Capítulo 19

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Kiara.

Eu e Manu chegamos em São Paulo exaustas da viagem, então dormimos o resto dia inteiro depois do almoço. Quando acordamos já passavam das cinco e, uma vez que o horário do lanche da tarde  havia passado, decidi ir ao mercado comprar algumas coisas para preparar nosso jantar. Manu escolheu sopa de ervilha como cardápio e confesso que fiquei muito feliz com a escolha, porque é o meu tipo preferido de sopa.

Sempre lembro do JJ quando faço. A primeira vez que ele sugeriu preparar, eu me recordo de ter torcido o nariz, pois  eu definitivamente odeio ervilhas. Mas como ele mesmo não gosta de nenhum vegetal e tem um paladar completamente infantil, decidi dar uma chance. Se ele gostava tanto, não deveria ser tão ruim assim. Desde então, virou minha comida conforto, aquela que eu preparo quando estou em um dia ruim ou quando minha alma se sente desamparada o suficiente a ponto de precisar de um aconchego; o prato é perfeitamente capaz de me trazer o acalento que eu preciso, não só pelo sabor extraordinário, mas pelo valor sentimental.

Como a Manu ainda está se acostumando com alguns sabores, eu opto por utilizar só frango como fonte de proteína, sem calabresa ou bacon e uso vegetais diversos para aumentar o valor nutritivo. Quando nosso jantar finalmente fica pronto, arrumo a mesa, um hábito que faço questão de tornar rotina.

—Deíxia, mamãe.—a pequena diz em sussurro, com a boca toda manchada de verde.

Adoro o tempo que passamos juntas e não troco esses momentos por nada nesse mundo. Não tenho memórias afetivas da minha infância com a minha mãe, muito pelo contrário. Tudo que eu lembro desde a terna juventude inclui ser excessivamente pressionada a atingir um patamar de perfeição inalcançável. Nunca podia ser eu mesma e o meu objetivo de vida era ser alguém de quem a minha mãe sentisse orgulho. Até o dia que percebi que nada que eu fizesse poderia deixá-la feliz, já que ela queria um protótipo utópico de tudo que ela não conseguiu realizar ao longo da vida. Atualmente, a única aprovação com a qual me importo é a da minha filha.

—Agora a Manu quer tomar banho com a mamãe.

É o que entendo da fala ainda embolada da pequena.

—Claro, meu amor. A mamãe vai lavar a louça, pode me esperar um pouco?

—Sim.

Termino de arrumar a cozinha e começo a preparar o nosso banho de banheira.

The other side, jiara.Where stories live. Discover now