Amor por Contrato

V

O dia do casamento chegou com uma sensação surreal. O vestido branco que eu usava parecia uma piada cruel, uma farsa montada para enganar todos ao nosso redor. Meus passos ecoavam na catedral luxuosa, cada clique dos saltos no chão de mármore soando como um tambor de execução.

As flores, as luzes, a música suave... nada disso parecia real. Era como se eu estivesse observando tudo de fora do meu próprio corpo, presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. As vozes murmurantes dos convidados flutuavam ao meu redor, cheias de curiosidade e julgamentos silenciosos.

Meu pai estava ao meu lado, me guiando pelo corredor. Seu rosto estava pálido, refletindo a mesma dor e culpa que eu sentia. Quando finalmente chegamos ao altar, vi James. Ele estava parado lá, impecável em seu terno preto, com um sorriso suave nos lábios que não alcançava seus olhos.

Eu olhei para ele e tentei enxergar além da fachada arrogante, mas tudo o que vi foi a máscara de indiferença que ele usava tão bem. Me perguntei se ele sentia alguma coisa naquele momento ou se tudo isso era apenas mais um jogo para ele.

O padre começou a cerimônia, mas as palavras não faziam sentido para mim. Eu recitei os votos mecanicamente, cada frase uma punhalada no meu coração. "Na saúde e na doença... na riqueza e na pobreza... até que a morte nos separe." Cada palavra era uma mentira, e eu sabia disso.

Quando o padre anunciou que podíamos nos beijar, James se inclinou para mim, e nossos lábios se tocaram brevemente. Não havia ternura, nem paixão - apenas o toque frio de dois estranhos cumprindo um dever.

Os aplausos dos convidados soaram distantes, como se estivessem acontecendo em outro mundo. Quando nos viramos para caminhar de volta pelo corredor, me senti como uma prisioneira sendo levada para a sua cela.