Capítulo 17

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Luiza

Eu abri a porta de casa e senti o mundo inteiro congelar. Chegar em casa depois de perder um filho é uma das experiências mais dolorosas que alguém pode enfrentar. É como entrar em um espaço que, de repente, parece vazio, mesmo estando cheio de lembranças. Cada canto, cada objeto, cada silêncio carrega um peso enorme. Tudo o que nós temos agora é a manta que Peter usava, que nos entregaram no hospital. Valentina a segura firme, estática, como se ela já não soubesse dar um passo sozinha mais.

A ausência é gritante: o som da voz dele, os passos, a rotina que antes preenchia os dias. As coisas dele, os hábitos compartilhados, tudo vira um lembrete constante do que foi perdido. A dor chega a ser sufocante, misturada com a sensação de irrealidade, como se nada fizesse sentido.

Eu não consigo aceitar que isso seja verdade, não consigo acreditar que o motivo do meu coração bater, já não tem batimento próprio. Tem brinquedo espalhado pela casa toda, mas não tem o bebê que espalhou mais. Valentina deixa a manta dele encima do braço do sofá e em silêncio vai para o banho. Espero ela terminar para poder fazer o mesmo.

O velório não poderia durar muito tempo, o corpinho dele não aguentaria muito tempo. Nosso filho era querido por todos os que o conheciam, até mesmo os moradores do prédio vieram.

Valentina, por favor... – Catarina dizia enquanto via a filha pegar o bebê de dentro do caixão. – Não torne isso mais difícil do que já é.Mas Valentina nada a respondeu.

Ela apenas o beijava e apertava, ela o enrolou na manta que ele tanto adorava e o balançava como se estivesse tentando ninar ele, para que ele dormisse. Eu apenas me juntei aos dois e me mantive abraçada com eles enquanto o padre falava coisas que eu não faço ideia do que eram.

Volta pra mamãe, filho, por favor. – Valentina sussurrava baixo em um choro agoniante. – Eu não consigo viver sem você, Peter.

Eu não acho que a dor seja mensurável, mas ele saiu dela, foi ela quem o gerou, então eu acredito que a dor insuportável que eu esteja sentindo ainda é menor do que a que ela está sentindo. Apenas faço carinho nos dois, depositando beijos nela, como se eu dissesse que tudo ficaria bem, mesmo sabendo que nada ficará bem de novo.

Chegou a hora de fechar o caixão. – O rapaz da funerária disse.

Podem fechar, o meu filho está bem, ele vai pra casa. – Valentina disse sem olhar para o rapaz.

Meu bem... – Tentei dizer, eu também queria, mais do que tudo no mundo, poder levar Peter pra casa.

Não, Luiza, ele é seu filho, como você tem coragem de deixar ele sozinho? Ele é só um bebê! – Ela dizia totalmente fora de si.

Peter é lindo, Valentina. Um garotinho que notavelmente foi bem cuidado. Vocês o amam demais, não é mesmo? – O padre perguntou já bem próximo a ela.

Ele é. – Ela disse sorrindo.

Deus permitiu que você fosse a mãezinha dela, a melhor mãe que esse garotinho poderia ter. – Ele delicadamente tentava pegar Peter. – Todos nós precisamos, um dia, retornar ao pai. Peter é tão especial que Ele o quis de volta.

– Mas ele é meu.

– Ele pra sempre será seu, minha querida. Mas amar também é deixar ir, e você precisa permitir que ele vá em paz.

Meses depois

Entrar em casa se tornou a pior parte de todos os meus dias. Voltar pra casa e saber que meu bebê não está aqui é como um peso insuportável, um convite para não querer entrar. Eu ainda tenho a Valentina em casa, mas é como se ela não estivesse aqui. É como se mesmo tendo sua presença física, ela não estivesse aqui. Essa é a sensação que eu tenho na maior parte do tempo quando estou perto dela.

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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