Capítulo 31

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Na volta do piquenique, todos estavam um pouco acanhados e minha amiga parecia levemente irritado com Erdem, talvez por sua pergunta invasiva. Já o azulado, mesmo que eu quisesse ficar com raiva, estava com uma expressão muito triste e visível. Era chocante como eles demonstravam mesmo o que estavam sentindo. Seus lábios estavam cabisbaixos e até suas orelhas, o que me lembrava de um cachorrinho magoado. 

Eu carregava a cesta em minha mão, contento os resquícios de frutas cristalizadas, enquanto observava pelo canto dos olhos um príncipe muito belo, porém quieto demais, desde a minha resposta. Queria poder ler seus pensamentos, Edrian. Sinto que fiz algo errado. 

— Chegamos! Obrigado por esse passeio incrível!  — Luara se virou para encarar ambas as fadas, forçando um sorriso simpatico. 

— Eu me diverti bastante.  — Me pronunciei, sem perder tempo, esperando conseguir arrancar alguma palavra de Edrian. — Vossa alteza conhece o seu reino como a palma da mão. As belezas daqui são únicas. 

— Obrigado...— Ele se virou para mim, mas o brilho que antes seu olhar continha, havia sumido. Aquela sensação foi horrível, como se do nado o ar fosse toxico para mim. Meu coração apertou.  —...cavaleira Sana. 

A minha vontade era de gritar para que ele voltasse a me chamar de Sanay, ou somente Sana, qualquer coisa que me mostrasse nossa intimidade, seus sentimentos. Mas me chamar daquele modo, parecia frio, distante, uma obrigação como príncipe daquelas terras. Edrian não era a rainha Taliena ou Erdem, que me tratavam como a humana forasteira, não, ele era muito mais.

 — Edrian...— Tentei chamar por ele, mas seu corpo já estava adentrando os portões, sem olhar para trás. Enquanto Erdem me lançava um olhar de desculpas e seguia seu príncipe para dentro. —...merda. 

— Epa! Olha o palavreado! — Luara me deu um leve empurrãozinho no ombro, em uma tentativa falha de me alegrar. 

— Desculpe.

— Sem problemas! Eu te entendo, amiga. — Luara colocou o braço sobre os meus ombros, me apertando com uma leve força. — Então...

Quando percebi o que aconteceria, me desvencilhei de seu abraço e tentei andar o mais rápido possível para dentro do castelo. Porém, não fui rápida o bastante e os dedinhos ágeis da menina me agarraram. 

 — Nada disso! Pode voltar aqui, fadinha selvagem! 

— Eu sabia que estava esperando eles irem embora. — Murmurei ao entender a estratégia da loira. 

— Tinha que aproveitar sua presença. Quase não te vi depois daquele dia com o Forger.

— Se eu disser que não quero falar sobre isso, vai me deixar em paz?

— Por hoje sim, amanhã voltarei. — A menina deu um sorriso de criança arteira e piscou rapidamente os olhinhos. — Ah, vamos lá! Somos amigas! Contamos tudo um para a outra.

— Forger me mostrou uma tragédia que me chocou, foi só isso.  — Não era uma mentira. 

— Sana! — Ela me repreendeu, com uma careta. — Já vimos muitas tragédias em nossas missões e você nunca teve reações assim. Ramom talvez teria, mas você, com certeza não. 

— Nem sempre, as vezes, dependendo do que é...

 — Essa tragédia tem alguma relação com você? — Sua pergunta estava ficando mais inteligente, e foi ali que desconfiei de que Luara sabia algo. 

Suspirei, olhando ao nosso redor, antes me voltar para minha amiga. Não era muito de confiar nas pessoas, mas também não podia deixar de considera-la. Mesmo que temesse as atitudes de Forger, como capitão, sabia que Luara não me entregaria de bandeja para ser presa. Não depois de tanto tempo juntas, defendendo uma a outra e construindo um amizade solida e forte.  Conto ou não? Me peguei pensando.  Você acreditou em uma raposa de duas caudas falante, por que não acreditar na sua única amiga, que quase já se sacrificou por você? 

— Antes de te contar, por que acha que a tragédia tem relação comigo?

 — Eu fiz a pergunta primeiro! Mas se for para te convencer a contar, tudo bem! — Ao invés de entrarmos para dentro, Luara me puxou pelo braço para o jardim em que encontrara Taliena junto ao filho, pela manhã. — Sabe que eu andei por entre o povo das fadas bastante, recolhi ervas, plantas e até fiz uma misturas legais. Acho que estive mais entre as fadas do que todos do grupo.

— E graças a isso?

O Beijo Da Fada (CONCLUÍDO).Onde histórias criam vida. Descubra agora