Capítulo 41

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O sol filtrava-se pelos galhos altos das arvores, projetando uma luz suave que dançava no chão da floresta. Cada raio de luz parecia mais dourado e caloroso do que eu me lembrava, refletindo nas folhas prateadas das arvores que cercavam onde estávamos. Havia uma serenidade naquele lugar, algo que não sentia há muito tempo, como se o mundo tivesse se aquietado apenas para nós. Era uma clareira escondida, um refugio em meio a vastidão da floresta. Edrian havia espalhado pelo chão flores azuis e cintilantes, as pétalas ondulavam com a brisa suave que trazia o doce perfume da terra e das plantas. 

Sentei-me sobre a relva macia, colocando a cesta ao meu lado. Dentro dela se encontravam mornagos, os frutos que eu mais amava. Seus tons vermelhos contrastavam com o azul ao nosso redor, e só o cheiro deles já me trazia memorias dos dias em que eu e Edrian nos encontrávamos secretamente. Ele estava ao meu lado, e a mera proximidade dele fazia meu coração acelerar. Desde que voltamos a nos encontrar, o anel do meu dedo, aquele que ele me deu para simbolizar nossa união, parou de pesar. Agora, aberto, o pequeno trevo de cinco folhas brilhava com um suave tom dourado, como se celebrasse o fato de que estávamos juntos. 

— Você lembra desse lugar? — Perguntei, observando Edrian olhar para a clareira, contemplativo.  Suas asas estavam ausentes, uma cicatriz do que havíamos passado. Mas sua beleza continuava a me surpreender a cada dia. Suas cores tinham ganhado um tom vivo, como seus irmãos. Seu cabelo estava preso por tranças pequenas nas laterais, com fitas azuis entre as mechas. Foi uma obra minha, não resisti quando escovei aquele cabelo, a pedido seu. 

— Como poderia esquecer? — Meu peito aqueceu com a ternura em sua voz e seu sorriso. — Foi aqui que você me disse que preferia os mornagos a qualquer outra fruta do mundo. Foi aqui também que revelou que compartilhava dos meus sentimentos por você. 

Uma corrente elétrica correu pela minha pele, quando seu olhar pousou no meu. Me aproximei, permitindo que minha mão roçasse levemente a dele, um toque intencional, mas sutil. 

— Você era tão tímido naquela época. — Provoquei, levando um dos mornagos a boca, sentindo meus lábios manchados pelo suco doce. 

— E você contina tenua tão encantadora quanto sempre foi. —Ele inclinou a cabeça para o lado, os olhos demonstrando sua fascinação. Era fofo pensar que sua ingenuidade o fazia agir de maneira completamente curiosa, as vezes. Se fosse um homem humano ali, provavelmente já teria atacado meus lábios. 

Eu ri ao observar sua reação, enquanto o vento soprava as folhas das arvores. Nos encontrávamos na mesma floresta que costumávamos ficar quando jovens. Passamos o dia inteiro passeando por ela, relembrando memorias preciosas. Rachel havia comprido a promessa, e logo Edrian teve permissão para entrar em Deworend de novo. 

Me aproximei mais, deitando minha cabeça em seu ombro e sentindo o calor de seu corpo ao meu lado. Deixei minha mão passear pelos seus cabelos sedosos, enquanto acariciava com a outra mão livre seu braço.

— Talvez eu tenha mudado, um pouco. Agora não fico mais fugindo para me encontrar com um príncipe fada. 

— E eu não preciso mais pular os treinos de Erdem e Hollen. 

Senti uma sutil tensão em seu corpo, quando me ergui para beijar sua bochecha. O jeito como ele prendeu a respiração por um breve momento. Fadas eram puras, sempre cuidadosas, sempre tão...ingênuas. Mas havia algo em mim, uma chama que apenas Edrian podia acender, e que apenas ele conseguiria apagar. 

— Sana...— Seus olhos azuis me prenderam, sua voz saiu como um sussurro hesitante, mas cheia de desejo. 

— Agora, não vou mais fugir. — Eu sorri, beijando sua têmpora suavemente, antes de sussurrar em seu ouvido. 

O Beijo Da Fada (CONCLUÍDO).Onde histórias criam vida. Descubra agora