Onze

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A noite já tinha chegado quando Ayla saiu sem rumo pela cidade em seu carro. Sua mente confusa entre a tristeza e o limbo do vazio, a fez ignorar alguns sinais vermelhos – certamente receberia uma multa alta mais tarde – durante o caminho que ficava familiar aos poucos.

Um misto de emoções e sentimentos dominavam a mulher durante seu trajeto até o andar que já conhecia. A visão levemente embaçado a levava a pensar nas palavras que tinha ouvido mais cedo. Não deveria afetá-la quando tinha sido abandonada por essa pessoa e que agora nem viva estava, na verdade, para Ayla sempre esteve morta.

A porta de Taehyung estava a sua frente, não fazia ideia quando sua mente a fez ir até lá ou por qual motivo, talvez por não querer ficar em casa e por não querer dar essa notícia que seu progenitor estava oficialmente morto, e não mais apenas ausente sem dar sinal de vida, e sim sem vida e deveria já estar em um caixão descendo 7 palmos da terra. Deveria ser trágico?

Ouviu o elevador abrir suas portas, virou-se e deu de cara com Kim Taehyung. Cansado, maleta em uma mão enquanto a outra afrouxava a gravata, olhar exausto e roupas amarrotadas. Por um segundo esqueceu quem tinha morrido e queria apenas focar nos vivos.

Ele a olhou subitamente assustado com a sua presença ali, a boca entreaberta numa expressão entre surpresa e outra coisa que ela achava que seria preocupação.

— Ayla? O que está fazendo aqui? — ele analisou o rosto dela, parecendo procurar algum tipo de sinal. — Está tudo bem? Aconteceu algo?

— Bom, aconteceu, mas não comigo. — Sorriu melancólica, procurava encontrar seu verdadeiro sentimento mas sempre falhava. — Estou sendo inconveniente? Desculpe, eu apenas... Posso ir embora, não pensei bem antes de vir. — tentou passar por Taehyung para entrar no elevador, sendo interrompida pelo mesmo.

— Não — ele disse, firme enquanto a encarava. — Não está sendo inconveniente e não precisa ir embora. Entre um pouco. Acho que tenho chá em algum lugar...

— Tem tequila?

Taehyung deu um riso fraco e assentiu.

— É, também acho que tenho isso em algum lugar. — Ele umedeceu os lábios. — Então, você vai entrar?

— Seria burrice negar umas doses agora.

Taehyung entrou na sua frente para abrir o apartamento com seu molho de chaves. Entrou no apartamento deixando o homem para trás. Notou uma bola de pelos correndo para seus pés e arqueou uma sobrancelha.

— Você sempre teve esse cachorro ou eu não notei ele da última vez? — Apesar da pergunta, não hesitou em pegar o cachorro no colo que se agitou em aprovação.

— Esse é o Yeontan. Ele estava no pet shop quando você veio. Não dê muita confiança, ele é um romântico desesperado.

Ayla riu.

— Parece já ser tarde demais. — Abraçava a bola de pelos perto de seu rosto aproveitando para sentir o cheiro gostoso de shampoo de petshop de luxo.

Taehyung colocou a maleta no sofá e foi em direção à uma mesa pequena em um canto da sala, repleta de alguns tipos de bebidas caras. Ele começou a despejar as bebidas para eles.

— Então... hm... — ele pigarreou. — Você quer... sei lá, conversar? Sobre... o que lhe deixou assim?

Ayla se aproximou, deixando Yeontan em cima do sofá antes de se aproximar de Taehyung e a bebida. Apanhou um dos copos, tornando de uma vez. Ele a olhou assustado.

— Já sofreu ao perder alguém que você sequer dava importância? — Olhos curiosos, confusos, ou apenas cansados.

Ele levou um tempo para responder. Enquanto isso, foi tirando o blazer e a gravata de uma vez. Automaticamente seu olhar se concentrou em cada movimento, a rapidez, o jeito único que ela afirmaria que apenas ele teria, e caralho, era normal sentir a necessidade de pressionar suas coxas assim, mesmo estando de "luto"?

— Acho que não posso dizer que sim. Não que eu lembre — Taehyung buscou o copo de bebida – ela achava que era uísque no copo dele – e bebeu um pouco. — Você quer um cigarro?

Assentiu, estendendo a mão quando ele buscou o maço de cigarro no bolso da calça.

— Como está com seu pai? — Queria mudar de assunto, mudar o pai da questão para o que estava vivo e precisam lidar verdadeiramente.

Taehyung fez uma careta ao ouvir a pergunta e estendeu o isqueiro para Ayla acender o próprio cigarro, como se quisesse evitar o evento anterior quando estavam fumando juntos pela última vez.

— A mesma coisa de sempre. Sabe como é. Figura paterna do ano. Estou pensando em comprar uma caneca de dia dos pais — e soltou a fumaça. A coisa mais sexy que Ayla tinha visto.

— Talvez ele até mereça blusas combinando, você ficaria lindinho. — Riu ladino levando o cigarro até a boca, sentindo o olhar dele cair em seus lábios.

Taehyung riu e balançou a cabeça, olhando para ela. Ele engoliu a seco e ficou sério novamente apenas o fantasma do sorriso no seu rosto.

— Você está bem?

Suspirou, dando um sorriso no mínimo aceitável para convencer alguém de sua saúde mental na atual situação.

— Ótima. — Tragou mais uma vez, dessa vez com força e deixou a fumaça ir. — Sinto que posso começar meu TCC agora mesmo.

Taehyung não riu, no entanto. Ele umedeceu os lábios – algo que estava começando a irritá-la porque ele ficava ainda mais bonito ao fazer isso – e franziu a testa.

— Você pode vir aqui quando quiser. Ou sei lá, aparecer no meu escritório. — Pareceu sem graça, então acrescentou rapidamente: — Sabe, assim fica mais real, além de tudo.

Sorrindo diferente, Ayla proferiu:

— Tem certeza que quer dar essa liberdade? — Se aproximou minimizando a distância dos dois. Apagou o cigarro no cinzeiro e olhou para ele. — Pode ser algo que não aguente depois.

Não sabia muito bem o que fazia, mas tudo parecia tão natural que sua confusão aos poucos se desvanecia ao conversar com o Kim. De fato, a morte de seu pai ausente desde seu nascimento não a afetava de verdade, e sim talvez aquele homem.

Ela tinha sentido que tinha o afetado com a proximidade ou talvez com a pergunta, porque Taehyung olhou para baixo – para seu corpo – antes de desviar o olhar e levar o cigarro à boca.

— Você é minha noiva, afinal, não? É natural que venha ao meu apartamento ou passe no meu trabalho.

E ali estava ele de novo – colocando um abismo entre eles.

— Ah sim. — afastou-se se encolhendo em seu casaco. — Acho que tem razão. — Seu sorriso tímido levemente chateado parecia ter o afetado, mas ela não ligou. Ele tinha razão. Ela era apenas sua noiva de mentira, contratada. Não devia se dar toda aquela liberdade. — Acho melhor ir. Não quero atrapalhar sua noite.

— Ayla — ele chamou, mas ela já estava indo em direção à porta.

— Até a próxima missão, Kim Taehyung.

Sorriu singela antes de sair porta afora e sentir um peso diferente com que tinha chegado ali. Se sentiu uma idiota, estava sob efeito de álcool e estaria ferrada se fosse parada, mas em sua cabeça não seria tão pior quanto a quantidade de multas que tinha levado mais cedo, ou até mesmo comparado ao abismo que Ayla tentou atravessar.

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