capítulo 2

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Desvendando o Passado

Penelope encarava Kian, tentando entender as intenções por trás de suas palavras. A vulnerabilidade em sua voz a deixava confusa, e a tensão entre os dois parecia mais densa do que nunca. O tempo parecia desacelerar, e por um instante, Penelope quase sentiu como se estivessem presos em uma bolha onde nada mais existia além deles.

- Não é sobre ódio, Kian - disse ela, finalmente, com a voz firme, mas não ríspida. - Nunca foi só isso.

Kian arqueou uma sobrancelha, parecendo mais curioso do que defensivo. Ele inclinou a cabeça levemente, como se quisesse ouvir mais, entender mais.

- Então, o que foi? O que é? - Ele deu um passo à frente, invadindo o espaço pessoal de Penelope, mas sem ser ameaçador. Havia uma busca genuína em seus olhos, uma necessidade de respostas.

Penelope respirou fundo, sentindo o ar pesado daquela pequena cidade preencher seus pulmões. Era o mesmo ar que ela conhecia desde criança, mas que agora parecia carregar uma carga emocional ainda mais intensa. Ela não estava pronta para um confronto tão profundo, não naquele momento. Havia coisas que nem ela mesma havia compreendido completamente. Mas, ao mesmo tempo, algo em Kian a desafiava a ser honesta, a confrontar o passado de uma vez por todas.

- Você sempre foi... complicado, Kian - começou ela, escolhendo suas palavras com cuidado. - Desde crianças, você estava sempre lá, me desafiando, me irritando, me empurrando para longe da zona de conforto. Mas nunca entendi o porquê. E, por algum motivo, você parecia gostar disso. Eu só queria... paz. E você estava sempre tirando isso de mim.

Kian cruzou os braços e desviou o olhar por um segundo, como se estivesse processando tudo o que ela dizia. Quando seus olhos voltaram a encontrar os de Penelope, havia algo mais suave neles, algo que ela nunca tinha visto antes.

- Eu não sabia como lidar com você - admitiu ele, baixando um pouco a guarda. - Você sempre foi tão... diferente. Determinada, forte, destemida. Eu não sabia como me aproximar de você, então fazia o que sabia fazer: provocava. Era a única forma que eu tinha de chamar sua atenção.

Penelope sentiu um leve calor em seu peito ao ouvir aquelas palavras. Nunca havia pensado em Kian dessa maneira, como alguém que também estava lutando com suas próprias inseguranças. Na infância, ele sempre pareceu tão seguro de si, tão confiante. Mas agora, diante dela, ele parecia mais humano, mais acessível.

- E por que precisava chamar minha atenção? - perguntou ela, com um toque de curiosidade.

Kian hesitou, e Penelope percebeu que ele estava escolhendo suas palavras com o mesmo cuidado que ela.

- Acho que, no fundo, sempre quis ser notado por você, Penelope. Mas não sabia como fazer isso de maneira correta. Eu via você indo atrás dos seus sonhos, enquanto eu ficava aqui, preso na mesmice. E isso me deixava... com raiva. Não de você, mas de mim mesmo.

Penelope ficou em silêncio, absorvendo aquela confissão. Era uma perspectiva que ela nunca tinha considerado antes. Talvez eles não fossem tão diferentes assim. Ambos carregavam inseguranças, ambos sentiam que estavam sendo deixados para trás de alguma forma. Mas enquanto Penelope havia fugido para encontrar seu lugar no mundo, Kian havia permanecido, lidando com seus próprios fantasmas.

- Eu não sabia disso - murmurou ela, com sinceridade. - Talvez as coisas tivessem sido diferentes se a gente tivesse conversado antes. Se não tivéssemos guardado tanto ressentimento.

Kian deu um meio sorriso, aquele sorriso torto que sempre a irritou, mas que agora parecia carregado de uma certa tristeza.

- Talvez - concordou ele, olhando para o chão por um momento, antes de erguer os olhos novamente. - Mas o passado é o que é. E agora estamos aqui, e não podemos mudar o que já aconteceu. Só podemos decidir o que fazer a partir de agora.

Eᥒtrᥱ ᥆ ᥆́dι᥆ ᥱ ᥆ ᥲ꧑᥆rOnde histórias criam vida. Descubra agora