Arthur andava em direção à uma lanchonete do bairro, sem pressa. Ele havia chamado Estela para sair, para resolverem um trabalho de escola, e aquela lanchonetezinha pareceu a melhor opção, pois era limpa, aconchegante e tinha preços acessíveis.
O garoto sabia que Bel e Gael tinham ficado em casa, fazendo algumas pesquisas sobre a R.I.M.M.O, mas por algum motivo, estava se sentindo um tanto nervoso por sair a sós com Estela. Não era comum que fizessem isso, mas eles eram amigos, então não tinha motivos para estar tão nervoso, certo?
Ele parou em frente à lanchonete. O letreiro néon iluminava a calçada com uma cor amarela, e o cheiro de frituras e comidas gordurosas invadiu suas narinas. Através de uma das janelas, Arthur avistou Estela em uma das mesinhas e foi até lá. A garota o cumprimentou.
— Oie — ele respondeu, sorrindo, enquanto se sentava de frente para ela.
— Eu pedi hambúrgueres e batata frita para a gente, pode ser? — A menina perguntou, indicando o balcão onde alguns funcionários trabalhavam, preparando lanches. Ele assentiu.
— E então, você tem alguma ideia em mente para o trabalho? — Arthur perguntou.
— Não... Feira de ciências é complicado. Se a gente fizer um vulcão, não vai ser nada original, mas ao mesmo tempo, se tentarmos fazer algo mais complexo, duvido que vai dar certo. — Ela inclinou a cabeça levemente para o lado, pensativa. Era o que sempre fazia quando pensava, e Arthur sorriu ao fazer essa observação. — O que foi?
— Nada — respondeu sorrindo, enquanto balançava a cabeça.
— Sei — disse, irônica. — Ah, tive uma ideia! Podíamos fazer um projeto sobre o ciclo da água! Sobre como ele funciona — ela hesitou. — Bem, sobre como ele deveria funcionar. Porque, sejamos sinceros, as coisas estão bem diferentes de uns tempos para cá... Enfim, poderíamos usar um terrário, minha avó tem vários! Ou então, podemos montar um também, seria legal.
— Um terrário?
— É! É tipo uma miniatura de um ecossistema dentro de um potinho de vidro. Funciona e é bem fácil.
Então, uma garçonete vestindo uma camisa vermelha e amarela apareceu, carregando uma bandeja com dois hambúrgueres, uma porção de batatas fritas e dois refrigerantes. Ela depositou os alimentos na mesa, e saiu, revirando os olhos quando Estela agradeceu.
— Nossa — Arthur comentou, vendo a mulher ir embora.
— Ah, não liga. De vez enquando eu venho aqui, e ela é assim mesmo. — A garota mordeu uma batata. — E então, o que acha da ideia para o trabalho?
— Acho que é uma ótima ideia — disse, voltando sua atenção para a amiga. — Parece mais fácil do que montar algo elétrico.
Ela assentiu.
— Tem algumas plantas que não sobrevivem nesse tipo de experimento, mas não é difícil encontrar as certas. Podemos fazer algumas pesquisas também.
— Uhum — murmurou, de boca cheia.
— Vamos marcar um dia de ir fazer esse trabalho na minha casa. Aí já anoto o que vamos precisar.
— A moça da floricultura é amiga da minha mãe, posso pedir algumas plantas para ela, também...
De repente, o celular de Arthur começou a vibrar e o nome "Gael" apareceu na tela. O garoto pegou o aparelho e atendeu.
— Alô? — falou.
Estela conseguia ouvir a voz de Gael do outro lado da linha, mas não dava para entender o que estava sendo dito.
— Ahã — Arthur falou, respondendo algo que o amigo disse. — Sim, sim, eu sei. — Ele arregalou os olhos. — QUÊ!? Tá, tá bom, já estou indo. Tchau.
— O que aconteceu? — Estela perguntou.
— A Bel descobriu uma coisa sobre a R.I.M.M.O... O Gael não conseguiu explicar direito o que era, e pediu para a gente ir até a casa dele — falou, passando a mão pelos cabelos.
— Não tem problema, a gente vê esse trabalho outro dia. — Ela se levantou, abrindo a bolsa para pegar sua carteira.
— Espere aqui — Arthur falou, saindo da mesa e indo até o balcão onde estavam os funcionários.
— Onde você vai? — Gritou, mas ele não se virou.
Não demorou muito, e Arthur voltou, segurando uma sacola de papel, daquelas de fast-food. Ele fechou os potinhos de isopor onde os lanches estavam e os guardou dentro do pacote.
— O que você fez? — a garota perguntou.
— Paguei a conta e pedi para levarmos o resto para a viagem.
— Mas eu ia...
— Relaxa — interrompeu. — hoje é por minha conta. — Ele sorriu, olhando para ela. Seus olhares se encontraram por um momento, e o garoto ficou parado, sem se mover um centímetro. Ambos ficaram ali, apenas fitando os olhos um do outro, paralisados... Por tempo de mais. Os dois desviaram os rostos, corados.
O que foi isso? Arthur se perguntou. Ele pigarreou.
— Vamos?
— Vamos — respondeu se levantando também.
Eles andaram em direção à porta e saíram do estabelecimento. Apesar de nenhum deles ter falado nada até chegarem na casa de Gael, nenhum deles pareceu estar desconfortável.
— Ah, Arthur, Estela! — Bel gritou ao vê-los na porta. — Entrem, Entrem!
Arthur e Estela entraram e foram até a sala, onde Gael digitava com pressa em um notebook.
— E então, o que houve? — Arthur perguntou, se sentando no sofá.
— Nós descobrimos uma coisa — disse, virando a tela do notebook para o amigo.
Estela se sentou ao lado de Arthur, para conseguir ver também.
— O que é isso?
— A Bel conseguiu hackear o banco de dados do governo — Gael contou — e achamos um arquivo com vários "pacientes". Basicamente, esses "pacientes" são as pessoas que usaram a R.I.M.M.O. Tem a foto de cada uma delas, e todas tem um número próprio. — ele apontou para a tela, onde havia uma foto de um garoto de cabelos castanhos, com a frase "Paciente 76" escrita em baixo. Ele clicou na imagem, e uma outra aba se abriu no navegador, mostrando um link de um vídeo. — Não vou clicar nesse vídeo, mas cada paciente tem um ou mais vídeos, mas não são vídeos qualquer. São memórias. As memórias que as pessoas "apagaram" de si mesmas, na verdade estão todas aqui, armazenadas no banco de dados do governo.
— Como... Você sabe que essas são as memórias apagadas das pessoas? — Arthur perguntou. Gael suspirou.
— A da Estela está aqui também.
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Memórias apagadas
Science Fiction"R.I.M.M.O.", a nova máquina capaz de apagar memórias seletivamente, promete fazer com que pessoas que sofreram eventos traumáticos em suas vidas possam se esquecer dos momentos difíceis, vivendo como se aquele tempo perturbador nunca houvesse exist...