Joana
O sol já estava se pondo quando eu encontrei Marc novamente, desta vez em um dos meus cafés favoritos, no coração do Born. Eu gostava daquele lugar porque tinha algo de aconchegante e secreto, como se fosse um refúgio escondido entre as ruelas de Barcelona. Marc já estava lá, como sempre, com aquele sorriso fácil, mas havia algo de diferente no seu olhar. Era como se a conversa de dias atrás tivesse deixado marcas sutis, mas presentes.
- Oi, Joana - ele disse, levantando os olhos do celular quando me viu entrar. - Como foi o dia?
- Oi, Marc - respondi, sorrindo de volta. Sentei-me à mesa, mas não consegui deixar de notar como ele parecia mais calmo, como se tivesse encontrado algum tipo de clareza, enquanto eu ainda estava presa em um emaranhado de pensamentos. - O dia foi bom. O trabalho, sabe como é... sempre aquela correria.
Ele assentiu, mas sua atenção parecia mais voltada para mim do que para o que eu dizia. Aquela sensação de estar sendo observada, de alguma forma, já me era familiar. Era como se ele estivesse esperando que eu dissesse algo, algo além do trivial.
- E você? - perguntei, querendo quebrar o silêncio tenso que havia se instalado entre nós desde que ele entrou no café. - Como anda sua exposição?
Marc sorriu, como sempre fazia quando falava sobre sua paixão pela fotografia. Ele se animava, e a conversa fluía com naturalidade. Eu gostava de vê-lo assim, com a voz cheia de entusiasmo, os olhos brilhando enquanto compartilhava suas ideias e planos. Mas, ao mesmo tempo, percebia que algo em mim se fechava um pouco. Como se fosse difícil lidar com aquele momento entre nós sem que o peso das palavras não ditas se fizesse sentir.
- Vai ser incrível - ele disse, com um brilho no olhar. - Estou empolgado. Acho que vai ser uma oportunidade importante para mim. E você, o que anda fazendo?
A pergunta era simples, mas eu soubera o que estava por trás dela. Ele queria saber o que eu estava pensando. Queria, de algum modo, me puxar de volta para um terreno comum. Eu podia perceber a ansiedade disfarçada de suavidade, o jeito como ele parecia querer que eu me sentisse à vontade, que as coisas voltassem ao que eram antes. Mas eu sabia que não era tão simples assim.
Respirei fundo antes de responder.
- Tenho pensado muito sobre as coisas... sobre o que estamos fazendo aqui, você sabe, juntos - disse, hesitando um pouco. Marc levantou uma sobrancelha, o olhar atento. Ele sabia que algo estava prestes a ser dito, algo mais profundo do que simples palavras sobre cafés ou exposições. - Não é fácil, sabe? Como a gente se conhece bem, mas ao mesmo tempo, tem esse... espaço entre a gente, esse silêncio que parece pesar.
Marc me olhou, mas não disse nada de imediato. Ele apenas ficou ali, observando-me com uma atenção que, de alguma forma, me fez sentir como se ele soubesse o que eu estava tentando dizer, mesmo que eu ainda não tivesse conseguido encaixar as palavras certas.
- Você está falando do que a gente já falou, não é? - disse ele, por fim, quebrando o silêncio.
Eu assenti, me sentindo um pouco mais leve, como se ele finalmente tivesse captado o que estava por trás das minhas hesitações.
- É... Eu pensei que tinha entendido, mas agora não sei mais. Às vezes, fico me perguntando se a gente está apenas adiando o inevitável, ou se... se estamos realmente fazendo a coisa certa.
Marc colocou a xícara de café sobre a mesa, com uma suavidade que contrastava com a intensidade da conversa. Ele estava pensando, processando minhas palavras, sem pressa de responder. Eu esperava algo mais imediato, talvez uma confirmação de que ele também se sentia perdido em meio ao que havia entre nós. Mas ele simplesmente ficou ali, imóvel, olhando para mim.
- Você acha que o que temos é pouco? - ele perguntou finalmente, com a voz tranquila, como se a pergunta fosse apenas uma constatação.
Eu balancei a cabeça, tentando organizar os sentimentos antes de falar.
- Não é isso - respondi, com sinceridade. - O que temos é muito, Marc. Nossa amizade... ela significa mais do que qualquer coisa para mim. Mas, ao mesmo tempo, tenho medo de que, se formos além disso, acabemos perdendo a conexão que já temos. E eu não quero perder você. Não assim.
Ele permaneceu em silêncio por um momento, os olhos fixos nos meus. Havia uma calma nele que contrastava com o turbilhão dentro de mim. Eu estava tentando controlar o que sentia, mas sabia que era impossível enganar a mim mesma por muito tempo.
- Eu sei o que você quer dizer - ele disse finalmente, com uma suavidade que me fez sentir como se o peso da conversa já estivesse mais leve. - Às vezes, as coisas são mais complexas do que parecem. E eu também não quero arriscar o que a gente tem.
Eu senti um alívio profundo, mas também uma tristeza silenciosa. O que ele estava dizendo, de certa forma, era a mesma coisa que eu sentia. Que não importava o quanto nossos corações quisessem algo mais, o melhor talvez fosse continuar a caminhar ao lado um do outro, sem forçar algo que pudesse desmoronar.
A conversa ficou mais leve depois disso. Marc voltou a falar sobre a exposição, e eu me vi sorrindo, rindo das piadas que ele fazia, aproveitando o momento como sempre fizemos. Mas havia algo de diferente, algo que não conseguíamos mais ignorar. A amizade, tão sólida como uma rocha, agora carregava uma tensão sutil, uma corda invisível que nos conectava de maneira mais intensa do que antes.
Quando o café estava praticamente vazio e a noite começava a cair sobre a cidade, Marc se levantou.
- Vamos caminhar? - ele perguntou com um sorriso suave.
- Claro - respondi, levantando-me também.
Caminhamos pelas ruas de Barcelona, mas dessa vez, não parecia mais a mesma cidade de antes. Não por causa da atmosfera, nem pela luz dourada das ruas. Mas porque, ao lado de Marc, eu sentia que estávamos prestes a cruzar uma linha que não podíamos mais voltar atrás. A pergunta, que até então permanecia submersa em silêncio, agora parecia estar pairando entre nós. E eu não sabia se estava pronta para enfrentá-la.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Alô-bernal
FanfictionAlô 'Tás ocupada 'Tás a fim de ver nascer a manhã Alô, futuro presidente ligou Liguei-te em privado mas alô Mecânico em baixo de ti Posso-te desmontar em cima do meu capot Queres vir experimentar o edredon Sujar a almofada com batom