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A luz do sol filtrava pelas cortinas gastas do quarto da minha mãe, criando um contraste amargo com a escuridão que parecia envolver o meu coração. O som das máquinas ao lado de sua cama era o único sinal de que ela ainda estava ali comigo, mas a cada dia, parecia que um pedaço dela ia embora.

Eu me ajoelhei ao lado da cama, segurando sua mão pálida entre as minhas. Ela estava tão frágil, tão diferente da mulher forte que me criou sozinha. Fechei os olhos, tentando afastar as lágrimas que ameaçavam cair.

"Eu vou encontrar uma solução, mãe. Prometo que não vou deixar você ir."

As palavras saíram mais como uma súplica do que como uma promessa. O dinheiro que tínhamos estava acabando rápido demais. Todos os tratamentos, as dívidas, as despesas médicas... era um buraco sem fundo, e eu já não sabia o que mais fazer.

Levantei-me com dificuldade e fui até a cozinha, onde o meu pai estava sentado à mesa, os olhos fixos em um copo de café que ele provavelmente não tomaria. Desde que minha mãe adoeceu, ele parecia ter envelhecido anos em questão de meses. O peso do desespero pendia sobre nossos ombros.

"Isabela," ele começou, a voz cansada e cheia de dor. "Precisamos conversar."

Meu coração deu um salto de medo. Ele parecia ainda mais abatido do que o normal, e a expressão em seu rosto dizia que o que ele tinha a me dizer não era nada bom.

"Sente-se," ele pediu, e eu obedeci, sentando-me na cadeira em frente a ele. "Eu... consegui uma solução para o problema do dinheiro."

Esperei que ele continuasse, mas meu estômago já estava se revirando. Eu sabia que qualquer 'solução' que ele encontrasse não seria fácil de aceitar.

"Você vai se casar, Isabela."

As palavras dele pareciam não fazer sentido no começo. Meu olhar ficou preso ao dele, procurando alguma pista de que ele estava brincando. Mas a seriedade no rosto do meu pai era inabalável.

"O quê?" A palavra saiu como um sussurro, quase inaudível.

"James Beaufort," ele continuou, ignorando meu choque. "Ele é filho de um amigo meu, muito rico. Concordou em pagar pelo tratamento de sua mãe... se você se casar com ele."

Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. James Beaufort? Aquele homem arrogante, mimado e insuportável? A ideia de me casar com ele era repulsiva, mas a imagem da minha mãe, frágil e morrendo, me impediu de protestar de imediato.

"Pai, você não pode estar falando sério," eu murmurei, sentindo o desespero se infiltrar na minha voz.

"Eu estou, Isabela. Eu não vejo outra saída. E ele não está oferecendo apenas uma doação; é uma condição. Eu sinto muito."

Fiquei em silêncio, olhando para as mãos trêmulas do meu pai. Tudo dentro de mim queria gritar, queria dizer não, mas eu sabia que não tinha escolha. Eu faria qualquer coisa para salvar minha mãe.

"Quando?" Minha voz estava fria, vazia.

"Dentro de uma semana," ele respondeu, a voz carregada de culpa. "Eu sei que é um sacrifício, mas..."

"Eu faço," eu disse, interrompendo-o. "Eu me caso com ele."

Ele não respondeu, apenas abaixou a cabeça, derrotado. Saí da cozinha sem dizer mais nada, sentindo como se uma parte de mim estivesse morrendo junto com minha mãe.


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