Capítulo 14

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Estela abriu seu armário e encarou as opções. Arthur havia lhe convidado para ir à praia com ele, e agora ela não sabia o que vestir.

Arthur nunca havia a chamado para sair a sós, a menos que fosse por questões escolares ou um motivo muito específico, o que a deixava nervosa.

Ele disse que era só para relaxar, então não devia ser nada de mais. Mas então, porque não chamou Bel e Gael também?

A garota balançou a cabeça para afastar os pensamentos e pegou um maiô e um shorts jeans no armário.

É, deve ser uma boa opção.

Ela os vestiu e se olhou no espelho. Estava bom, então ela prendeu o cabelo em um coque frouxo, colocou um boné e saiu de casa.

Arthur andava em direção à praia. Não era muito longe, mas mesmo assim, ele se arrependeu de ter colocado só uma bermuda preta. O sol estava forte e, dependendo de quanto tempo ele fosse passar na praia, talvez o efeito do protetor solar não fosse durar muito, e ele voltaria com as costas queimadas para casa.

É isso, pensou, nervoso. Eu vou contar para ela hoje.

Quando chegou lá, ele avistou Estela de pé, à beira mar. Por incrível que parecia, a praia estava praticamente vazia, com apenas alguns passantes.

O garoto deixou sua mochila perto de uma pedra e se aproximou da amiga com cuidado, sem que ela percebesse, e sussurrou em seu ouvido:

- Oi.

Ela teve um sobressalto e se virou para trás, mas assim que o viu, ela suspirou, aliviada, e sorriu.

- Ah, oi! Você me assustou!

- Desculpa - disse, mas sem deixar de rir também. Ele apontou para sua mochila. - Eu trouxe um frisbee, quer jogar?

- Pode ser!

Ele correu até sua mochila, pegando o frisbee de dentro, e tirou os chinelos, deixando-os ao lado da pedra. Seus pés afundaram na areia macia, enquanto ele lançava o objeto ao ar, e Estela o alcançou.

- Você sabe jogar? - Ele perguntou, um tanto impressionado pela agilidade dela.

- Sei, sim - disse, piscando.

A menina lançou o frisbee de volta para ele, que saltou e o pegou bem a tempo.

O garoto correu e ficou de frente para ela, deixando alguns metros de distância, e lançou o objeto outra vez. Estela recuou alguns passos e pulou na hora certa, segurando-o no ar.

- Viu, só? Aposto que sou bem melhor que você - disse, erguendo as sobrancelhas, enquanto lançava o brinquedo. Ela virou seu boné para trás e sorriu.

Arthur pegou o objeto e, sorrindo, o jogou outra vez.

- Então, que os jogos comecem!

A garota não era muito alta, mas mesmo assim, conseguiu pegar quase todas as vezes, com uma agilidade impressionante. Arthur não ficava muito atrás, se saindo muito bem também, mas não tanto quanto a amiga.

Então, em uma das jogadas, o brinquedo acabou seguindo a direção errada e caindo no mar. Estela correu para perto de Arthur.

- Quem vai ir buscar? - perguntou, vendo o frisbee boiar no mar, as ondas o empurrando para lá e para cá. - Eu é que não vou entrar nessa água. - Cruzou os braços.

- Ah, então eu vou. - Ele fez uma pausa, e, antes que ela pudesse protestar, a tomou pela mão puxando-a para a água. - Mas você vem comigo!

- Arthur! - ela gritou, mas sem conter um sorriso, enquanto era levada para dentro do mar - Assim não vale!

Ele riu, soltando a mão dela, e mergulhou, indo até onde estava o frisbee. Quando ressurgiu da água, o garoto estava num ponto um pouco mais fundo e, passando uma mão pelo cabelo molhado, ele ergueu a outra, que segurava o frisbee.

Estela tirou o boné, o segurando enquanto mergulhava para ir até o amigo. Ao se levantar, ela balançou a cabeça para tirar a água salgada do rosto e sorriu.

- Seu doido - brincou.

Ele riu.

- Como você é tão boa no frisbee? - perguntou.

- Ah, meu pai sempre me levava à praia - contou - e, uma vez, o vi jogando com um amigo, e pedi para ele me ensinar. Então, todas as vezes eu treinava com ele. É claro que naquela época meu pai me deixava ganhar de propósito, já que eu era bem pequena, mas eu me sentia a melhor. - Seu sorriso sumiu lentamente. - Mas aí tudo acabou. - ela suspirou e olhou para o amigo, abrindo um sorriso forçado. - Vamos voltar?

Ele assentiu, e ambos nadaram até a areia outra vez. Estela foi até uma bolsa de praia que estava encostada na areia e tirou duas toalhas, jogando uma para Arthur.

- Valeu - ele agradeceu, enxugando os cabelos.

Depois de se enxugar, Estela estendeu a toalha na areia e se sentou. O garoto fez o mesmo. Ele se enclinou para trás, apoiando as mãos no chão, e virou o rosto para céu.

Estava escurecendo, o pôr-do-sol tingindo o céu com cores alaranjadas e bonitas. Ninguém disse nada por um instante, apenas ouvindo o som das ondas se quebrando, e Arthur olhou para Estela de soslaio, vendo como ela era bonita. Mesmo encharcada, com o cabelo todo bagunçado, aquele sorriso ainda fazia o coração dele acelerar, martelando descontroladamente em seu peito.

- Ah, eu amo vir aqui... - Estela murmurou, depois de um tempo, fechando os olhos e respirando fundo. - Parece que dá para se esquecer de tudo.

- É verdade - Arthur concordou, engolindo em seco. É agora, pensou. - Mas... tem uma coisa que eu não consigo esquecer, não importa o quanto eu tente.

- O quê? - indagou se virando para ele, que hesitou. Talvez essa não fosse uma boa hora para ele dizer isso. Talvez nunca fosse ser uma boa hora. Mas, mesmo assim, ele continuou.

- Você, Estela.

Ela corou e abriu a boca, mas não disse nada.

- Eu não consigo parar de pensar em você - ele continuou, baixinho, olhando nos olhos dela. - Eu sempre gostei muito de você, mas... o que eu sinto agora é diferente. É algo a mais do que amizade e, apesar de eu ter demorado a perceber, agora eu tenho certeza. - O garoto hesitou por um instante, seu olhar fixo no dela. -Eu te amo, Estela.

- Arthur... - ela sussurrou. Droga, ele pensou. Talvez ela não sentisse o mesmo. Talvez esse seja o fim da nossa amizade... - Eu também. - completou, interrompendo os pensamentos dele. - Eu também te amo.

Ele sorriu, aliviado.

Arthur olhou nos olhos dela por um instante, colocando uma mecha atrás da orelha dela e se enclinou, aproximando seus rostos lentamente. A garota fechou os olhos, sentindo a respiração dele contra sua pele, o espaço entre os dois diminuindo cada vez mais. Então, o garoto encerrou a distância entre eles, selando seus lábios nos dela.

Estela levou as mãos à nuca dele, enquanto ele tocava seu rosto. Aquele foi um beijo suave, que pareceu parar o tempo. As ondas continuavam a se quebrar, mas, naquele instante, o mundo pareceu desaparecer, restando apenas eles dois.

Quando se afastaram, Estela abriu os olhos lentamente e sorriu.

Arthur encostou sua testa na dela, sorrindo também.

- Eu te amo - sussurrou.

- Eu também.

Memórias apagadasOnde histórias criam vida. Descubra agora