Capítulo 38

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Parada em meio a escuridão daquela floresta, sem sons ao meu redor ou sequer sinais da presença de Alef, comecei a me sentir insegura e preocupada. Sussurros entre cortaram as folhas verdes que começaram a perder o brilho e murchar, ficando com cores mortas e troncos podres. A floresta perdia a vida e o animo costumeiro. Aquilo não era algo bom, não mesmo. Muito menos comum de se encontrar no reino vivido das fadas.

O cheiro de armadilha era muito forte e mesmo que eu quisesse dar meia volta para dentro do castelo, sabia que não conseguiria escapar daquela coisa. Não só isso, mas eu não queria demonstrar medo ou prolongar o confronto. Se podia enfrenta-la de uma vez por todas, o faria sem hesitar. E também tinha esperanças de que Edrian sentisse a minha ausência ou Rachel procurasse por mim. Rachel. Ela saiu correndo do baile, pensei temerosa ao lembrar de vê-la de relance correndo para juntos dos soldados com Hollen, antes de pular pela janela.

Sussurros começaram a vir do norte e do sul, juntos como mil canções melancólicas e gritos sofridos daqueles que padeciam no além. Até que frases começaram a se formar, como ecos em uma caverna profunda. Uma por uma, palavras foram construídas, dando sentido aos sons que eu ouvia.

Quando dei por mim, estava encarando uma grande sombra roxeada por um pó escuro manchado e que cheirava a morte. Como nuvens pesadas em uma tempestade, aquela magia se acumulou e deu origem a uma imagem tão medonha quanto o momento. E da boca com dentes grandes e pútrido, saia uma voz, asquerosa e cruel, que ria da minha expressão chocada.

—  Não imaginava que isso seria tão divertido! Deveria tentar mais vezes. — Ela me lembrava as bruxas dos contos de fadas, mas em uma versão adulta e sem fadas no meio.

Seus chifres eram como os de um bode, mal cuidados e amarelados, com uma das pontas raspadas, enquanto os outros três permaneciam afiados. Sua roupa se resumia a um casaco cinza, com manchas escuras que julguei serem sangue seco e buracos. Aquela coisa não se importava se estava ou não fedendo, muito menos elegante. Aquilo com certeza não vinha do reino das fadas. Era impossível que fosse dali. Toda sua essência gritava "terror".

—  O...O que você é? — Por um momento, não consegui proferir palavras, sentindo minha garganta seca.

—  O que eu sou? Pensei que fosse mais inteligente. Sua amiguinha ainda te alertou, mas seu pobre...— Aquela coisa fez uma careta, encarando meu peito. — ....coração sempre te cegou, não é? Sana. - Aquilo conhecia meu nome. — O que achou do meu presente? Juro que tentei caprichar na ortografia.

—  Presente?

—  Sim! Meu maravilhoso presente! Foi difícil arrancar a cabeça daquela menina, sem deixar que outros ouvissem seus gritos. Não podia chamar muita atenção, ainda. E parece que ela gosta de uma festa, não é? Ah....quer dizer, gostava. — Seu tom era cínico.

Mas a raiva me ajudou a encontrar minha voz, ao me lembrar que aquela maldita besta havia assassinado Megan.

—  Por que fez isso? Com que direito...

—  Você não lembra mesmo, não é? — Seu sorriso de escarnio aumentou, deixando visível que aquela boca era muito maior do que aquilo eu estava vendo. — Pensei que a essa altura do campeonato e com aquele beijo espetacular, você teria recuperado todas as memorias. Parece que me enganei. — A revelação de que ela estivesse no baile me deixou assustada. —  Seu sacrifício foi muito bom, deve ser graças a isso.

—  Não fiz nenhum sacrifício e nem sei quem você é.

—  Isso é verdade. Não fez nenhum sacrifício proposital, mas ainda assim, não podemos esquece-lo!

A imagem de Eleonor caída e com um buraco negro em seu peito surgiu, com olhos arregalados e boca ensanguentada. A menina não esperava ser morta de uma maneira tão bruta e repentina. Seu grito, eu lembrei de seu grito.

O Beijo Da Fada (CONCLUÍDO).Onde histórias criam vida. Descubra agora