5 - Espadas, sangue e gritos

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Cerca de três semanas se passaram desde o dia do sorteio do torneio. Yonie se encontrava completamente desolado, o clima no chalé estava simplesmente horrível. Enquanto isso, já se mal via Serena. Ao que se sabe, ela estava completamente centrada no seu plano para vencer Nina no torneio, cuja batalha já seria no dia seguinte. E eu? Bem, eu me mantive treinando. Johan e eu estávamos descansando do treino, eu estava vendo meu corpo sem camisa e eu não vou descrever como ele estava por auto preservação, mas tudo tem seu lado positivo! Ele saiu de graveto para graveto um pouquinho malhado, evolução que fala?

Após mais um tempo de descanso eu passei a desenhar o ambiente ao meu redor. Deste modo, fiquei até um bom tempo desenhando, pelo fato de Johan estar diante de mim eu tive que passar pelo processo de desenhar meu instrutor de éter. Eu tive que me atentar aos detalhes do corpo dele, e se posso dizer, ele era bem mais bonito do que eu. Tinha um corpo como aqueles deuses gregos, era sarado, e tinha duas cicatrizes embaixo do peito como se fossem dois cortes.

— Quem fez isso em você, Johan?
—  O cirurgião?
—  Ah...

Fingi entender, mas na verdade, não entendi absolutamente nada. Passei mais um tempo até terminar de desenhar, e quando terminei, mostrei para Johan. Ele ficou bem surpreso e me deu um sorriso, se aproximando para ver melhor.

—  Isso ficou muito bonito, Adrian! Não sei se elogio ou se eu agradeço!
—  Que tal os dois? - Brinquei.
— Engraçadinho. Certo, está muito bonito, e obrigado por me desenhar de forma embelezada.
—  Ué? Mas eu te desenhei como te enxergo.
— . . . Isso é algo bem gentil de dizer, Adrian, de verdade.
— Você não se acha assim?
— Não, eu sempre fui... Bem, um garoto indesejado, sabe?

Eu me senti um pouco no lugar dele quando Johan falou sobre isso, afinal, eu também era um garoto indesejado por aqueles ao meu redor. Eu assenti em concordância, acho que ele entendeu isso como um sinal para continuar desabafando caso quisesse, o que, realmente era.

—  Ser uma criança anormal, sabe? Eu não me identifiquei muito bem no sexo em que nasci...
— Como assim?
—  Eu nasci como mulher, mas me compreendo como homem, eu sou trans.
—  Ah, tá.

Eu sei que pode soar estranho, mas é que pra mim, isso era algo tão simples, sabe? Não que todo o processo de se assumir seja simples, mas eu creio que todos podem ser o que bem entendem. Isso significa que, o fato de Johan ser trans é completamente normal.


—  Que?
— Ué, tá tudo bem, Johan.
—  É que... As pessoas normalmente ficam surpresas, ou irritadas.
—  Você é meu instrutor de éter, calistenia, e meu amigo. Seu gênero é apenas seu, tanto faz o que os outros pensam.
—  Você realmente pensa assim?
—  Sim, penso! Eu to falando sério, e fico feliz que você queira se assumir pra mim!
—  Isso é muito importante pra mim, Adrian, tiveram pessoas que não aceitaram muito bem.
—  Bem, então isso é problema delas.
—  ... Você tá certo. Obrigado, de verdade.

Eu fiquei tão surpreso quanto Johan, nunca pensei que seria capaz de ajudar alguém, por incrível que pareça. Bem, talvez isso tenha sido um evento raro e que nunca mais vá se repetir. Eu consigo ajudar os outros mas não me ajudar, seria cômico se não fosse patético. De qualquer modo, Johan depois de me dar um abraço bem apertado mandou que voltássemos ao treinamento. Eu fiquei completamente acabado, lascado, quebrado, mas acho que fiquei um pouquinho mais forte. Johan também me deu uma pequena ideia de luta corpo a corpo, me ensinou como se realmente dá um soco e como se defende. Pelo resto do dia fiquei descansando e praticando meditação para estar focado amanhã. Desde que a luta foi anunciada, Zero se recusou a continuar me ensinando esgrima e passou o papel para Nina. Ela e eu não tínhamos nenhum progresso no descobrimento da descoberta da minha raça, mas controlei ainda mais meus atributos físicos e pude focalizar pontos onde quero reforçar minha regeneração, que acho que, seria minha maior chance. E se querem saber, eu tinha SIM uma estratégia para lutar com Zero, tá bem? Tentar sobreviver até ele cansar de me bater, soa um plano muito bom. De qualquer modo, ao final do dia eu estava novamente na casa de Yonie e Maya.

O clima era no mínimo horrível. Ambos ficavam sem se falar e a medida que a luta de ambos se aproximava, dava a parecer ainda mais que o problema não iria se resolver tão cedo. Eu e Yonie estávamos jantando uma sopa de legumes, e Maya, fora até tarde. Eu passei a falar com os dois, talvez por falta de alguém para conversar em casa, mas nunca toquei no assunto: Os problemas familiares que você tem com seu irmão/irmã! Yonie também estava mais quieto, sozinho, e menos conversativo. Entendam que eu sou uma pessoa que ODEIA conversar por muito tempo, mas eu já estava tão preocupado com ele que saí da minha zona de conforto pelo meu amigo. Aliás, saiam da zona de conforto pelos seus amigos, eles ficarão felizes. Já joguei jogos de luta, jogos de esportes, conversei sobre interesses românticos e coisas que me atrai nas pessoas. Aliás, o Yonie... Bem...

—  O meu tipo de pessoas são aquelas porra louca, que gostam de brigar, personalidade forte. Gosto de pessoas inteligentes também.
—  Ahh.. Bem... Eu...
— E você, Adrian?
—  Porta.
—  ...
— ...

Adrian Giggs e o apóstolo de JadeOnde histórias criam vida. Descubra agora