Quero sentar em uma cadeira de balanço segurando a mão dele enquanto observamos nossos netos brincarem.
Meus olhos ardem com o pensamento.
Posso convencê-lo a querer a mesma coisa? Concordamos em manter as coisas casuais, mas quando realmente penso sobre o que há entre nós, parece tudo menos casual.
Meu telefone toca no painel e vejo o nome de Yibo. Rapidamente aperto em aceitar.
— Ei, estou voltando para casa agora, então já vou para aí — digo.
E talvez, com base no que acabei de perceber, eu tenha coragem suficiente para falar com ele. Corajoso o suficiente para sugerir que o que temos juntos está agora muito além dos parâmetros de onde começamos.
— Xiao Zhan .
É uma palavra. Apenas meu nome. Mas ele diz isso com uma voz que nunca ouvi antes.
O alarme bombeia através de mim.
— O que é? O que está errado?
— A polícia acabou de ligar. Shizui  foi levado ao hospital. Alguma pegadinha com os amigos dele deu errado. —  Yibo recita as frases com naturalidade, mas posso ouvir a fragilidade em sua voz, como se ele estivesse prestes a quebrar a qualquer momento.
— Oh meu Deus. Ele está bem?
— Eles não puderam me contar mais detalhes.
— Encontro você no hospital — digo, desligando. Então faço uma volta incrivelmente ilegal e coloco o pé no acelerador, quebrando o limite de velocidade no processo.
Mas isso não importa.
Nada importa além de chegar até Yibo.
.....