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Joana

Acordei algumas horas depois, com a luz suave do abajur iluminando o quarto. Marc ainda não tinha voltado. O som da água do chuveiro tinha parado fazia tempo, e o silêncio agora preenchia o espaço ao meu redor. Eu me estiquei na cama, tentando me ajustar e me sentir confortável de novo, mas algo no ar parecia inquietante, como se alguma conversa estivesse pairando no espaço entre nós, esperando para acontecer.

Antes que eu pudesse me perder nos meus próprios pensamentos, a porta do banheiro se abriu e Marc apareceu, com os cabelos molhados e vestindo apenas uma toalha em volta da cintura. Ele parecia mais relaxado, mas ainda havia um ar de hesitação em seus olhos.

— Dormiu, maracujá? — ele perguntou com aquele tom suave, sentando-se na beira da cama e deixando seus dedos roçarem levemente minha perna.

— Dormi um pouco, mas acho que a expectativa do dia de amanhã me acordou — respondi, tentando manter a conversa leve, mas sentindo a tensão entre nós aumentar.

Marc sorriu, mas não respondeu de imediato. Ele ficou ali, olhando para mim, seus olhos me estudando como se estivesse tentando decifrar algo. Era aquele tipo de silêncio que geralmente precede uma conversa importante, e eu sabia que estava chegando a hora de falarmos sobre o que estava acontecendo entre nós.

Finalmente, ele se levantou e foi até a janela, olhando para a vista de Barcelona à noite, a cidade ainda pulsante sob as luzes, mesmo àquela hora.

— Você já pensou... — ele começou, a voz baixa e cheia de significado — que às vezes as coisas mais importantes ficam presas nas entrelinhas?

Eu me sentei na cama, sentindo meu coração acelerar.

— O que você quer dizer com isso?

Ele deu de ombros, ainda sem me olhar diretamente.

— Só acho que, às vezes, deixamos de dizer o que realmente sentimos por medo de estragar tudo. Mas, no fundo, sabemos que o silêncio também fala muito.

O peso das palavras dele caiu sobre mim, e de repente, a noite passada, as brincadeiras, os toques sutis, tudo começou a fazer sentido. Havia algo ali, algo que ambos estávamos evitando nomear.

Eu me levantei e fui até ele, ficando ao seu lado, olhando para as luzes da cidade.

— Você acha que estamos deixando algo importante nas entrelinhas? — perguntei, a voz quase um sussurro.

Marc virou-se para mim, finalmente me olhando nos olhos. Seus dedos tocaram meu rosto com delicadeza, e ele deu um sorriso suave, quase triste.

— Eu acho que já estamos há algum tempo nas entrelinhas, Joana. Talvez esteja na hora de falarmos abertamente sobre isso.

Senti meu coração disparar. Tudo o que havíamos vivido nos últimos dias, todas as emoções que eu tentava ignorar, agora estavam ali, à flor da pele, esperando para serem resolvidas.

— E o que você quer dizer? — perguntei, minha voz traindo a ansiedade que sentia.

Marc suspirou, como se estivesse reunindo coragem para responder. Então, ele se aproximou mais, seus lábios a centímetros dos meus, e sussurrou:

— Eu quero dizer que... acho que estou me apaixonando por você.

O mundo ao nosso redor pareceu parar naquele instante. Eu sentia o calor de sua proximidade, o ritmo de sua respiração, e as palavras dele ecoaram em minha mente. Eu também sentia algo por ele, algo que vinha crescendo a cada dia, mas que eu temia admitir.

Porém, antes que pudesse responder, ele inclinou-se e, com uma delicadeza que parecia planejar há muito tempo, seus lábios tocaram os meus, suaves e hesitantes, como se ainda houvesse uma última dúvida entre nós. E, naquele momento, todas as incertezas desapareceram.

Alô-bernalOnde histórias criam vida. Descubra agora