Capítulo 8 - Maio, 2021

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Na primeira semana do mês, Rafaela precisou viajar a trabalho. Esteve fora por quinze dias. Já senti minha cama vazia logo nos primeiros dias, porque ela tinha virado presença constante nela. Depois da briga por causa da Rebecca com dois cês, tudo se resolveu e nossa relação caminhava bem.Eu estava apaixonada e sentia que ela também. Mais do que eu. E esse era o único problema que eu via. Para mim, não era bom sinal estar numa relação com desigualdade de sentimentos. Já tinha passado por isso com André e deu no que deu. Mesmo assim, não queria encucar, porque, mesmo com essa disparidade, era muito bom estar com ela. Rafa era carinhosa, engraçada, cuidadosa, inteligente e o sexo era muito bom.

Na quarta-feira da semana que ela viajou, levei Dudu para a natação, às 16h. Só conseguia fazer isso poucas vezes, quando tinha folga. Nas outras vezes, quem levava ele era o André ou a babá. Dudu praticava esse esporte desde os 2 anos e amava. O meu peixinho ficava lindo de touquinha e óculos de natação. Chegamos à academia e, antes de ir ao encontro dos amigos, ele disse com empolgação:

— Mamãe, eu já sei nadar bem muito!

— É mesmo, meu amor? Que coisa boa. A mamãe tá orgulhosa de ti. E vou ficar aqui te assistindo, tá?

— Tá. — E saiu correndo para onde cinco crianças da idade dele estavam esperando a aula começar.

E não é que ele já nadava bem direitinho? Fiquei toda orgulhosa! Uma hora depois, ele veio até mim todo molhado.

— Tomou banho no chuveiro? — Questionei.

— Tomei. — O queixo dele tremia de frio.

— Tá com frio, meu peixinho?

— Hum rum.

Eu o vesti com o roupão e o abracei. Peguei a outra toalha que levava na bolsa dele e lhe sequei mais os cabelos. Quando o frio parou, tirei a sunga molhada e vesti ele com um short e uma blusa. E, então, caminhamos até o carro que estava parado na rua, quase em frente à academia. Na calçada, encontrei uma conhecida, que havia trabalhado comigo no hospital e que levava o filho para fazer caratê naquela academia. O garotinho de 8 anos disse que ia entrar e nós ficamos conversando um pouco. Dudu se soltou da minha mão e ficou mexendo na bolsa.

— Só um minuto, Cláudia. — Me virei para ele. — O que você quer, meu amor?

— Você "tôuxe" meu boneco?

Tirei o boneco preferido dele da bolsa e dei para ele. Sempre dizem que criança cega a gente, né? E só confirmei isso depois que fui mãe. Instantes depois, escutei um barulho enorme de pneus e quando olhei para o carro não entendi muito bem o que estava acontecendo. Só percebi quando procurei Dudu ao meu lado e não o vi. Até hoje não sei o que aconteceu para que ele fosse para a rua, já que ele brincava ao meu lado! E nem sei explicar a vocês o que eu senti. Acho que desespero resume pouco meu sentimento naquele instante.

Olhei para o carro, uma Range Rover preta (ou seja, um carro grande!) e lembro que só pensei uma coisa: meu filho morreu! Num primeiro momento, não consegui vê-lo, por causa de um carro parado próximo à calçada, que tampava a visão. Corri até ele e o vi no chão, desacordado. Externamente, não estava muito machucado, mas, com certeza, tinha batido a cabeça no chão. Gritei para que alguém ligasse para uma ambulância. A Cláudia me disse que estava ligando. Algumas pessoas se aglomeraram para ver o que tinha acontecido. De repente, uma voz notadamente aflita, disse:

— Meu Deus, Alice! Não tive culpa... ele apareceu do nada!

Quando desviei meu olhar, vi Bruna quase chorando.

— VOCÊ MATOU MEU FILHO! — Gritei. — Você matou meu filho! — Falei aos prantos.

— Não... ele não morreu... Ele não pode ter morrido! — Ela falava com as mãos na cabeça, meio desnorteada. — Ele correu e... Meu Deus! Freei o quanto pude, mas não deu.

A+B=∞ - A expressão de um amor improvávelOnde histórias criam vida. Descubra agora