cp01: isla

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Eu fui a primeira.

"Desde o momento em que fui arrancada dos braços da minha mãe e levada para uma terra desconhecida, soube que não era como os outros. A areia do deserto sussurrava segredos ao vento, e os raios, meus companheiros mais leais, sempre estavam prontos para responder ao meu chamado. Mas crescer na Nação Egípcia não era apenas uma questão de sobrevivência; era um teste do meu destino. Eu, Isla Stormsong, nascida sob a tempestade, destinada a algo que ainda não compreendia."

A pequena embarcação cortava o rio Nilo, as águas escuras refletindo o céu noturno. Isla, ainda um bebê, estava envolta em panos de linho dourados, que contrastavam com a palidez de sua pele. Os olhos azuis, mesmo naquele instante, pareciam ver mais do que qualquer criança deveria.

O homem que a segurava era um sacerdote, enviado diretamente pelos deuses, ou assim ele acreditava. As ordens eram claras: levar a menina para o Grande Templo de Ra, onde ela seria criada sob a proteção dos deuses egípcios. Havia um pressentimento de que ela não era uma criança comum, e o Egito era o único lugar onde o seu poder poderia ser domado, ou pelo menos, compreendido.

Os primeiros raios do sol cortaram o horizonte quando o barco atracou. Isla abriu os olhos e soltou um pequeno grito, e naquele instante, um raio rasgou o céu azul claro. Os sacerdotes se entreolharam, já conscientes de que estavam lidando com uma força além de sua compreensão.

Os dias se passaram, e Isla começou a crescer dentro dos altos muros do templo. A areia do deserto se tornou sua companheira, moldando-se de acordo com sua vontade, formando redemoinhos ao seu redor quando ela brincava sozinha. Os sacerdotes observavam à distância, maravilhados e temerosos.

"Os deuses sussurram para mim nas noites quentes do deserto. Às vezes, não entendo suas palavras, mas sinto que são importantes, que estou sendo preparada para algo que vai além deste templo, além desta terra. As estrelas, que brilham com tanto fervor no céu egípcio, me dizem que minha jornada apenas começou."

Enquanto Isla crescia, seu poder aumentava. Ela começou a entender que não era uma criança comum. O trovão respondia ao seu chamado, os raios caíam onde seus dedos apontavam, e o vento era seu aliado mais fiel. Mas, além de tudo isso, havia um vazio dentro dela, uma sensação de que algo estava faltando.

"Cresci sozinha, entre os sacerdotes e as paredes douradas do templo. As histórias que ouvi sobre minha origem, sobre minhas irmãs perdidas, me assombravam. Sabia que não pertencia inteiramente àquela terra, mas também não podia deixar de sentir que o Egito fazia parte de mim. Talvez o deserto e eu fôssemos uma só alma, dois lados de uma mesma moeda."

Aos sete anos, Isla já era uma lenda entre os habitantes da Nação Egípcia. Alguns a chamavam de filha de Ra, outros a temiam como uma enviada do caos. As crianças da aldeia próxima evitavam seus olhos, mas a seguiam à distância, curiosas com seu poder. Isla, no entanto, sentia a solidão pesar em seus ombros jovens.

Certa noite, enquanto o vento do deserto assobiava entre as dunas, Isla subiu até o topo do templo, o ponto mais alto que podia alcançar. De lá, ela observou as estrelas, que pareciam brilhar mais intensamente naquela noite. Foi então que uma visão tomou conta dela.

Ela viu um grupo de meninas, cada uma com uma habilidade extraordinária, como a dela. Elas estavam espalhadas por terras distantes, separadas pelo destino, mas conectadas por algo mais profundo que sangue. Isla soube, naquele instante, que não estava sozinha.

**"Elas são minhas irmãs. Mesmo à distância, posso sentir suas presenças. O Egito é minha casa agora, mas meu coração anseia por algo mais, por um destino que ainda não consigo nomear. Sei que um dia terei que partir, que minha jornada me levará para longe destas areias, mas por enquanto, sou a filha do deserto, a voz da tempestade."**

as 13 wanhedaOnde histórias criam vida. Descubra agora