Capítulo 4 - 2018 a 2020

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Apesar de começar o ano de 2018 no puerpério, morrendo de medo de não dar conta de cuidar da vida de outro ser humano, eu estava muito feliz com meu filho. Eduardo já nasceu maravilhoso. Parecia até que ele sabia que esse momento na vida da mãe era cansativo, porque quando acordava de madrugada, mamava e logo dormia. E aí eu conseguia descansar um pouco. Meus pais ficaram eufóricos com o primeiro neto. E meus irmãos babavam pelo primeiro sobrinho.

André foi muito parceiro nessa fase. Ele realmente fez jus ao conceito de pai. Era ele quem acordava para pegar Eduardo no berço e levar até mim, mesmo que tivesse que acordar cedo para ir trabalhar no dia seguinte. As atitudes dele como pai me fizeram admirá-lo ainda mais. Às vezes, até eu mesma me enganava e achava que o amava, mas hoje vejo que não. Poderia até ter amor envolvido, mas não era carnal, de marido, estava mais para amor fraternal.

Após minha licença maternidade, retornei ao hospital onde fiz minha residência. Meu objetivo naquele momento era passar no concurso do hospital e ser médica efetiva. André também tinha o mesmo sonho. Então, contratamos uma babá para que nós pudéssemos dedicar algum tempo aos estudos.

Minha mãe também ajudou muito nesse período. Já a mãe de André só vinha visitar o neto, vez ou outra. Embora me tratasse bem, era nítido que ela não estava nem um pouco satisfeita com a família humilde da esposa do filho. Dava para ver que ela não suportava que Dudu fosse também neto de um porteiro e de uma costureira.

Durante todo esse ano e o de 2019, minha vida se resumiu a trabalhar, estudar e ficar com meu filho. Esse ritmo frenético me afastou ainda mais de André. Além disso, comecei a perceber que ele também estava mais distante. Não sabia se era apenas o cansaço da nossa rotina pesada ou se ele estava me traindo. O mais engraçado é que quando me vinham essas desconfianças, pensava que seria até bom, porque assim ele não iria querer transar comigo.

Cheguei a pensar se havia alguma coisa errada comigo, porque até entendia eu não amar ele (amor é um sentimento bem mais profundo mesmo), mas poderia ter desejo sexual. Embora não fosse alto e atlético, André era um homem bonito e relativamente atraente, mas nem tesão por ele eu conseguia ter. Mesmo assim, nunca aprofundava as reflexões sobre isso, pois minha vida já era atribulada demais para ficar me preocupando com questões que eu julgava menos importante.

No entanto, em maio de 2020, menos de um mês depois de comemorarmos nossa aprovação no concurso do hospital, pedi o divórcio. Cheguei à conclusão que não era justo nem com André e nem comigo ficarmos casados sem que eu o amasse, sem que eu oferecesse a relação que ele merecia. Mesmo me confessando que saiu com outras mulheres, ele ficou desesperado, pedindo outra chance para nossa relação e dizendo que poderíamos tornar nosso casamento melhor. Infelizmente, tive que jogar a dura verdade na cara dele:

— André... eu não te amo.

— Mas tu pode voltar a me amar, Alice!

Toquei no rosto dele com delicadeza e disse, tentando usar a voz mais carinhosa que eu tinha:

— Tu não entendeu. Eu nunca te amei.

— Ãh, como assim, Alice?! E todas as vezes que tu falou era...

— Era... mentira. — Baixei a cabeça. Não consegui encará-lo. — Mas eu juro, André, que tentei te amar. Só que não consegui. E agora caiu a ficha de que não é justo comigo e, principalmente, contigo, a gente continuar nessa relação que sempre foi fracassada.

— Não, fracassada, não! Nós tivemos um filho lindo, Alice.

— É, tu tem razão! — Consegui olhar para ele. — O Dudu foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e foi tu que me deu. Então, quero pedir teu perdão por não ter sido sincera antes e ter deixado nosso casamento chegar a esse ponto. Tu merece uma mulher que te ame de verdade, André. E quero muito que tu me compreenda e que possamos terminar de uma maneira tranquila, tudo em prol do nosso filho.

A+B=∞ - A expressão de um amor improvávelOnde histórias criam vida. Descubra agora