Capítulo 36 - Parte II

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— Eles estão...incríveis. — Por mais chocante que pareça, quem tinha dito tais palavras fora Ramom, que mesmo não sendo de elogiar pessoas, por "orgulho próprio", não se conteve. Seus olhos estavam vidrados em toda a familia real, que chamavam atenção como vaga-lumes em meio a escuridão.

Não podia julga-lo. Não mesmo. Eu também estava manipulada por aquela paisagem. Edrian era como uma visão etérea, com uma beleza sobrenatural. Seus cabelos brancos caiam em cascata, um pouco abaixo da cintura, finos como seda e brilhando a luz dos lustres. Seus olhos, de um azul tão claro que quase podiam ser confundidos com o branco, com pupilas levemente triangulares, irradiavam uma serenidade inabalável. Pensei se era mesmo aquela fada que havia estado tão perto de uma armadilha mortal. Sua pele estava alva como a neve e sem mácula, como a porcelana mais delicada e limpa. Nenhum machucado, otimo.

Ele estava vestido como um verdadeiro príncipe feerico. Uma tunica longa de seda azul clara envolvia seu corpo com perfeição. O tecido era delicado e fino, quase transparente em alguns lugares, mas ornamentado com intricados bordados prateados, que formavam padrões sinuosos de flores e folhas, entre eles o famoso trevo de cinco folhas. O símbolo se repetia em detalhes sutis ao longo das bordas de sua túnica e na lapela de seu manto.

Sobre seus ombros havia um manto também azul claro, preso por um broche de prata. Ele era longo e fluido, esvoaçando levemente por detrás dele, enquanto caminhava. Seus sapatos, também prateados, eram feitos de um material cheio de luz, refletindo os arredores com delicadeza. O príncipe também usava luvas brancas que se estendiam até o meio do antebraço, adicionando um toque final a sua aparência refinada e majestosa.

Enquanto descia a escada e o tapete, Edrian era a personificação da graça. Ele se movia com a leveza de uma brisa, cada passo parecendo cuidadosamente orquestrado, como se dançasse no ritmo de uma melodia. Ao seu lado seus irmãos e irmãs, igualmente belos e impecáveis, desciam com a mesma elegância, formando um cortejo impressionante. Sua mãe, a rainha Taliena, liderava o grupo, com uma presença poderosa, mas gentil. Seu vestido dourado e aberto era muito longo e volumoso, o que me deixava muito tensa, ao considerar os finos saltos de cristal que a soberana mulher calçava. Só mesmo uma fada para tamanho equilíbrio em cima de um objeto tão fino, com uma peça de roupa tão pesada e extensa como aquele vestido.

Nada parecia real o bastante para mim, principalmente ao imaginar que eu e meu grupo estavamos entre os poucos humanos que puderam se relacionar com aquelas criaturas fascinantes.

Edrian estava mantendo sua postura altiva, mas havia uma suavidade em seu olhos, enquanto procurava dentre tantas pessoas por alguma coisa. Me senti ansiosa, até que nossos olhares se encontraram e então eu pensei esperançosamente na possibilidade de seu coração ter começado a bater tão rápido quanto o meu tinha. Sua expressão era de paz, mas a magia o circulava, de maneira discreta, demonstrando uma onda de fortes sentimentos que talvez a fada estivesse guardando. Afinal, nunca tinha visto ele não manter o controle sobre ela, todas as vezes em que conversamos.

— Meu amados...— Taliena começa com um tom suave, mas firme. —...hoje nos reunimos para celebrar a presença daqueles que vieram de longe, que se tornaram mais do que visitantes em nossa terra. Eles se tornaram amigos, aliados, e, acima de tudo, parte de nossas vidas. Em nome de todos nós, agradeço profundamente aos humanos que, por este último mês, compartilharam de nosso mundo, e que hoje se preparam para retornar ao seu. — Ela fez uma pausa, permitindo que suas palavras ressoassem em todo o salão. — Nós sabemos que a escuridão tentou lançar suas sombras sobre nós. Os acontecimentos recentes que feriram meu querido filho Edrian e nosso sábio Erdem, e a terrível perda de Meggie, que nos trouxe uma dor que não pode ser medida...— A rainha nos lançou um olhar solidário e eu me surpreendi em como ela falou da menina com verdadeiro pesar, como se a conhecesse muito bem. —...são lembranças de que nem mesmo o mais belo dos mundos está livre de tristeza. — Apesar do olhar deprimido, sua postura continuou digna. — Porém, mesmo diante de tal escuridão, nós escolhemos a luz.  Escolhemos honrar aqueles que se foram, celebrando o amor, a amizade, e a beleza que ainda floresce em nossos corações. Este baile é uma despedida, sim, mas também é uma promessa de que, independentemente das distâncias que nos separam, as conexões que formamos permanecerão. Elas são eternas, assim como os trevos que nos receberam neste território, quando buscamos abrigo. — Ela parou de falar, dando espaço para que Hollen desse alguns passos para frente e se pronunciasse.

O Beijo Da Fada (CONCLUÍDO).Onde histórias criam vida. Descubra agora