Capítulo 11

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Mariana Rezende
Eu nunca fui uma pessoa muito religiosa. Mas depois do acidente dos meus pais, me apeguei mais à Deus. Estou falando isso porque nesse exato momento estou no ônibus, indo disputar a primeira final pelo meu time. E pra me concentrar, coloquei uma playlist gospel no Spotify.

Nesses momentos, cada pessoa tem seus próprios rituais. As meninas estão conversando super alto e animadas, com o celular conectado em uma caixinha de som. Eu, prefiro ficar na minha. Com meus fones, e minha música. Era meu momento.

O momento de me conectar, de focar e me preparar para dar meu melhor em quadra.

Quando entrei no ônibus, escutei a Gabriela falando alguma coisa sobre o Medina ter aparecido só no hotel só ver ela. Não coloquei muita fé, mas não duvidava nada dele.

Falando nele, até agora não mandei nenhuma mensagem. Sei que parece infantilidade da minha parte, mas eu realmente queria estar focada no dia. E sei que conversar com ele iria me distrair por completo.

Só de pensar nisso, fiquei ansiosa. Ansiosa porque eu não sabia se ele iria aparecer no jogo hoje. Não que eu quisesse né. Mas mesmo assim fiquei.

No bilhete, ele falou apenas sobre a festa. Então entendo eu que ele não estaria aqui. Mas ainda tinha uma pontinha de esperança, sabe?

E essa pontinha de esperança foi embora, quando o jogo começou e eu olhei pro Bruninho e ele deu de ombros, querendo me responder que ele não estaria lá.

Tirei esses pensamentos da minha cabeça e foquei 100% no jogo. Hoje a final era contra o time aqui de Maresias, o Sereias. As meninas são realmente muito boas, e não estava sendo fácil.

Era um ponto lá, outro cá. Jogo assim é duro, um tentando encontrar o erro do outro. Estava mais ou menos na metade do segundo set. Nosso time estava na frente. Tanto no placar geral, quando no do set. O saque era da equipe adversária, estávamos atentas na recepção da bola. A camisa 4 sacou na Monique, que prontamente recebeu, deixando a bola redondinha pra mim.

Consegui levantar em perfeita altura para a Gabriela finalizar, e ela finalizou. Mas a bola voltou pro outro lado. E o outro time conseguiu defender. A levantadora fez o trabalho dela, e eu olhava atentamente para a bola.

A última coisa que eu lembro, foi o riso e a cara de deboche que a atacante fez para mim. Depois disso, tudo ficou preto.

Acordei uns vinte minutos depois, imagino eu. Toda a equipe médica do meu time, e do time adversário estava ali. A atacante cortou a bola na minha cara, de propósito. A bola veio com muita força, o que fez minha cabeça bater com tudo no chão. Na hora eu desmaiei.

Assim que viram que eu acordei, começaram a fazer um trilhão de perguntas. Eu não estava entendendo nada muito bem. Só escutei alguém falando que eu teria que ir para o hospital e no mesmo momento meu corpo gelou.

- NÃO - gritei, chamando atenção de toda a roda que estava em volta de mim - Eu estou bem. E não vou para o hospital.

- Senhorita, é necessário. A pancada foi muito forte - um senhorzinho, imagino eu que era médico da outra equipe disse preocupado.

- Eu estou falando que não vou. Vou ficar aqui e assistir o fim do jogo. Inclusive, pode reiniciar, já estou bem. - levantei a cabeça do chão e senti uma tontura, mas tive que disfarçar.

Depois de uns dez minutos de discussão, resolveram voltar com a partida. Eu sentei no banco de reservas e coloquei uma bolsa de gelo na cabeça. Não estava com muita dor, era só um incômodo.

Eu odiava assistir a jogos no geral. Ainda mais quando era a minha equipe. Eu queria estar em quadra, não ali sem poder fazer nada. Tudo culpa daquela desgraçada do outro time. Sou uma pessoa muito da paz, mas essa filha da puta vai ter o que merece viu.

Já tinha roído todas as minhas unhas. O terceiro set estava mais ou menos na metade. Estávamos a praticamente 10 pontos do troféu. E cada ponto, era uma batida diferente do meu coração.

Até que chegou, o último. A Rafa cortou a bola levantada pela Milena. E ela deu bem na cara da menina que me tirou do jogo. Acabou. O São Sebastião ganhou o campeonato.

Não liguei para os médicos brigando comigo, eu simplesmente saí correndo, chorando, e abracei as minhas amigas. Finalmente a gente tinha conseguido.

A festa no ginásio não era tão grande. Afinal, a outra equipe era o time da casa, era de se esperar que a maior parte da torcida fosse para elas né. Mas para mim nada disso importava. Eu realizei meu maior sonho, e estava muito satisfeita com isso.

     Depois de todo o chororô e preocupação com a minha cabeça, começaram a arrumar a quadra para a cerimônia de premiação. Fiquei de lado conversando com a Rafa e a Monique e senti uma mão no meu ombro.

     - Parabéns Mari. Assisti todo os jogos e realmente vocês mereciam sair com o troféu - era o Bruninho que dizia isso enquanto me abraçava.

     - Obrigada Bru, é muito importante pra mim ter você aqui - correspondi o abraço e soltei um sorriso.

     - Sei que o Gabriel te chamou pra festa dele, te vejo mais tarde?

     - É, eu não sei... Mas talvez! - sorri tímida porque eu sabia que ele que tinha passado o endereço do hotel pro Gabriel.

     - Bom, se quiser uma carona, me liga. E melhoras pela pancada Mari - ele falou se despedindo das meninas também

     - Mari, tem alguém querendo te ver - dessa vez era a voz do meu treinador que me chamava, e eu virei pra ele sem entender, até porque não estava esperando ninguém - Desce lá no vestiário. Mas coisa de cinco minutos em.

     Concordei com a cabeça e fui correndo, morrendo de curiosidade até o vestiário. Abri a porta e ele estava lá. Todo de preto, com um boné pra trás e uma correntinha prata pendurada no pescoço. De tirar o fôlego.

    - Pensei que você não fosse vir hoje - ele tomou um susto a hora que falei, já que estava distraído no celular.

     - E perder a oportunidade de ver a melhor jogadora em quadra? - ele guardou o celular no bolso da bermuda e sorriu - Não sou louco assim.

     - Ah bem que eu ouvi mesmo a Gabi falando que você iria ver ela hoje - nem terminei de falar e ele deu uma risada debochada, o que me fez rir também.

     - Tá melhor da cabeça?  - ele falou e chegou mais perto - Me deixou preocupado, camisa 7.

     - Estou sim, foi só o susto - comecei a ficar nervosa pois estávamos cada vez mais próximos.

     - E eu vou ter sua ilustre presença na minha festa hoje? - meu coração parou a hora que ele pegou na minha mão.

     - É não sei - soltei a mão dele tentando disfarçar o nervosismo - Consegue adicionar mais dois nomes na lista? - fiz uma carinha de pidona e ele sorriu.

     - Claro, me manda os nomes. Tenho que ir, jogadora. Te vejo mais tarde - ele piscou pra mim e andou até a porta. - O dress code é branco viu - ele falou e saiu andando do vestiário.

     Ele me avisa faltando sei lá, duas horas para a festa. Onde eu vou achar uma roupa branca essa hora? As meninas vão surtar.

Notas da autora
Me atrasei um pouquinho, eu sei. Peço perdão. Mas está ai um capítulo novinho para vocês.
Aos poucos as interações do nosso casal vão aumentando. Vão acontecer mais momentos dos dois juntos. Tenham paciência.
Me contem aqui nos comentários se estão gostando.
Até a próxima
Beijinhos 🫶🏻

Filhos do Mar || Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora