Capítulo 17

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Sana.

— Aqui. — Eu disse, levantando um garfo de prata, que segurava alguns legumes azulados. Pelo menos, era o que me parecia.

— Obrigado, Sana. — O príncipe não tirava os olhos azuis de mim, que estavam com um brilho a mais, dando-lhe uma impressão de mais vida. 

Os lábios vermelhos se abriram levemente, aceitando os legumes com uma delicadeza quase que surreal. Tomei muito cuidado ao retirar o material de entre seus lábios, tentando manter a prata distante de sua pele, para não incomoda-lo. Não tinha desejo de queimar sua boca, mesmo que sem querer. Seus lábios parecem tão frágeis. Penso que apenas o toque de meus dedos possa fazer estragos, não desejo nem imaginar o que a prata causaria. Meus pensamentos não conseguiam se afastar, voltados para apreciar a beleza mágica de Edrian. Em compensação, fui igualmente admirada, sentindo a carícia do olhar da fada, percorrendo meu rosto.

— Espero que esteja fazendo certo. — Murmurei, com vergonha de estar parecendo uma péssima ajudante. Já era a segunda colherada e eu quase não o senti pegar a comida antes, na verdade, nem mesmo percebera que o garfo estava vazio. — Gostaria de ser tão suave como vossa alteza.

— Suave? — Seus olhos continham duvida genuína.

—  Seus lábios encostam nos talheres como se estivesse beijando uma flor. — Se fosse uma situação normal, eu não diria aquelas coisas, mas seus olhos e o silencio do quarto, me hipnotizaram. 

— Não precisamos ser agressivos com materiais ou objetos, eles não me fizeram mal algum.

Por um momento lembrei de quando pude ver o príncipe, Erik Dellanova, em uma crise de raiva graças as exigências de seu pai. Eu pensava que o homem não desejava nem um pouco se tornar rei. Em uma de suas crises, os alvos de seus socos e chutes eram os objetos ao redor, dentro de seu quarto. Ao mesmo tempo, me perguntei quem havia feito o rasgo no quadro onde a mulher com fios dourados se encontrava. Eu havia julgado errado ao pensar que Edrian poderia ser violento?

— E o que vossa alteza faz quando está com raiva?  — Perguntei, o vendo engolir o alimento em sua boca. 

— Caminho. — A resposta me deixou intrigada, pois ele não parecia gostar de sair. — Passeio pelos jardins do castelo. — Rapidamente, como se soubesse o que eu estava pensando, Edrian explicou. — Vocês não poderiam entender, humanos não passam pela doença que me afeta. Mas...minha aversão está ligada a presença das pessoas e não a sair do meu quarto. 

— Oh, alteza, não precisa... — Eu ia dizer que ele não precisava me falar da doença que o atormentava, se aquilo o deixava desconfortável, mas fui interrompida. 

— Minha irmã Diana, se não meus outros irmãos, já devem ter os comunicado sobre o meu estado. Não há porque esconder de ti. — O toque de seus dedos era, de algum modo, muito bom e gentil. Ele pegou em meus pulsos e me direcionou para a bandeja, insinuando para eu deixar o prato e os talheres. — Sente-se ao meu lado, por favor. — Seu pedido mexeu em meu coração, e só isso mesmo para me convencer a aceitar. 

Eu me levantei da cadeira de madeira branca, que havia pego para me sentar a sua frente e me impulsionei para cima da cama do príncipe. A altura do colchão era diferente de uma cama normal, até mesmo da cama do quarto de hospedes em que me mantinham. Assim que coloquei as mãos para trás, senti os edredons de uma maciez impressionante e um cheiro ainda melhor. 

— Se Rachel me visse agora...— Murmurei para mim mesma, ajeitando minha posição. 

— Obrigado. — Edrian agradeceu, porém, senti que não se referia a minha atitude de sentar ao seu lado. Sua respiração está tão calma agora. Pensei, me dando conta de que a fada sempre parecia estar com a respiração acelerada, mesmo com toda sua calma e paciência. Pensar que foi por minha causa, me pareceu muito egocêntrico, então apenas decidi continuar a conversar. 

O Beijo Da Fada (CONCLUÍDO).Onde histórias criam vida. Descubra agora