Capítulo 2: Memórias Perdidas em Dreel

5 0 0
                                    

Kael se encontrou na cidade de Dreel, localizada em Versalhes, vagando sem rumo definido, guiado apenas por um instinto primitivo que o levava para algum lugar desconhecido. A cidade era um labirinto de ruas estreitas e antigas, onde o passado parecia sussurrar através das pedras e o luar iluminava os caminhos com uma luz prateada. Horas se passaram enquanto ele explorava os arredores, sua mente mergulhada em um turbilhão de pensamentos e lembranças fragmentadas.

Eventualmente, seus passos o conduziram para fora da cidade, até uma clareira oculta no coração de um pequeno bosque. Ali, o mundo parecia ter parado, envolvido por uma paz melancólica. No centro da clareira, uma majestosa árvore de cerejeira erguia-se, suas flores cor-de-rosa caindo suavemente no ar. Um riacho sereno cortava o local, suas águas brilhando sob a luz da lua. As rochas ao redor completavam a cena, criando um cenário que parecia saído de um sonho.

Kael parou, sentindo um estranho aperto no peito. Algo naquela clareira o atraía de maneira inexplicável. Ele observou o local, e foi então que uma figura apareceu, à distância, banhada pelo brilho da lua. Seus olhos arregalaram-se ao reconhecer a silhueta - a mesma figura que o visitava em seus sonhos.

Sem saber se estava diante de uma visão ou uma ilusão, Kael se aproximou, seus pés movendo-se quase por conta própria. A figura à sua frente era imponente, com um corpo alto e musculoso. Seus cabelos negros desciam em longas cascatas, emoldurando um rosto oculto nas sombras. Chifres vermelhos erguiam-se majestosamente de sua cabeça, e suas vestes vermelhas, adornadas em preto e branco, realçavam sua pele escura. Mesmo sem ver claramente o rosto, Kael sentia que conhecia aquele ser, que ele era importante, de uma maneira que ele ainda não conseguia entender.

Com o coração acelerado, Kael estendeu a mão, seus dedos tremendo ligeiramente enquanto se aproximava da figura. A presença daquela entidade o envolvia em uma sensação mista de conforto e saudade. Quando seus dedos finalmente tocaram o ser, ele sussurrou, sem saber de onde vinham as palavras:

"Vai ficar tudo bem... Eu me lembrei... seu nome... seu nome é..."

Antes que pudesse concluir a frase, a figura começou a desaparecer, dissolvendo-se no ar como névoa. Kael, desesperado, tentou agarrar o que restava dela, mas encontrou apenas o vazio. Seu coração disparou, e ele começou a procurar freneticamente ao redor, ansioso, sua respiração tornando-se ofegante.

"Não! Quem é você? Quando eu cheguei aqui... quem era você? Quem... quem eu vim ver?"

A dor e a confusão tomaram conta de sua mente. Ele sabia que aquela pessoa era crucial, alguém que ele não podia esquecer, mas quanto mais tentava se lembrar, mais a memória escorregava por entre seus dedos. Suas mãos agarraram o nada, e ele caiu de joelhos, a frustração e o desespero tomando conta.

"É alguém precioso," ele murmurou para si mesmo, sua voz tremendo. "Alguém que eu não quero esquecer... Alguém que eu não deveria... esquecer..."

A dor da perda, da ausência de algo que ele mal conseguia lembrar, era sufocante. Kael sentiu o peso da solidão esmagando seu peito. A agonia era tão intensa que ele gritou, na esperança de liberar a dor, na esperança de lembrar, de encontrar o que havia perdido.

"QUAL É SEU NOME?!"

Seu grito ecoou pela clareira, dissipando-se no vento da noite. O silêncio que seguiu foi esmagador, mas então, algo mudou. Uma vaga lembrança emergiu das profundezas de sua mente - um som familiar, risos que ecoavam na escuridão, trazendo consigo a sombra de uma memória esquecida. Ele viu a figura novamente, agora rindo, mas o rosto ainda estava embaçado, como se fosse um enigma que ele não conseguia decifrar.

Kael fechou os olhos, sentindo uma dor aguda em seu peito enquanto a memória se desenrolava. Ele viu a si mesmo e a figura misteriosa juntos naquele mesmo lugar, como se os fios do destino os tivessem ligado. E como se o destino o tivesse trazido de volta àquele local, na esperança de que ele se lembrasse.

Mas a lembrança era frágil, quase inatingível, como se a qualquer momento pudesse desaparecer novamente. Kael ficou ajoelhado na clareira, sob a luz da lua, com o som suave do riacho ao fundo e as flores de cerejeira caindo ao seu redor. Ele se agarrou àquela vaga memória, determinado a não deixá-la escapar.

"Eu não vou esquecer," ele sussurrou para si mesmo, fazendo uma promessa ao vazio ao seu redor. "Eu não vou esquecer você... quem quer que você seja."

Kael se recompos e voltou para a cidade para se abrigar em alguma pousada.

Entre Marés e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora