O ESPAÇO ENTRE NÓS

Capítulo 08

Luiza

Sabe quando todas as coisas no mundo parecem certas, mas algo precisa acontecer para o próximo passo ser tomado? Eu sinto isso a maior parte do tempo quando estou com a Valentina. Eu nunca fui a pessoa que toma a iniciativa das coisas. Sobre a física e os planetas eu sei o que fazer, o caminho a seguir, tudo é calculado e pesquisado, tem quase um controle sobre isso, mas sobre a vida não e isso me assusta um pouco.

Passar na frente de uma joalheira, ver alianças, entrar e comprar não é algo que eu faria, certo? Errado, eu entrei e comprei. Por algum motivo que eu não sei a resposta deixei os meus pensamentos tomarem conta de mim e simplesmente comprei duas lindas alianças que estão mofando no fundo da minha gaveta. Eu tive coragem de comprar, mas isso não significa que eu tenha coragem de pedir a Valentina em casamento.

– Não estou me sentindo muito bem. – Valentina fala ao meu lado enquanto se senta devagar na cama. Saio dos meus pensamentos e olho para ela percebendo que está pálida.

– O que foi? – Pergunto preocupada segurando sua mão que está gelada. Valentina me olha, mas antes de falar qualquer coisa ela se levanta da cama rápido e corre para o banheiro. – Que merda! – Xingo jogando o lençol para o lado e corro para o banheiro. Quando cheguei, só tive tempo de segurar o cabelo dela para que não se sujasse com o vômito.

– Sai, não quero que veja isso. – Valentina fala enquanto me empurra com uma mão, mas ela não tem força suficiente para me fazer sair do lugar e novamente ela vomita.

– Não vou deixar você sozinha. – Falo fazendo ela gemer enquanto vomita de novo.

Valentina não tenta me afastar de novo, ela não tem condições para isso. Quando o enjoo passa, ajudo minha namorada a se levantar, sem falar nada ela vai até a pia do banheiro para escovar os dentes. Fico no mesmo lugar observando cada passo que ela dá, percebo que isso deixa ela irritada pela forma que está escovando os dentes, com força.

– Não precisa ficar aqui, eu estou bem. – Ela insiste.

– Eu estou vendo o quão bem você está... – Falei com ironia ao dar descarga no vaso. Valentina me olha irritada, mas não fala mais nada. Voltamos para o quarto e nos sentamos na cama. Observo que ela está inquieta e nervosa pela forma que mexe as pernas sem parar.

– Você tá sentindo mais alguma coisa? – Pergunto fazendo ela suspirar, mas seu olhar em nenhum momento está no meu rosto.

– Não. – Valentina segue olhando para frente, perdida nos seus próprios pensamentos.

– Não vai mesmo me falar o que está acontecendo? – Finalmente ela me olha, seus olhos verdes estão mais escuros.

– Como eu vou falar alguma coisa, se não está acontecendo nada? – Ela fala completamente irritada, de um jeito que eu nunca vi ela falar antes, nem comigo e nem com ninguém. – Desculpa, eu só devo ter comido alguma besteira, é melhor eu ir pra casa. – Antes que ela pensasse em se levantar, seguro sua mão.

– Você tem duas opções, ou você fica aqui pra eu cuidar de você, ou eu vou pro seu apartamento junto com você. – Ela revira os olhos.

– A gente não precisa ficar junto o tempo todo, Luiza.

– Mas você não tá bem, não vou te deixar sozinha desse jeito.

– Tá. – Ela se levanta e troca de roupa. – Eu preciso pelo menos tomar um ar, sozinha. Vou comprar alguma coisa pra gente comer e já volto, faz café.

Eu poderia tentar argumentar contra, talvez até insistir para ir junto com ela, mas eu sei que isso seria pior. Ela está irritada e quanto mais eu falo, mais ela fica. A observo enquanto ela troca de roupa, em seguida ela me dá um beijo no canto da boca e vai em direção a porta para sair.