Capítulo 10: O Confronto na Mansão

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Uriel caminhava pelas ruas silenciosas de Tropan, suas botas pisando levemente no chão de pedras gastas, como uma sombra que se movia furtivamente sob a luz fraca das estrelas. Tropan era uma cidade pacífica, onde as criaturas mais variadas viviam em relativa tranquilidade. Mas Uriel não estava interessado em paz. Não enquanto a agitação dentro de si queimava como um fogo incontrolável.

Ele sabia exatamente onde encontrar Lyron.

A mansão era imponente, seus muros altos e jardins bem cuidados denunciavam o status de seu ocupante. Uriel, no entanto, não era impressionado por luxos. Seus olhos estavam fixos no objetivo. Com uma habilidade silenciosa, ele se esgueirou pelos corredores, passando por guardas distraídos e empregados desavisados. Seu destino era claro: o escritório de Lyron.

Ao abrir a porta com um empurrão cuidadoso, Uriel entrou sem fazer barulho, seus olhos rapidamente localizando a figura alta e imponente de Lyron atrás de sua mesa, revisando documentos. O general levantou o olhar lentamente, seu rosto incrédulo ao ver quem havia ousado entrar.

— Uriel? — disse Lyron, a surpresa evidente em sua voz, mas mantendo sua postura firme. — Nunca pensei que te veria novamente, principalmente aqui. Não sabia que você ainda estava vivo.

Uriel sorriu, mas era um sorriso frio e cruel, quase desprovido de qualquer emoção humana. Ele fechou a porta atrás de si com um gesto lento, caminhando casualmente pelo escritório como se fosse o dono do lugar.

— Ah, sim, eu estava longe, ocupando meu tempo em coisas… mais importantes — disse Uriel, sua voz pingando sarcasmo. — Mas veja só, aqui estou eu, e adivinha o motivo? Você sabe, Lyron, eu nunca fui de abandonar assuntos inacabados.

Lyron se levantou de sua cadeira, mantendo a compostura diante da presença de Uriel, mas os olhos do meio-leão estavam atentos. Ele sabia que qualquer movimento errado poderia levar a um conflito indesejado, mas estava preparado.

— Se você veio até aqui para causar problemas, Uriel, saiba que este não é o lugar. Há coisas em jogo que você não compreende — disse Lyron, sua voz calma, mas carregada de advertência.

Uriel riu, um som áspero que reverberou nas paredes da sala.

— "Coisas que eu não compreendo"? — repetiu ele, zombeteiro. — Oh, por favor, Lyron. O que eu compreendo perfeitamente é que você sempre quis afastá-lo de mim. Sempre ficou ao lado dele, como se fosse o protetor perfeito, o amigo fiel. Mas eu sei o que você realmente sentia por Kael'thar.

Lyron franziu a testa, mas sua voz permaneceu firme.

— Eu o amava como um irmão, Uriel. Ele era meu amigo, e eu sempre fiz o que era melhor para ele. Algo que você parece ter esquecido no seu desejo obsessivo de possuí-lo.

Uriel se aproximou rapidamente, sua expressão distorcida pela fúria reprimida.

— Não ouse falar como se você soubesse o que era melhor para ele! Eu fui o único que esteve lá, o único que se sacrificou por ele! Eu fiz tudo por Kael'thar, e você… você apenas o sentenciou à morte!

Lyron deu um passo para trás, sua mão instintivamente indo para a lança que estava ao lado da mesa. Os olhos de Uriel seguiram o movimento, e ele sacou sua espada com um movimento fluido, seus olhos brilhando com uma mistura de raiva e determinação.

— Então é assim que vai ser? — perguntou Lyron, segurando a lança com firmeza, mantendo a calma. — Você realmente quer resolver isso com violência? Isso não vai trazer Kael'thar de volta.

Uriel avançou, e o som de aço contra aço ecoou pela sala quando as lâminas se encontraram. A força de Uriel era imensa, mas Lyron mantinha sua postura defensiva, desviando os golpes com precisão. O escritório, antes um local de tranquilidade, agora era um campo de batalha improvisado.

— Não me importa o que você acha que é melhor, Lyron! — rosnou Uriel, sua voz cheia de ódio. — Eu vou encontrar o que me pertence. Ele era meu, sempre foi meu! E se o que você diz sobre essa tal reencarnação for verdade… então eu vou caçar ele até os confins do mundo!

Lyron parou por um momento, as palavras de Uriel atingindo um ponto sensível. Ele recuou alguns passos, sua lança abaixada momentaneamente enquanto tentava acalmar o outro.

— Kael Sylv não é o Kael'thar que você conheceu, Uriel. Ele é diferente, ele não tem as memórias do passado. Você vai destruí-lo se tentar fazer dele o que Kael'thar era. — A voz de Lyron estava cheia de preocupação genuína, mas também de firmeza.

Uriel, no entanto, estava cego pela raiva e pela dor acumulada ao longo dos séculos. Ele investiu novamente, forçando Lyron a se defender com mais intensidade. A batalha continuou feroz, mas ambos sabiam que aquilo era mais do que uma simples troca de golpes.

Era uma batalha entre o passado e o presente.

Com um giro ágil, Lyron conseguiu desviar um golpe perigoso e usou a lança para empurrar Uriel para trás. Os dois ofegavam, parados a poucos metros de distância um do outro.

— Você não entende, Uriel — disse Lyron, sua voz um pouco mais suave, mas ainda firme. — Kael'thar tomou sua decisão, e eu apenas fiz o que era necessário para cumprir o desejo dele. A reencarnação foi a única maneira de lhe dar uma segunda chance. Mas se você tentar arrastá-lo de volta ao que ele era, só vai destruí-lo.

Uriel apertou os punhos ao redor de sua espada, seus olhos brilhando com a raiva, mas também com algo mais… dúvida.

— Eu… não posso perder ele de novo — murmurou Uriel, sua voz quebrada por um momento, antes de se recompor. — Eu vou encontrá-lo. E quando eu encontrar, ninguém vai me impedir de trazê-lo de volta para mim. Ninguém.

Ele deu um passo para trás, ainda com a espada em mãos, mas seu olhar fixo no de Lyron.

— Você disse o nome dele… Kael Sylv. Eu vou encontrá-lo, Lyron. E então veremos quem está certo.

Sem esperar uma resposta, Uriel virou-se e saiu pela mesma porta por onde entrou, deixando Lyron para trás, seus pensamentos consumidos pela preocupação com o que viria a seguir.

Entre Marés e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora