Kael se encontrou na cidade de Dreel, localizada em Versalhes, vagando sem rumo definido, guiado apenas por um instinto primitivo que o levava para algum lugar desconhecido. A cidade era um labirinto de ruas estreitas e antigas, onde o passado parecia sussurrar através das pedras e o luar iluminava os caminhos com uma luz prateada. Horas se passaram enquanto ele explorava os arredores, sua mente mergulhada em um turbilhão de pensamentos e lembranças fragmentadas.
Eventualmente, seus passos o conduziram para fora da cidade, até uma clareira oculta no coração de um pequeno bosque. Ali, o mundo parecia ter parado, envolvido por uma paz melancólica. No centro da clareira, uma majestosa árvore de cerejeira erguia-se, suas flores cor-de-rosa caindo suavemente no ar. Um riacho sereno cortava o local, suas águas brilhando sob a luz da lua. As rochas ao redor completavam a cena, criando um cenário que parecia saído de um sonho.
Kael parou, sentindo um estranho aperto no peito. Algo naquela clareira o atraía de maneira inexplicável. Ele observou o local, e foi então que uma figura apareceu, à distância, banhada pelo brilho da lua. Seus olhos arregalaram-se ao reconhecer a silhueta - a mesma figura que o visitava em seus sonhos.
Sem saber se estava diante de uma visão ou uma ilusão, Kael se aproximou, seus pés movendo-se quase por conta própria. A figura à sua frente era imponente, com um corpo alto e musculoso. Seus cabelos negros desciam em longas cascatas, emoldurando um rosto oculto nas sombras. Chifres vermelhos erguiam-se majestosamente de sua cabeça, e suas vestes vermelhas, adornadas em preto e branco, realçavam sua pele escura. Mesmo sem ver claramente o rosto, Kael sentia que conhecia aquele ser, que ele era importante, de uma maneira que ele ainda não conseguia entender.
Com o coração acelerado, Kael estendeu a mão, seus dedos tremendo ligeiramente enquanto se aproximava da figura. A presença daquela entidade o envolvia em uma sensação mista de conforto e saudade. Quando seus dedos finalmente tocaram o ser, ele sussurrou, sem saber de onde vinham as palavras:
"Vai ficar tudo bem... Eu me lembrei... seu nome... seu nome é..."
Antes que pudesse concluir a frase, a figura começou a desaparecer, dissolvendo-se no ar como névoa. Kael, desesperado, tentou agarrar o que restava dela, mas encontrou apenas o vazio. Seu coração disparou, e ele começou a procurar freneticamente ao redor, ansioso, sua respiração tornando-se ofegante.
"Não! Quem é você? Quando eu cheguei aqui... quem era você? Quem... quem eu vim ver?"
A dor e a confusão tomaram conta de sua mente. Ele sabia que aquela pessoa era crucial, alguém que ele não podia esquecer, mas quanto mais tentava se lembrar, mais a memória escorregava por entre seus dedos. Suas mãos agarraram o nada, e ele caiu de joelhos, a frustração e o desespero tomando conta.
"É alguém precioso," ele murmurou para si mesmo, sua voz tremendo. "Alguém que eu não quero esquecer... Alguém que eu não deveria... esquecer..."
A dor da perda, da ausência de algo que ele mal conseguia lembrar, era sufocante. Kael sentiu o peso da solidão esmagando seu peito. A agonia era tão intensa que ele gritou, na esperança de liberar a dor, na esperança de lembrar, de encontrar o que havia perdido.
"QUAL É SEU NOME?!"
Seu grito ecoou pela clareira, dissipando-se no vento da noite. O silêncio que seguiu foi esmagador, mas então, algo mudou. Uma vaga lembrança emergiu das profundezas de sua mente - um som familiar, risos que ecoavam na escuridão, trazendo consigo a sombra de uma memória esquecida. Ele viu a figura novamente, agora rindo, mas o rosto ainda estava embaçado, como se fosse um enigma que ele não conseguia decifrar.
Kael fechou os olhos, sentindo uma dor aguda em seu peito enquanto a memória se desenrolava. Ele viu a si mesmo e a figura misteriosa juntos naquele mesmo lugar, como se os fios do destino os tivessem ligado. E como se o destino o tivesse trazido de volta àquele local, na esperança de que ele se lembrasse.
Mas a lembrança era frágil, quase inatingível, como se a qualquer momento pudesse desaparecer novamente. Kael ficou ajoelhado na clareira, sob a luz da lua, com o som suave do riacho ao fundo e as flores de cerejeira caindo ao seu redor. Ele se agarrou àquela vaga memória, determinado a não deixá-la escapar.
"Eu não vou esquecer," ele sussurrou para si mesmo, fazendo uma promessa ao vazio ao seu redor. "Eu não vou esquecer você... quem quer que você seja."
Kael se recompos e voltou para a cidade para se abrigar em alguma pousada.
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Entre Marés e Sombras
Acak**Sinopse:** Kael é um jovem dragão do mar, nascido de um ovo encontrado nas profundezas do oceano, nas ruínas de um templo antigo. Marcado pelo passado sombrio de sua vida anterior como Kael'thar, ele carrega um colar de yin-yang incompleto e uma t...