Capítulo 24

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Kiara.

Assim que piso na enorme mansão do JJ, sinto meu corpo arrepiar por inteiro. Nem a música alta e as várias pessoas ao redor, que lotavam o ambiente com o odor de suor, cigarro e álcool eram capazes de distrair minha mente o suficiente do nervoso que eu sentia nesse momento.

—Amiga, quer ir 'pra casa? Talvez não tenha sido uma boa ideia...—minha melhor amiga pergunta em sussurro.

—Vou ficar. Que mal tem? Ele finge que nada aconteceu e eu faço o mesmo.—dou de ombros e respondo em igual tom.

Sarah concorda e vamos em direção ao Pope e à Cleo, que recebem eu e minhas amigas com latinhas de império tão geladas que quase queimavam nossas  mãos.

—Que isso, hein Kie? Vini Júnior? Sua moral 'tá nas alturas!

—A dele que 'tá, amor.—Cleo corrige o marido—Kie é o sonho de consumo de muitos.

—É, eu bem sei...—ele diz sugestivo e eu o repreendo com o olhar.

Não acredito que ele tenha contado à Cleo sobre a minha história com o JJ, mas sei que Pope bêbado é sinônimo de ausência de filtragem de palavras. Mas como sei que hoje ele é o encarregado por dirigir, imagino que vá pegar leve.

Não demora muito para eu avistar JB e JJ, os únicos que faltavam para completar o grupo. Senti meu coração parar quando o lindo par de olhos azuis me encarou de volta. O mesmo olhar de anos atrás, ele conseguia ler qualquer pensamento meu e isso o fazia ter domínio completo sobre minhas ações. Diria que a única pessoa no mundo capaz de me controlar, e não de uma forma ruim. Ele sussurra algo para o irmão, sem desviar o olhar e, logo após, os dois se aproximam.

Surpreendentemente, ele me cumprimenta. Com um abraço apertado e um beijo na bochecha e o cheiro de álcool misturado com suor é tão intenso que nem sei se interpreto a ação como genuína ou produto de embriaguez.

Meu estômago se revira quando ele abraça a Iara. Sabe aquelas coisas que exalam tesão, embora não tenham absolutamente nada de sexual? Ele tira um cigarro do bolso e oferece a ela, que ri devassa e aceita.

—Estamos atrapalhando?—Lívia pergunta e eu acordo do transe.

—De forma alguma, po.—o loiro responde e a voz é tão rouca que me questiono o quanto de fumaça tóxica teve contato com suas cordas vocais desde o fim do jogo.—Hoje todos nós vamos comemorar! E por minha conta.

Decidi que pelo menos por hoje, eu esqueceria meus compromissos de mãe e iria me divertir da forma que mais me agradasse. Não lembro em qual momento da festa fiquei sozinha, no sofá enorme e macio do JJ enquanto observava o loiro quase devorar uma ruiva do outro lado do cômodo. O gole da taça de gym desce queimando e, embora o sabor seja doce, o gosto é paradoxalmente amargo.

—Tudo bem, gata?

Respiro fundo.

—Oi.

—Sou o Gabriel, não lembra de mim?

—Lembro. Tudo certo?

—'Tá quietinha, fiquei sabendo que você não é assim...

—Ficou sabendo? Você me conhece?

—Queria conhecer melhor...

Não. Hoje não. Preguiça de fingir que estou com vontade de beijar qualquer outra pessoa que não ele. Hoje eu seria incapaz de fingir um orgasmo.

—Hoje não.—eu me levanto e vou em direção à Sarah.

Pode-se dizer que tivemos uma noite tranquila,graças ao fato de eu quase não ter cruzado com o JJ durante a festa inteira. O álcool certamente despertaria meu lado possessivo e eu amaldiçoaria todas as bocas que ele beijou esta noite e incluiria a dele também.

Queria ter dito isso antes. Nenhuma paz é eterna, afinal. Fui pegar um copo de água na cozinha e, advinhem? JJ Maybank agarrado com a enésima mulher da noite. Respiro fundo e vou até a geladeira.

—Precisa encostar? Não 'tá me vendo?

A voz estridente da loira descabelada que estava agarrada no pescoço dele ferve meu sangue.

—Precisei pegar água na geladeira, lindinha. Eu diria que você ficou no meu caminho.

—Laís, por que você não me espera no quarto?—Maybank diz e ela sorri empolgada, ignora minha presença e caminha até o andar de cima.

—Tudo bem, Kiara?

—Tudo bem, João. Você?

—Noite incrível. Muitas vitórias.

Ambiguidade sempre foi uma das manias que mais me irritou. Principalmente quando usado para deboche. Sorrio sarcástica.

—Dá 'pra ver.—levo minha mão até seu pescoço e viro levemente para o lado, observando por completo os roxos e arranhados na pele branca. Raiva e álcool definitivamente não combinam.—Marquinha de amor?

Ele sorri da maneira mais cafajeste do mundo e se desvencilha da minha mão rapidamente.

—Lembra disso ainda? Nem preciso te tocar 'pra deixar marca, né? Não vai rolar, gatinha. Você despertou um lado meu que eu sequer conhecia.

—O safado?

—O rancoroso. Levo a sério o "nunca mais".

E sai, sem olhar para trás. As minhas palavras daquela noite embrulham meu estômago e despejo o vômito na pia da cozinha.

O gosto do refluxo é de álcool e arrependimento.

The other side, jiara.Where stories live. Discover now