Pateuneo

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Passaram-se dois dias após o questionário irritante de Nakada. Eu sinceramente não entendi nada sobre aquela máquina esquisita que segundo ele, sabia se eu estava mentindo ou não. Seus questionamentos foram breves e precisos.
Quem era Diego Sollarres?
Se eu já o vi alguma vez?
O que ele fazia?
Quase perguntou sobre a cor da sua cueca,ou os centímetros do seu pau.
Admito que foi muito difícil formular qualquer frase quando o sétimo pecado capital estava na minha frente.
Seu jeito metódico de gesticular,suas expressões quase indecifráveis,o posicionamento exato de suas mãos cheias de veias. Sem faltar aqueles olhos como penumbra que pareciam viajar dentro do meu organismo inteiro,e fazer todas as minhas células reagirem.
Ele saiu sem dizer nada. Nenhuma única palavra.
Eu não sabia se minhas respostas tinham cumprido com o que ele esperava sobre as suas perguntas,se ele estava de acordo ou se ele simplesmente depois de tudo isso,iria acabar comigo e eu não o veria mais. Mais ninguém.
A cada dia que passava naquela cela me perguntava onde exatamente eu estava.
Como diabos vim parar aqui?
Onde estava o meu maldito telefone?
Como será que estava Maya... Minha mãe?
Muitas das vezes fazia cortes nos meus braços com as unhas de tanto me arranhar.
Será que essa merda é real?
Olhava minha derme tomada de vergões e resquícios de gotículas de sangue seco.
Nakada não veio sequer me olhar novamente depois desses dias.Os únicos que me traziam comida era o idiota do robô e umas duas vezes seu amigo Erick. O robô me ajudava também com necessidades básicas de higiene e banheiro. Já éramos quase amigos.
Não havia nada naquele maldito lugar pra me distrair.Sentia minha sanidade esvair a cada dia que passava. Tudo era tão real porra.Eu estava ficando louca.
Ou já estava.

Sentada no meio da cela, ouço a porta se abrir em um rangido leve, porém, não fico curiosa pra saber quem é até ouvir a voz grave tomar o local. Tomar minha alma.
Porra de homem filho da puta.

-Levante-se.- Ele pronuncia como se eu fosse sua detenta imunda. E eu obedeço como uma.
-Bom dia... Ou sei lá que horas são.- Digo me levantando enquanto me espreguiço,soltando um sonoro longo pelo alívio nas minhas costas.
Observo Nakada com sua expressão do dia a dia. Travada como um ferro. Indecifrável. Mas, nenhum resquício de estar abalado. O homem engravatado à minha frente estava milimetricamente alinhado,e com o queixo erguido como se nada no mundo o pudesse derrubar. Observar aquilo era como energia para o meu sangue.
Ele abre a cela e aponta pra cadeira do lado de fora das grades.
A sala era um tipo de quadrado perfeito e grande, as paredes muito bem pintadas de cinza,havia três celas no total bem no fundo da sala. No canto esquerdo tinha a porta onde se localizava o banheiro. Continha uma mesa no meio da sala, simples, com uma cadeira de couro virada de costas pra porta de entrada,e uma outra cadeira preta de plástico virada de costas para as celas. Um típico ar de sala de interrogatório que você observa nos filmes.
Mais uma vez obedeço como uma cadela-tenho raiva disso- e me sento na cadeira de plástico. Apesar do meu atrevimento querer gritar naquele momento, eu ainda tinha amor à minha vida.
Quando eu comecei a ter esse amor?

Vejo que ele analisa meus braços friamente, de começo não entendo o que ele está fitando, até um estalo dar na minha mente e tentar esconder eles com as minhas mãos. Falho miseravelmente.

-E então?- Finalmente quebro o silêncio torturante que estava sobre nós.
Nakada se movimenta como um Deus até mim, pega meu pulso,erguendo meu braço até a altura de seus olhos. Por um momento franzi meu cenho em reprovação.
Ele estava de luvas?
A testura do látex me incomoda, fazendo meu nariz torcer automaticamente.
-O que isso significa?- Sua pergunta faz eu abrir e fechar minha boca. Qual seria a exata resposta pra isso?

-Faça o que você tem que fazer logo.- Minha voz soa baixo e rouca, já não conseguia olhar mais para seus olhos firmes como pedra, como se fosse matar alguém ali e agora.
-Como você fez isso?
-Unhas?-Volto a olhar pra ele com uma sobrancelha arqueada. Seu olhar confinava minha pele ainda.
-Unhas são imundas Charlotte. E você vai ficar toda marcada depois.- ouço seu estalo no céu da boca em reprovação.
O homem que estava cuspindo fogo naquele momento,me levanta da cadeira bruscamente me carregando em direção ao banheiro.
-Que porra você tá fazendo?- Minha voz sai desprevenida de minha garganta, assim como minhas reações. Tento prender meus calcanhares no chão mas a força dele era a mesma de um touro quando via a cor encarnada.
Nakada praticamente me joga pra dentro do banheiro, me fazendo automaticamente segurar em alguma superfície para que eu não caia no chão. Me agarro na beirada da pia e quando levanto meu olhar me deparo com nosso reflexo. Aquilo foi tão profundo e ardente quanto um tiro. E eu nunca levei um tiro.

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