Capítulo 55

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JJ

Meu coração se partiu em mil pedacinhos quando eu vi o rostinho da minha filha decepcionado ao ouvir que o pai não poderia vir buscá-la. E mesmo que eu tenha testado todas as estratégias para animar a pequena, era impossível tirar um sorriso do rostinho dela.

—Sabe quem 'tá vindo nos bucar, filha? A didi. Vamos comer panquecas na sua padaria favorita.

—Tá bom, mamãe.

—A Manu vai querer panqueca de qual sabor? Kit kat ou doce de leite? A mamãe vai pedir uma de doce de leite com bastante morango e calda de leite ninho.

—Papai Marcelo gosta de panqueca verde.

A 'panqueca verde' é uma massa sabor pistache com creme de castanhas. É o sabor favorito dele, e na única vez que os dois foram juntos a esse lugar, Manu chegou a casa contando que ela havia experimentado.

—A Manu vai pedir igual a do papai? Não quer experimentar outra?

—Queria meu papai aqui.

As palavrinhas emboladas expunham um coraçãozinho completamente partido. Tudo que eu menos queria era que um serzinho tão pequeno já carregasse cicatrizes de erros que ela sequer cometeu.

—Poxa, você não quer tomar café com a mamãe?

—Vamos, mamãe.

Ela suspira e me dá as mãozinhas e não demoramos muito para ouvir a Sarah interfonar. Felizmente, minha melhor amiga foi capaz de distraí-la um pouco e fazê-la esquecer a tristeza, pelo menos por hora. Mandei mensagem para a psicóloga, que concordou em fazer uma consulta após o nosso café. Não quero que ela passe o próprio aniversário chateada, então acho importante que ela converse com alguém especializada e que possa ajudá-la a sanar algumas dores que, por mais que eu tente, jamais serei capaz.

Sarah e Manu se divertiam com os brinquedinhos que acompanhavam o cardápio infantil enquanto eu olho para o absoluto nada e penso em como eu poderia ter tomado a decisão certa. Lamentar isso agora só vai servir para que eu fique mais frustrada, mas é impossível não pensar no quanto eu queria desesperadamente que o Marcelo não fosse pai dela. De repente, meu pensamento distante se torna real ao ver um rosto conhecido, que parece ter sido atraído pela minha mente neste instante.

—Mamãe, ele parece um príncipe.—minha filha diz ao notar quem é o foco das atenções da cafeteria. Vários fãs o interrompem e pedem fotos, assim como os funcionários, e ele não hesita em atender todos com o máximo respeito possível.

—Ele é irmão do seu dindo JB, Manu.—Sarah diz, com o olhar fixo em mim.—Sabia?

—Sério? 'Mo Deus'!—ela faz uma expressão genuinamente surpresa que me arranca gargalhadas. E continua olhando hipnotizada para JJ, como se ele fosse um monumento. Não que estivesse muito distante disso, aliás.

—Quer que a didi te leve 'pra tirar uma foto?

A gargalhada gostosa faz com que nós tenhamos certeza da resposta.

—Ele joga bola, filha. Você gosta de futebol?

Ela concorda com a cabeça e se levanta, puxando a mão da Sarah para a direção do loiro. Decido segui-las. Assim que JJ percebe minha presença, é possível ver o incômodo transparecer seu semblante.Mas a sensação passa assim que vê a Manu e a Sarah.

—Manuella? Finalmente conheci a criança mais famosa da internete!—ele se agacha e ela rapidamente se esconde atrás da perna da Sarah.

—Manu, você não disse que queria conhecer? Esse é o tio JJ.

—Mamãe...—ela corre até mim e estende as mãozinhas para que eu a segure no colo e eu faço imediatamente.

—Que foi, filha? Ficou com vergonha?—me divirto com a reação enquanto ela concorda e esconde a cabeça no meu ombro.—Ele é irmão do seu dindo, amigo da mamãe.—a última descrição sai sem eu pensar muito, afinal, o último título que o JJ gostaria de ganhar certamente seria o de meu amigo.

—Me contaram que hoje é seu aniversário, é verdade?—ao ouvir a pergunta, ela volta a virar o rostinho na direção dele e acena positivamente com a cabeça.—Quantos aninhos?—ela responde o número 2 com as mãos.—Dois? Tudo isso?

—Mamãe, olha o boné dele.—é o que eu entendo da frase embolada e ainda típica de uma criança de dois anos.

—O que ela disse?—Maybank pergunta.

—Ela gostou do seu boné.

—Então esse pode ser seu primeiro presente de aniversário.—ele tira a peça e coloca sobre a cabeça da pequena. Ainda que não fique nem perto de caber e praticamente engula o rostinho dela, acho o gesto extremamente simbólico, já que ele odeia sair sem boné quando o cabelo não está cortado. Não que me surpreenda, JJ sempre adorou crianças.—E o segundo...que tal uma panqueca de kit kat?

—'Tá com moral, hein Manu!—Sarah implica—Chama ele 'pra tomar café com a gente.

—Quer tomar café comigo, mamãe e didi?—a frase em Manuellês agora é um pouco mais entendível. JJ me olha, como se esperasse uma aprovação e o meu olhar praticamente pedindo "por favor" é suficiente para que ele aceite o convite.

E de repente, uma manhã triste e solitária se transforma em risadas gostosas com um cara que ela sequer conhecia. E em situações assim eu passo a acreditar em conexões de outras vidas.

The other side, jiara.Where stories live. Discover now