Quatorze

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Ele olhava para o convite, ainda sem saber o que fazer.

Jungkook estava sentado na poltrona do seu escritório jogando uma bola de ping pong na parede e pegando ela de volta quando ricocheteou no chão e na sua palma. Ele estava cantarolando alguma música que, de certa forma, fazia Taehyung se sentir mais calmo – Jeon tinha uma voz angelical.

CONVITE
Encontro das Turmas de 2020.1
Universidade de Seoul
Neste sábado, às 19h.

Tinha sentimentos conflitantes sobre isso.

Durante a graduação, tinha alguns amigos. Quatro, para ser mais preciso. Eles eram seu mundo inteiro, assim como Jeon virou o seu quando começaram a trabalhar juntos um bom tempo atrás. Agora, ele se sentia perdido sobre o que deveria fazer.

Não porque não quisesse ir – ele na realidade achava que queria muito –, mas porque se lembrava de todas as vezes que o seu pai o forçou a faltar às reuniões e jantares que o grupo marcava quando tinham acabado a universidade. Depois de um tempo eles só pararam de ligar. Ele não os julgou, apesar de ter se importado pra caralho – ele faria o mesmo se tivesse no lugar deles, ninguém gostava de implorar por atenção.

Ele piscou, ouvindo a voz de seu pai no seu ouvido, mesmo que ele não estivesse nem na empresa naquele dia.

Está na hora de você assumir as responsabilidades totais da empresa, estar num cargo importante. Não vai ter tempo para essas baboseiras de sair para beber com esses seus amigos. Eles não vão lhe dar futuro. A Cypher Tech vai.

Ele olhou para Jeon, a única vida social que tinha lhe restado. Não era nem uma surpresa que Taehyung estivesse solteiro numa altura daquelas, quase fazendo trinta anos – não podia ir à encontros, porque estaria colocando outra coisa que não fosse a empresa em primeiro lugar, e isso ele não podia fazer. Seu trabalho era tudo para ele.

Agora, enquanto encarava o papel cor de creme se perguntava se tinha feito o correto ao simplesmente cortá-los de sua vida. Talvez ele pudesse ter ido em uma ou duas reuniões, ainda ficar sondando-os de longe, mas nunca realmente ausente. Ele sabia que era tarde demais para lamentar e se sentia solitário por isso.

O mais novo virou o rosto para ele quando sentiu o peso do seu olhar. Sorriu.

— O que foi?

Taehyung balançou a cabeça.

— Convite de reunião da turma da faculdade — mostrou o papel antes de pousá-lo na mesa.

Jungkook franziu a testa.

— Achei que você gostasse da sua turma.

Taehyung deu de ombros.

— Eu conheço essa cara. O que foi? — perguntou, novamente.

O Kim olhou para Jeon. Nunca conseguia esconder nada dele.

— Você acha que eu deveria ir? Tipo... mesmo depois de ter ficado esse tempo todo sem falar com eles?

— Não faz tanto tempo assim — Jungkook refletiu. — E ninguém ia te crucificar por sair um pouco de casa e desse escritório. Você precisa.

— Não sei — Taehyung respondeu. — E se eles não me quiserem lá?

— Eles não teriam mandado o convite — Jungkook disse, simplista. — Escuta, se te faz ficar mais tranquilo, leve Ayla.

O rosto de Taehyung deveria ter denunciado algo que ele não teve como controlar, porque a expressão de Jeon mudou para uma careta de aviso.

— O que você fez?

— Eu não fiz nada! — Taehyung levantou as mãos em defesa.

— Essa sua cara de quem fez alguma coisa — Jungkook estreitou os olhos, suspeito. — Você não tá transando com ela, tá? Olha o que a gente conversou...

— Não tô transando com ninguém! — Taehyung disse, revirando os olhos e sentindo o rubor subir ao rosto. Embora quisesse muito, completou em pensamento.

— Sua expressão diz outra coisa.

— Não transei com a Ayla — repetiu. — Nem com ninguém. Porra, não me fazem tantas perguntas assim nem quando vou ao médico.

— Então o que você fez, senhor Kim Taehyung? — Jungkook levantou e cruzou os braços, se aproximando de Taehyung.

Era inútil. O mais velho se recostou na cadeira acolchoada que estava sentado e bufou. Passou a mão pelo cabelo e umedeceu os lábios ao lembrar da noite do jantar.

— Eu talvez possa ter insinuado que gostaria de saber o que anda acontecendo nas peças íntimas dela enquanto está comigo — Taehyung disse, quase que pausadamente.

— Que porra é essa, Taehyung?! — Jungkook passou a mão no rosto, irritado. O mais velho encolheu os ombros. — Achei que você tivesse "autocontrole" — Jeon fez aspas no ar. — Pra onde foi esse autocontrole, hein?

— Você não entende — Taehyung balançou a cabeça. — Ela estava usando um vestido... — ele estava ouvindo o quão desesperado estava soando. Respirou fundo. — Foi ela quem começou. Perguntou se eu queria adivinhar a cor da calcinha dela. Você deveria estar brigando com ela!

— Não estou brigando com ela porque não posso brigar com ela! Você é meu amigo, posso te bater o quanto eu quiser — ao dizer isso, ele bufou. — Se vocês começarem a misturar as coisas...

— É, eu sei — Taehyung disse. — Eu sei. Foi um momento de deslize. Não vai acontecer de novo.

— Ótimo.

Tudo estaria fodido se ele cedesse – essa situação de noivado de mentira estava acabando com sua cabeça. Sabia que provavelmente seria um escape de hormônio, ele estaria feliz fodendo e logo depois estaria fodendo com tudo porque não teria mais uma noiva de mentira quando começassem a se envolver emocionalmente. Ayla iria embora porque ele era incapaz de manter um relacionamento real, e ele estaria sozinho nisso. E não receberia a posse da empresa.

— Você acha mesmo que eu deveria ir? Ao encontro?

— Eu acho. Mas você nunca diz nada do que eu peço, aparentemente — Jungkook pegou o celular e colocou no bolso. — Preciso ir. Se cuida. E não faça merda.

Taehyung fez uma continência de brincadeira para o amigo, que saiu logo em seguida.

Ele buscou o celular e mandou mensagem para o motivo pelo qual ele tinha dormido mal na noite anterior com dificuldade de acalmar as reações de seu corpo e os pensamentos.

Kim Taehyung

Você tem algo para fazer sábado às 19h?

17h02

luxury escort | kim taehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora