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Mais tarde naquela sexta-feira

Gabriela estava diante do espelho pela vigésima vez, examinando seu traje para o encontro de hoje. Eram 18h quando ela começou a se preparar para encontrar Rebeca. Ela mal podia acreditar que sairia com a sua paixonite de Instagram. Nas últimas semanas, Gabriela havia notado Rebeca cada vez mais, e as Olimpíadas ajudaram a aproximá-las. Seu visual estava impecável: sapato branco, calça social preta e uma camisa social branca. Seus cabelos estavam soltos, com cachos perfeitos. Embora ainda faltasse uma hora para o encontro, Gabriela sentia que algo estava faltando.

Ela havia reservado um jantar em um restaurante altamente recomendado dentro da vila olímpica e planejado um passeio por pontos que descobriu enquanto explorava a vila. Gabriela, carismática e gentil, sempre se comportava como uma verdadeira “cavalheiro” quando conhecia alguém, e com Rebeca não seria diferente. Comprou um buquê temático de Vincent Van Gogh com girassóis e rosas azuis, envolto em papel azul, para aproveitar a informação de que Rebeca gostava da cor azul.

— Olha ela! — exclamou Rosamaria, que estava na porta do banheiro, aplaudindo ao ver Gabriela pronta para sair. Gabriela sorriu, achando graça nas ações da amiga.

— Gabriela, seu pai é padeiro? — perguntou Rosamaria com tom de flerte e brincadeira. Gabriela apenas balançou a cabeça com um sorriso.

— Porque você é um sonho, gatinha! — Ambas riram da cantada horrível, mas amigos são para isso, e Gabriela não se importou em compartilhar seus pensamentos com Rosamaria.

— Você acha que estou exagerando? Será que é demais levar as flores? — Gabriela estava mais insegura do que imaginava, e Rosamaria percebeu isso.

— Você está pirando com a situação. Está linda, e tenho certeza de que Rebeca vai adorar — disse Rosamaria com firmeza, dando a Gabriela uma dose extra de confiança. Gabriela se olhou no espelho, pegou o perfume e aplicou-o em pontos estratégicos.

— Acho que já vou indo então...

— Carteira, celular, chave, uma balinha de menta? Está tudo aí?

— Sim, está tudo aqui. Melhor eu ir — respondeu Gabriela, passando apressada por Rosamaria, que a observava enquanto ela se dirigia à porta. Antes de fechá-la, Gabriela olhou para a amiga, que parecia preocupada.

— O que foi?

— Não está esquecendo nada, Gabriela?

— Não, acho que não...

— Não? — o tom indignado de Rosamaria fez Gabriela se dar conta do que estava faltando.

— Ai, meu Deus, o buquê! — exclamou Gabriela, correndo para pegar o buquê com a cartinha que estava sobre a cama.

— Eu te devo uma! — disse Gabriela, saindo em direção à porta.

— Você me deve todas! — foi o último comentário de Rosamaria antes de Gabriela fechar a porta e seguir para o alojamento de Rebeca.

Ao chegar em frente ao quarto de Rebeca, seu coração acelerou mais do que o normal. Mesmo com a sensação de frio na barriga, ela tomou coragem e bateu na porta. Quando foi aberta, revelou Rebeca Andrade vestindo um body preto translúcido de manga longa, calça jeans clara e salto preto. Ela estava simplesmente perfeita

— Oi, Gabi! Estou indo já, só vou passar um pouco de batom, prometo que será rapidinho! — exclamou Rebeca, com os olhos brilhando ao avistar a amiga. Ela sorriu de um jeito misterioso e divertido, como se a noite estivesse prestes a ser repleta de surpresas.

Gabi retribuiu o sorriso, sentindo sua ansiedade dissipar ao ver Rebeca.

— Você está deslumbrante, Beca. Eu trouxe um presente para você: flores! Eu sei que isso é meio clichê, mas eu acho que combina com você e com a ocasião também, e eu lembrei que azul é a sua cor preferida. – Gabi deu um sorriso singelo tentando disfarçar seu nervosismo

— Obrigada, Gabi. Elas são maravilhosas! Posso abrir o cartão agora? Ou prefere que eu faça isso mais tarde? 
— Pode abrir agora – Esse era o sinal que Rebeca precisava, então colocou o buquê em um vaso que estava na mesa do canto e pegou o cartão para ler. 

“Espero que goste e que este seja o primeiro de muitos que terei o prazer de te dar.” 
“Gabi Guimarães” 

— Ai, você é uma fofa, né? – Rebeca comentou, tentando disfarçar a própria timidez ao receber um presente tão bonito e especial. 
— Eu tento, às vezes – Gabi sorriu para Rebeca e continuou. 
— Mas sinceramente, espero que tenha gostado. – A mais velha se revelou. 

— Eu adorei, obrigada, Gabi – Rebeca respondeu, deixando o cartão recém-recebido sobre sua mesinha de canto. Depois, caminhou na direção de Gabi, envolvendo-a em um abraço e beijando suavemente o canto de sua boca.

Após alguns minutos naquele quarto, Rebeca finalmente aplicou seu batom e as duas partiram em direção ao restaurante da Vila Olímpica. O ambiente era aconchegante e proporcionava uma vista deslumbrante das instalações e da cidade iluminada. Gabriela, então, gentilmente passou à frente de Rebeca para puxar a cadeira onde ela se acomodaria. Durante o jantar, a atmosfera era leve, marcada por conversas vibrantes e risadas que faziam o tempo voar. O charme do restaurante e o clima envolvente tornaram aquele momento ainda mais especial e inesquecível.

Enquanto desfrutavam da refeição e a conversa fluía de forma agradável, Gabriela, por um breve instante, deixou o prato de lado e decidiu se abrir um pouco mais.

— Sabe, Beca, estar aqui tem sido maravilhoso, mas também bastante desafiador. É complicado ignorar os comentários negativos e a pressão. Sua companhia tem sido uma verdadeira âncora para mim, especialmente após aquele jogo contra os Estados Unidos, ter a oportunidade de dialogar com você e compartilhar tudo isso… realmente fez uma diferença enorme para mim. Não costumo me abrir assim, mas quando você me encontrou naquela praça, eu estava me sentindo muito culpada e parecia que carregava um peso enorme sozinha. Assim que você começou a falar comigo, senti que aquele fardo havia diminuído, e isso foi fundamental para mim, então, obrigada.

Rebeca olhou para Gabriela com empatia, oferecendo um sorriso acolhedor. Um pouco hesitante, ela segurou delicadamente a mão de Gabriela, que estava afastada do prato.

— Você é uma capitã extraordinária e uma das melhores que já vi na sua posição nesse esporte que você tanto ama. É normal sentir pressão, e sinceramente? Assistir você jogar é algo mágico. Se você precisar conversar, estarei aqui não apenas nos bons momentos, mas também nos difíceis. – Comentou Rebeca, exibindo um sorriso suave enquanto fixava o olhar em Gabriela, que manteve o contato visual firme sem hesitar. Gabriela segurou a mão de Rebeca com um abraço ainda mais forte e, em um gesto rápido, inclinou-se para depositar um beijo ligeiro nas mãos dela. 
— Agradeço por isso!

O restante do jantar fluiu de maneira leve e descontraída. Logo, elas se levantaram após Gabriela insistir em pagar a conta, uma vez que foi ela quem convidou Rebeca para o encontro. A amiga concordou, após ouvir Gabi prometer que, em outra ocasião, deixaria que ela pagasse algo. Ao passearem pela vila olímpica, já passava das 22h, mas isso não impediu que se divertissem e tirassem fotos, trocando elogios e flertes a todo momento, revelando a cumplicidade que as cercava. Gabriela acompanhou Rebeca até a porta de seu alojamento; ao se despedirem, Rebeca surpreendeu Gabriela com um beijo mais intenso, pegando-a de surpresa. Contudo, Gabi imediatamente retribuiu com fervor, empurrando delicadamente Rebeca contra a parede do seu alojamento. Ela a puxou para mais perto, segurando o colarinho da camisa social de Gabi, e ambas deixaram transparecer todo o desejo que guardavam uma pela outra. No meio do corredor vazio, perderam-se em um momento que parecia durar uma eternidade, até que terminaram o beijo com um selinho demorado. Olharam-se, sentindo a ardência do desejo pulsar em ambas, mas sabiam que não podiam prosseguir, pelo menos não naquela noite.

— Vou voltar para o meu quarto, te vejo depois? – perguntou Gabriela, ainda colada a Rebeca, que estava hipnotizada, fixando os olhos na boca da jogadora.

— Claro, me manda uma mensagem quando chegar, tudo bem?

— Pode deixar, Beca. – Antes de seguir seu caminho, Gabriela concedeu mais um beijo em Rebeca, que sorriu com o gesto antes de entrar em seu quarto.

Meia noite em Paris | REBIOnde histórias criam vida. Descubra agora