Capítulo 35

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Edrian.

Ela estava linda. Sana parecia uma flor que acabara de desabrochar no dia de verão, enquanto os raios alimentavam sua energia e resplandeciam sobre seu rosto. Eu a amava. Tinha certeza dos meus sentimentos antes e depois de reencontra-la ainda mais. Doeu muito mais do que todos aqueles anos de tortura, saber que ela não se lembrava de mim. Mas quando toquei em sua pele, para cura-la dos ferimentos terríveis que o Londors a causou, pude ver suas memorias mais profundas. Minha Sanay havia sido atacada, manipulada, por alguém.

Qualquer pessoa procuraria quem machucou sua amada. Não fiz isso. Até porque, magias para memorias só são feita com o consentimento de outra pessoa e em casos piores, com sacrifícios. Sana havia escolhido ter as memorias apagas, ou aceitado. Não poderia prejudicar quem fez aquilo com ela, seria injusto. Também não podia interroga-la ou pressiona-la a me contar o porque tomou aquela decisão. Se quisesse descobrir, teria de tomar cuidado com minhas ações e persuadi-la, até que confiasse em mim e me contasse por livre e espontânea vontade.

Depois de me trancar alguns dias em meu quarto, após ser rejeitado novamente por ela, minha mãe me visitou. Ela não costumava invadir o meu espaço, pois sabia quais sensações angustiantes cercavam aqueles que pareciam com a doença do laço. E graças a isso, nos tornamos mais distantes, mesmo estando tão perto um do outro. Ainda assim, ela foi até mim, quando precisei e me trouxe esperanças.

O plano era único. Fazer Sana se apaixonar novamente por mim. Mas o tempo não era um aliado. Nós fadas, sem a natureza sedutora de um ser humano, levávamos meses para terminar um cortejo adequado e nos declararmos. No passado, quando conheci Sana, precisei criar muita coragem para me declarar primeiro, antes de corteja-la. Tive medo de que a perdesse e decidi deixar claro minhas intenções com ela. Mas naquela situação, com o reencontro tenso que ambos tivemos, ser direto não parecia a melhor escolha. Ela poderia decidir ficar longe de mim, para manter o armistício entre as raças. Era do feitio dela tomar as responsabilidades do grupo e levar tudo a sério. A menina sempre foi assim.

Minha Sanay não costuma abandonar seus ideais por qualquer coisa. Pensei, ao tentar novamente me consolar e imaginei que sua decisão de esquecer-se de mim tinha um bom motivo. Sua franja continua com pontas mais longas nas laterais do rosto.

Enquanto ela dançava, tentando acompanhar os passos graciosos das sapatilhas azuis de Rosetta, minha mente se focava em seus mínimos detalhes. Eu me sentia como um admirador secreto, escondido entre as cortinas para que pudesse apreciar melhor aquela bela pintura. O autor com certeza havia usado todo seu arsenal de beleza para pinta-la.

Meu coração seguia seus passos rudes e desastrados. Sentia que ele saltaria para fora do meu peito e dançaria até ela, convidando-a para uma música singela e que nos levaria de volta para a floresta da qual nos encontrávamos quando mais jovens. Vê-la se desequilibrar e pisar nos pés de sua amiga loira era engraçado também. Me lembrava de quando tentei, por vezes, convence-la a aceitar meus convites para os bailes de verão de meu reino. Claro que meus convites sempre omitiram minha real natureza. Não podia mentir para Sana, mas omitir me impedia de assusta-la com a verdade.

Me senti trêmulo ao vê-la errar um passo e quase encostar no chão, mas me detive de me intrometer em suas aulas de dança. Também sabia que Sana não gostava de se sentir fraca. Ela superava tudo e todos, com esforço e inteligência, de pouco em pouco. Eu a amava. Demais. A escolhi porque vi quão forte, gentil e bela era. Mesmo que não admitisse tais qualidades, seu defeito. Sana imaginava que ser cavaleira era seu único propósito, como uma armadura, uma resposta para suas dores. Gentileza e beleza, eram pontos de fraqueza.

Sua mãe talvez fosse a culpada, mas também sentia ter parte nisso. Queria poder ser o suficiente para deixá-la longe de tais pensamentos, ser o bastante para fazê-la se sentir protegida. Não queria que Sana buscasse estar sempre em guerra consigo mesma, sempre tentando se superar, lutando por um futuro completamente seguro, uma vida em que não dependesse de ninguém. Se eu tivesse sido mais forte, talvez mais persistente ou sincero, talvez, só talvez estivéssemos em uma situação diferente.

O Beijo Da Fada (CONCLUÍDO).Onde histórias criam vida. Descubra agora