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Celine respirou fundo enquanto atravessava o pátio movimentado da universidade. Era o primeiro dia do semestre, e a empolgação de estar finalmente na nova escola era acompanhada por uma pitada de ansiedade. Tudo era novo: as pessoas, os prédios, a cidade. Mas nada a empolgava mais do que a ideia de finalmente estudar literatura com uma das professoras mais respeitadas do departamento, a professora Billie O’Connell.

A aula de Literatura Comparada era a última do dia, e Celine sentiu o coração acelerar quando finalmente chegou à sala. Os rumores sobre Billie eram mistos. Alguns estudantes a descreviam como brilhante, mas implacável; outros falavam de sua frieza e distanciamento. De qualquer forma, todos concordavam em uma coisa: suas aulas eram extremamente desafiadoras.

Ao entrar na sala, Celine percebeu que já havia muitos alunos sentados. Ela escolheu um lugar no meio da sala, tentando não chamar atenção. Abriu o caderno e começou a organizar suas anotações, tentando ignorar o nervosismo que borbulhava em seu estômago.

A porta se abriu com um rangido e, por um momento, a sala inteira pareceu ficar em silêncio. Billie O’Connell entrou com passos firmes, carregando uma pilha de livros em seus braços. Sua presença enchia o ambiente de uma autoridade natural. Ela era uma mulher de porte elegante, com olhos penetrantes que pareciam ver através de todos ali. Usava um blazer escuro, combinado com uma camisa branca impecável, e seus cabelos loiros estavam presos em um coque que apenas destacava sua expressão séria.

— Bom dia —  disse Billie, sem olhar para ninguém em particular, enquanto colocava os livros sobre a mesa. — Eu sou a professora O’Connell. Nesta aula, vamos abordar textos que desafiarão suas percepções e exigirão mais do que leituras superficiais.

Ela começou a distribuir uma lista de leituras, passando por cada fila com movimentos precisos, quase mecânicos. Quando chegou à fileira de Celine, ela entregou a folha sem sequer levantar o olhar, como se os alunos fossem apenas uma parte da mobília.

Celine se encolheu um pouco em seu assento. Havia algo na professora Billie que era intimidador de uma maneira que ela não esperava. Era como se a sala tivesse se tornado alguns graus mais fria com a presença dela. Ela olhou para a lista de leituras e sentiu um nó na garganta; o conteúdo era extenso e assustador.

Billie voltou para a frente da sala e começou a falar sobre as expectativas do curso, suas palavras diretas e sem rodeios.

— Não estou aqui para segurar a mão de ninguém. Se vocês não estão preparados para se comprometerem, sugiro que escolham outra disciplina — ela declarou, seus olhos varrendo a sala com uma frieza que fazia cada aluno se mexer desconfortavelmente em seus assentos.

Celine tentou se concentrar, mas sentiu a tensão aumentar dentro de si. Ela tinha vindo para a faculdade cheia de entusiasmo, mas a professora Billie estava rapidamente transformando essa empolgação em algo mais parecido com medo.

As semanas seguintes foram uma prova de fogo para Celine. As aulas de Billie eram densas, e ela não mostrava qualquer sinal de suavidade em sua abordagem. Toda vez que Celine ou qualquer outro aluno fazia uma pergunta, Billie respondia de maneira cortante, como se a simples curiosidade fosse uma irritação para ela.

Celine estava tendo dificuldades com um dos textos mais complexos do curso, uma obra filosófica que parecia quase impenetrável. Ela decidiu, hesitante, que precisava de ajuda e resolveu falar com Billie durante o horário de atendimento.

Quando chegou à sala da professora, bateu na porta com uma leve hesitação.

— Entre — veio a voz firme de Billie do outro lado. Celine entrou, encontrando Billie sentada atrás de uma mesa coberta de livros e papéis.

— Professora O’Connell —  começou Celine, sua voz trêmula. — Eu... estou tendo dificuldades com o texto de Heidegger. Poderia me ajudar a entender melhor?

Billie levantou os olhos, e Celine se sentiu como se estivesse sob o escrutínio de um tribunal.

— Heidegger não é para ser lido de forma superficial, senhorita...—  Billie fez uma pausa, esperando que Celine completasse a frase.

— Celine. Celine Dupont.

— Senhorita Dupont —  Billie continuou, sem um pingo de simpatia na voz. — Este é um curso de nível avançado. Se você não consegue lidar com Heidegger, talvez devesse reconsiderar sua escolha de disciplina.

Celine sentiu o rosto queimar de vergonha.

— Eu... eu só queria um pouco mais de orientação, para entender melhor...

Billie suspirou, como se estivesse perdendo tempo precioso.

— A orientação está nos textos. Leia, releia, e releia novamente. Se depois disso ainda não entender, então talvez este curso não seja adequado para você.

Celine apertou os lábios, segurando as lágrimas que ameaçavam cair.

— Entendido, professora — ela murmurou, se levantando rapidamente para sair.

— Boa sorte — disse Billie friamente, voltando sua atenção para os papéis em sua mesa, como se a conversa já tivesse sido esquecida.

Celine saiu da sala sentindo-se esmagada. A professora Billie não apenas ignorara seu pedido de ajuda, mas a fizera sentir-se como se não fosse digna de estar naquele curso. O entusiasmo inicial de Celine estava agora em frangalhos, substituído por uma crescente insegurança.

Apesar da dureza de Billie, Celine não desistiu. Ela começou a passar noites em claro, mergulhando nos textos, determinada a entender por conta própria aquilo que a professora se recusava a explicar. A frieza de Billie, em vez de afastá-la, acendeu algo dentro de Celine — uma teimosia, uma determinação de provar a si mesma que podia superar os desafios.

Celine continuava a se esforçar, sempre chegando cedo às aulas e tentando captar cada palavra que Billie dizia. A professora não parecia notar Celine mais do que qualquer outro aluno, mas para Celine, havia uma crescente sensação de respeito, misturado com frustração, em relação a Billie. Ela não conseguia decidir se odiava ou admirava a professora, ou se era algo mais complexo que isso.

Enquanto isso, Billie continuava sendo tão implacável quanto sempre. Ela não fazia concessões, não dava elogios, e parecia não se importar se os alunos estavam ou não acompanhando o ritmo alucinante que impunha. Mas havia momentos, breves momentos, em que Celine pensava ver algo mais nos olhos de Billie, uma espécie de cansaço ou tristeza escondida, que desaparecia tão rápido quanto surgia.

Celine não sabia o que aquilo significava, mas uma coisa era certa: algo a mantinha fascinada pela professora, mesmo quando Billie parecia fazer de tudo para afastá-la. Talvez fosse o desafio, ou talvez fosse o mistério que Billie representava, mas Celine não conseguia parar de pensar nela, mesmo quando tentava.

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MY TEACHER - B.E.Onde histórias criam vida. Descubra agora