Capítulo 15 - HYUNJIN POV (FLASHBACK)

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⚠️  Descrição de violência, suicídio, cadáver, sangue.


Passo quase todas as noites em claro aqui dentro, mas jamais me senti assim antes. A cama, que nunca foi confortável, hoje parece uma tábua de tortura, coberta de pedras afiadas que arranham minha pele a cada movimento. Viro de um lado para o outro, mas é inútil. A cada tentativa de encontrar um pouco de alívio, sou engolido por uma inquietação que não me deixa respirar.

Quando tento ficar parado, fecho os olhos na esperança de encontrar um pouco de silêncio, mas tudo o que surge na escuridão é o carro do meu pai. Uma imagem que pesa no meu coração: o veículo capotando, explodindo, sendo devorado pelas chamas. Posso quase sentir o calor do fogo, o cheiro de combustível queimando, e o grito mudo que nunca saiu da minha garganta.

E o Sam... a memória dele se mistura com o fogo, com as cinzas, me consumindo de dentro para fora. O peso do que aconteceu é insuportável. Tento afastar a imagem, mas ela volta, mais forte, mais real, como se estivesse acontecendo de novo, de novo, e de novo, bem diante dos meus olhos.

— Qual é, cara!? — Meu colega de cela resmunga.

— Foi mal... — Acho que me mexi tanto que deve ter balançado o beliche todo.

Tento ficar parado, tento dormir, mas não dá. Definitivamente não consigo. Esse lugar inteiro é um pesadelo, e ainda tem aqueles caras. Só de pensar que amanhã vou ter que enfrentar eles de novo... É tão exaustivo... Vai ser assim todos os dias? A ideia me aperta o peito e um nó pesado de ansiedade se forma na minha garganta.

Isso me faz pensar que...

Meu colega de cela e eu não temos uma grande diferença de idade, mas ninguém nunca o incomoda, como se o temessem. Ele nunca muda o uniforme, não importa qual seja o clima, ele está sempre com o uniforme de inverno, mangas compridas que cobrem todo o corpo. O que ele esconde debaixo dessas mangas? Esses dias, ouvi alguns caras chamando ele de Lee Know no refeitório. Ele é bonito, mais baixo que eu e está sempre sozinho. Qual o segredo dele? Por que ninguém mexe com ele? Esse lugar fede a suor e medo, mas ele parece imune a tudo isso. Como?

— Ainda tá acordado? — pergunto, com a voz um pouco trêmula, mas não tanto quanto no dia em que nos conhecemos. A luz fraca da lâmpada acima faz sombras se alongarem nas paredes da cela. Conversamos poucas vezes nesse meio tempo e, por algum motivo, não o acho mais tão assustador, só... estranho.

— Queria não estar.

— Aqueles caras... Por que... Por que ninguém mexe com você aqui?

— Eles são idiotas, não burros.

A resposta só aumenta minha curiosidade, mas também me causam calafrios. O que ele pode ter feito de tão grave para que todos tenham medo dele?

— Então é verdade o que dizem? — pergunto.

— Sobre o meu ex parceiro de cela? Não. — ele responde antes que eu possa dizer algo mais. — Eu não o matei. Ele fez aquilo sozinho. Bem ali, na janela.

Fiquei encarando a janelinha pequena próxima ao teto, com grades e uma tela protetora. Como alguém...? Meu peito aperta com a simples ideia. Só tem um jeito de fazer isso, mas é praticamente impossível amarrar um lençol ali. Os buracos da tela são tão pequenos que mal cabe um dedo.

— Foi bem irritante — Lee Know continua, sua voz fria como o concreto da cela. — Mas foi a primeira vez que o vi tão empenhado com algo. Ele passou horas ali, em cima do colchão todo dobrado para poder alcançar a janela. Precisou ficar na ponta dos pés e, mesmo assim, quase não alcançava. Com muito esforço, tentava abrir brechas entre a tela para passar o lençol, chorando enquanto seus dedos sangravam pela forma que os enfiava na tela estreita. O sangue escorria pelos seus braços até a ponta dos cotovelos e pingava no chão. Depois de muita luta, ele conseguiu passar o lençol atrás da grade, usando uma escova de dentes como gancho para puxar a ponta e amarrar o lençol em um nó de catau improvisado e muito mal feito, mas eficiente.

Samlixjin - Fast & FuriousOnde histórias criam vida. Descubra agora