Nessa época, me sentia no auge da minha vida: terapia em dia; um trabalho, que, apesar de ser pesado, me realizava e pagava muito bem; um filho perfeito; uma família que me amava e me apoiava; e uma namorada pela qual eu estava apaixonada.
Fazia quase dois meses que namorava a Rafa, contudo, ela ainda não tinha conhecido meu filho nem minha família. Quando ela dormia na minha casa, o que acontecia poucas vezes na semana, pedia para ela ir só quando Dudu já estivesse dormindo e fosse embora assim que ele acordasse. E isso acabou gerando um desconforto nela, que foi motivo de uma discussão no primeiro dia do mês, quando estávamos na cama, vendo uma série, após uma transa gostosa.
— Alice, preciso te dizer uma coisa. É um assunto chato, mas que tá me incomodando, então, acho que devo falar.
— Claro que tu tem que falar o que sente...
— Assim, a gente tá oficialmente namorando, mas tô me sentindo como se eu fosse só tua ficante sem importância, que tu pega de vez em quando. Não conheço teu filho, tua família e, dos teus amigos, só conheço a Luana.
— Pelo amor de Deus, Rafa, é óbvio que tu é muito mais do que uma ficante!
— Não é tão óbvio assim, Alice. É o que tu diz, mas não é o que tu demonstra.
Suspirei, agoniada com aquela conversa. Compreendia a reclamação dela, mas não queria me forçar a fazer o que eu ainda achava que não estava preparada. Depois de ficar em silêncio, ela continuou:
— Tu não confia em mim, é isso?
— Claro que confio, Rafa! — Lhe segurei as mãos. — Entendo teu incômodo e peço desculpas por isso. Mas é que, embora eu saiba que preciso dar esse passo com o Eduardo, fico com medo, ainda mais depois das coisas que o André me falou. Enfrentei ele na hora, mas, mesmo assim, tenho receio. Além disso, não sei muito bem o que dizer ao Dudu. Ele só tem três anos! Vou te apresentar como namorada? Acho que ele ainda não tem idade pra entender...
— Agora não precisa me apresentar como namorada. Ele é muito novinho ainda. Mas pode me apresentar como amiga. Deixar que ele me veja aqui, pra que ele se acostume com a minha presença e ache isso natural. E se continuar dando tudo certo entre a gente, no futuro, tu diz que sou tua namorada. Mas o que quero é participar da tua vida e não ser só uma parte meio que escondida dela.
Ela tinha razão. Então, falei:
— Tu tá certa. Mas talvez seja melhor te apresentar num final de semana e não no café da manhã antes dele ir à escola. O que tu acha?
— Acho mais prudente mesmo. E obrigada por entender meus sentimentos.
E, assim, no primeiro final de semana de março, Rafaela foi até minha casa no sábado à tarde. Eduardo estava sentado no tapete da sala pintando, ou melhor, riscando um dos desenhos de um livro de desenho que Guma tinha dado para ele, quando apareci com Rafa. Sentamos no sofá e eu disse:
— Dudu! Dudu, a mamãe tá falando contigo. Vem aqui conhecer a Tia Rafa.
Ele se levantou com o livro nas mãos e me mostrou a "pintura".
— Olha, mamãe, pintei sozinho.
— Tá lindo, meu amor. Tu é um artista mesmo. — E beijei a cabeça dele. — Olha aqui, essa é a Tia Rafa, amiga da mamãe.
Ele a olhou com a timidez típica das crianças daquela idade. Rafa então disse:
— Oi, Dudu, tudo bom. Você pinta muito bem, viu?
Como ele continuou em silêncio, olhando para ela desconfiado, eu disse:
— Dudu, a tia Rafa tá falando contigo. Como é que a gente agradece um elogio?
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A+B=∞ - A expressão de um amor improvável
RomansaAlice foi uma garota fora dos padrões de beleza que a sociedade impõe, mas, apesar do bullying sofrido na escola por conta disso, ela conseguiu mostrar todo seu potencial nos estudos. Na faculdade de medicina, conheceu André com quem teve um filho...