Capítulo 36

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Autora.

—Flashback.

23.09..2017.
A festa de primavera na casa do doutor Ward Cameron era uma tradição anual. O objetivo de homenagear sua esposa falecida através de uma comemoração à abertura da sua estação favorita do ano foi a forma que ele encontrou para fazê-la presente, ainda que sua partida precoce tenha deixado traumas que jamais serão apagados.

A noite estava linda e o evento contava com tudo da melhor qualidade. Contudo, um dia tão especial e importante para a família Cameron era sinônimo de tribulação para Kiara. Assim como todas as vezes que precisava se arrumar 'pra sair com seus pais.

—Está horrível, Kiara! Não acredito que vou ao evento elegante enquanto você parece uma bastarda.

—Mas você que escolheu o vestido, mãe...

—Minha filha, o modelo só não fica bonito em você. Porque a roupa não nos veste, nós a vestimos. E você não tem porte algum para usar uma roupa desse tipo.

—Anna, já chega!

—Michael, alguém precisa contar a verdade a ela!

—Tudo bem, pai. Não vou a lugar nenhum então.

—Claro que vai! Não pode me fazer passar essa vergonha, Kiara. Vamos logo!

Sem resposta, Kie apenas entra no carro e segura o choro durante todo o trajeto, já que demonstrar fraqueza era sinônimo de ouvir de sua genitora sobre o quanto era fraca e incapaz de controlar as emoções.

Nem as conversas na festa com  Sarah sobre a nova aventura amorosa da loira foram capazes de melhorar o humor de Carrera. Sua mãe era capaz de acordar uma versão que a morena preferia nunca ter conhecido. Contudo, ela não queria contagiar o humor radiante da melhor amiga com a energia pesada, então a escutava atenta, disfarçando o grande caos que estava em si.

—Vamos para a estufa! Preciso me encontrar com ele.

—Ele não 'tá trabalhando? O que seu pai falou sobre você se se envolver com alguém como ele?

—Como 'alguém como ele', amiga?—faz aspas com os dedos—O John B me trata feito uma princesa, meu pai o conhece e achou ótimo. Só não vamos nor ver aqui na festa porque ele está trabalhando para a equipe de garçons e teoricamente não pode largar o trabalho.

—Não pensei que ele fizesse seu tipo. Vocês não tem muito a ver um com o outro, né?

—Você não o conhece, Kiara. Como pode saber? Sai da bolha um pouco. Se for me julgar, nem precisa vir comigo.

—Não...espera! Vou com você.

Um sorriso genuíno se materializa nos lábios de Cameron e as duas caminham até a estufa. Ao chegar, JB já está esperando, mas acompanhado de um rapaz loiro que parece impaciente.

—Pensei que fosse precisar mandar minha carruagem 'pra buscar a princesa.

—Cala a boca, JJ.—Sarah responde com intimidade e dá um mini soco no ombro

—Só se me apresentar sua amiga.

—Vem, princesa. Deixa eles se resolverem.—o irmão do loiro puxa Sarah e caminha até o local combinado, com objetivo de terem mais privacidade.

Kiara não disfarçava sua nítida impaciência com a situação, principalmente porque o celular vibrando com as ligações incessantes de Marcelo faziam com que ela desejasse desesperadamente sair dali para ir ao seu encontro.

—Seja lá quem for, parece insistente. Não vai atender?

—É meu ex.—suspira—Temos coisas a resolver. Mas claro que a Sarah ia me fazer ficar de vela com um cara totalmente desconhecido.

—Você é sempre mau humorada assim? Pensei que fosse lenda urbana. Adorei o vestido.

A risada espontânea da morena é inevitável.

—Não pode me criticar e depois me elogiar.

—Nunca ouviu Jorge e Matheus? Se deita em minha cama, depois me difama.—o loiro cantarola o verso e desperta outro sorriso despretensioso em Kie.—Olha, você sabe sorrir!

—Não se acostuma.—ela rapidamente se recompõe ao notar o momento de fraqueza.—Como seu irmão conheceu a Sarah? Sem ofensas, mas eles não têm muito a ver.

—E classe social impede de beijar na boca?

—Impede de ter algo sério. São realidades completamente diferentes, sua casa é do preço dos sapatos que a Sarah usa.

Rapidamente o semblante descontraído e brincalhão de Maybank assume um ar sombrio e irritado.

—As pessoas têm mais coisa a oferecer do que um par de sapatos, dondoca. Talvez seja fora da sua realidade, mas acontece.

—Dondoca? Nem te conheço.

— E eu não faço questão alguma de te conhecer. Sua beleza não vale seu caráter aparentemente podre.

—Dá pra ficar em silêncio então?

—Como quiser.

E mesmo com uma primeira impressão nitidamente catastrófica, aquele seria só o início de uma história sem final definido.

The other side, jiara.Where stories live. Discover now