Frustração

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Pov Rebeca

O ginásio estava quase vazio, as luzes fortes iluminavam cada canto. Eu terminava minha última rotina do dia, os músculos pesados e exaustos. A carga dos treinos não era nada comparada à sensação de saudade que me dominava. Simone estava distante, não só fisicamente, mas emocionalmente. O peso da saudade parecia me derrubar mais do que qualquer exercício físico.

Pousei no chão com um salto final, errando um pouco na aterrissagem. Soltei um suspiro frustrado, levando as mãos aos joelhos. Meus movimentos estavam desajeitados, e eu sabia que o motivo não era só o cansaço físico. A distância entre mim e Simone estava criando uma lacuna dolorosa. Fazia seis meses que ela havia voltado para Houston, e no início, nossa comunicação era constante. Mas agora, as coisas haviam mudado drasticamente. Simone não atendia mais minhas ligações noturnas, aquelas que havíamos transformado em um ritual sagrado. Minhas mensagens ficavam sem resposta, e quando ela respondia, era sempre de forma breve e fria.

Sentei-me no banco ao lado da quadra, enxugando o suor do rosto com uma toalha. A sensação de vazio em meu peito parecia mais intensa do que qualquer dor física que eu já tivesse sentido. Eu não sabia o que fazer para fechar essa distância crescente. O medo e a incerteza estavam me consumindo, e eu sentia como se estivesse tentando alcançar algo que estava sempre um passo à frente.

— Ei, Beca, tá tudo bem? — A voz suave de Flávia me tirou dos meus pensamentos.

Levantei o olhar para ela, tentando esboçar um sorriso, mas o esforço era em vão. Flávia sempre soubera quando algo estava errado, e hoje não era diferente.

— Não, não tá, Flavinha — minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria.

Flávia se aproximou e se sentou ao meu lado no banco, o olhar dela repleto de preocupação. Ela sempre tinha a habilidade de saber quando eu precisava de alguém para desabafar.

— Quer falar sobre isso? — perguntou, com aquele tom que apenas uma amiga verdadeira poderia ter.

Eu hesitei por um momento, mas sabia que precisava falar. Flávia sempre esteve ao meu lado, nas vitórias e derrotas, e hoje era um daqueles dias em que eu precisava de sua força.

— É sobre a Simone — comecei, sentindo a voz embargar. — Faz seis meses que ela voltou pra Houston, e no início, a gente conversava o tempo todo. Mas agora... agora, parece que tudo mudou. Ela não atende mais minhas ligações, e quando responde às minhas mensagens, é sempre tão fria, tão distante. Eu sinto que ela tá se afastando, e eu não sei o que fiz de errado.

Flávia permaneceu em silêncio por um momento, permitindo que eu colocasse meus sentimentos para fora. Ela sempre sabia o que dizer para me acalmar, e sua presença era um alívio em meio à confusão emocional.

— Isso deve estar sendo muito difícil pra você — disse ela finalmente. — Eu sei o quanto você ama ela, e a distância não ajuda. Mas você já tentou falar com ela de verdade? Não só mandar mensagem, mas conversar sobre o que está acontecendo entre vocês?

Balancei a cabeça, sentindo as lágrimas começarem a se formar.

— Eu tentei, mas ela se esquiva — admiti. — Diz que tá ocupada, que é só o cansaço. Mas, Flavinha, eu sinto que é mais do que isso. Sinto que ela tá se afastando de propósito, e isso dói tanto.

Flávia colocou uma mão no meu ombro, um gesto que sempre me trouxe conforto. Eu sentia uma leveza ao ter alguém para compartilhar meu sofrimento.

— Às vezes, a gente acaba se afastando das pessoas que mais amamos quando estamos passando por algo difícil — disse Flávia, com cuidado. — Pode ser que Simone esteja lidando com algo que ela ainda não sabe como te contar. Talvez ela esteja com medo de te sobrecarregar ou de não saber como explicar o que tá acontecendo.

Entre Medidas e Sofrimentos- Rebeca Andrade e Simone Biles Onde histórias criam vida. Descubra agora