repulsa

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Ramiro estava eufórico depois da tarde de amor que teve com Kelvin, andava de um lado para o outro sorrindo atoa lembrando de tudo que foi dito, o que foi feito entre eles.

Nunca tinha feito amor assim, na verdade nem sabe se poderia chamar de amor o que fazia. Já transou com muita gente, mas nunca foi assim com paixão.

Com outros peões era apenas pra matar a vontade um do outro, sempre no meio da mata, sempre com cheiro de pasto e suor de um dia inteiro de trabalho, sempre escondido, acabava em ameaças e algumas pequenas surras. Nunca teve a oportunidade de se entregar por inteiro assim pra alguém.

Ele sabia que o que estava sentindo pelo loirinho era amor, mas queria ser cuidadoso e ter certeza que Kelvin queria o mesmo.

Separou sua melhor roupa, uma colônia que só usava em ocasiões especiais e pediu ajuda a Dante para aparar o cabelo e a barba.

— Tem nome? — disse o amigo o olhando com desdém.

— Tem nome o quê, criatura?

— A donzela que cê tá caidim ai por ela — estava separando seus apetrechos — homi quando emperiquita demais é muié certeza.

— Tem nada de mulher nenhuma não — disse ríspido mostrando a barba — tô pareceno um urso é essa a causa.

— Se num é muié é o Kelvin então, essas aula ai ta rendeno em?

— Deixa de ser fuxiqueiro, eu e o Kévin nóis é amigo.

— Para de coisa, de mim cê num precisa esconder não, eu memo já-

Dante foi calado com as mãos de um Ramiro furioso agarrando a gola de sua blusa e quase o jogando contra a parede.

— Olha lá o que cê vai me falar do Kevinho, se desrespeitar ele, eu parto pra ignorância agora memo viu?

— Oxe homi, eu ia falar nada demais não, só ia falar que já quis saber como é, mas num tive coragem não.

Ramiro suavizou a expressão letal que tinha nos olhos e se sentou de frente ao amigo para que ele começasse a fazer sua barba.

— Bom memo cê num ter nada pra falar, semana passada o Jão veio de papo fiado pro meu rumo e eu só não enfiei minha butina no rabo dele porque me seguraram.

— Ramirão, vou te falar um negócio mas primeiro vou terminar seu cabelo aqui, num quero ser atacado com essa navalha aqui — disse o peão concentrado no corte.

Dante terminou o corte da barba e do cabelo olhando pra Ramiro todo orgulhoso de seu trabalho. O rapaz parecia mais novo e tava bem bonitão.

— Bunitão, o 'Kévin' vai te cume com o zói hoje — pegou um espelhinho e mostrou para o peão como ficou — eu podia memo é abrir um salão de corte, que cê acha?

— Acho que cê tem que fala logo o que falou que ia falar quando terminasse o corte — disse ríspido.

— Eita, ocê quando chegou aqui era mais legal viu? quase num abria a boc- ta bão eu falo — se assustou com Ramiro levantando com um olhar perigoso no rosto — o que eu ia falar é que se cê for querer bater, rancar o zói, enfiar a butina na bunda de todo peão daqui que já deitou com o rapazinho lá do bar...

— Êeeee — Ramiro resmungou bravo — que rumo essa prosa vai tomar?

— Rumo nenhum, só tô te falano pra num arrumar cacho com ninguém lá do bar não — disse realmente preocupado — cê num vê o Caio com a Iná? vai lá toda noite garantir que ela não deite com mais ninguém, gasta uma fortuna todo dia em vez de arrumar uma muié mais decente.

inefávelOnde histórias criam vida. Descubra agora