Capítulo 6

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Como previsto o celular me colocou em problemas, mas o que Giovanna havia me ensinado também funcionou. Cris ficou mais calmo, disse que realmente fiz bem ter comprado um novo celular. Na quarta Giovanna e eu assistimos Invocação do mal, e realmente o primeiro filme foi melhor.

- Como andam as coisas no escritório? - Giovanna tinha uma alimentação terrível, principalmente quando estava em casa, comia qualquer besteira, então passei a cozinhar nas quartas.

- Eu serei efetivada assim que me formar. Meu chefe tem me elogiado bastante, assim como os outros advogados do escritório.

- Você está lá desde seu segundo período?

- Não, fiquei um ano lá e como eles só ficam com estagiários apenas por um ano precisei procurar outro.

- O bom que esse é perto da sua casa, você poderia ter uma alimentação melhor se quisesse.

- Eu não sou boa na cozinha, me viro para não morrer de fome, mas só isso. - Nós duas rimos.

- Eu posso preparar algo para você.

- Não mesmo, já não basta na sua casa, agora vai vir cozinhar para mim. Se quiser podemos almoçar fora, comer besteira, mas nada de ficar atrás de um fogão quando estiver aqui.

- Tarde demais. - Falei brincando.

- Só aceitei porque me chantageou.

- Eu realmente não gosto de comer comida de quentinha.

- Então saímos e comemos.

- Um estagiário ganha bem assim? - Eu não devia, mas acabei tocando nesse assunto. Giovanna ficou quieta, parecia pensar na resposta.

- Cristopher tem mais dinheiro do que você pensa. - O assunto morreu por minha culpa, eu compartilhava Cris com ela, não me importava mais com isso, pelo contrário, às vezes sentia aliviada em enviar ele para casa dela só para ter paz e silêncio, porque quando ele chegava só reclamava.

- Já está se preparando para OAB? - Decidi voltar ao assunto anterior, eu entendia um pouco de Direito por conta de Cristopher, ele não falava diretamente para mim, mas sempre reclamava do trabalho, dos alunos, de como eram burros e coisas do gênero.

- Pretendo fazer isso depois de me formar, penso em fazer um curso preparatório.

- Muito bom, realmente vai te ajudar bastante.

- Se até a minha formatura formos amigas, você vai me ver receber o diploma? - Eu parei de mexer o brigadeiro, estava fazendo uma sobremesa, já que tínhamos terminado o almoço e estava com vontade de comer algo doce. - Tudo bem, foi um pedido estupido.

- Não, eu posso ir na sua formatura se formos amigas, mas temos que tomar algumas precauções. - Giovanna sorriu abertamente, estava bastante feliz, pobre menina, mal sabe que para que eu possa ir em sua formatura, Cristopher ou nenhum de seus amigos pode me ver ou nos ver juntas, isso resumiria minhas chances de ir a zero.

Amigas? É isso que somos agora? Eu não parava para pensar muito numa definição do que nós duas somos. Camilla sempre me alertava sobre Giovanna, dizia para ficar de olhos bem abertos, mas a menina não parecia ameaçadora para mim. Aquela quarta feira passou rápido, na verdade o tempo com Giovanna passava rápido, talvez porque eu me divertisse com ela. Na sexta, desde o horário que eu acordei venho recebendo mensagens de Giovanna, ela estava animada com algo no escritório, talvez pudesse comparecer a um julgamento, aconteceria as duas, no centro do Rio. Ao meio dia ela disse que precisaria se ausentar, faria algo, não me disse o que. Fui ao hortfruit comprar algumas frutas, estava com vontade de comer salada de frutas, esqueci o celular em casa, quando voltei ele estava tocando, antes que pudesse atender ele parou. Assim que desbloqueei a tela vi quinze ligações perdidas, eram desconhecidas então eu sabia que era de Giovanna, algo havia acontecido. Mandei mensagem e ela rapidamente retornou a ligação.

- Você pode me ver hoje? Agora? - Não me deixou nem falar.

- que houve? - Perguntei preocupada.

- Por favor, você pode ir no meu apartamento?

- Chego lá em meia hora.

- Obrigada.

[...]

Quarenta minutos depois estava batendo a sua porta, rapidamente Giovanna abriu e seu rosto estava vermelho e inchado, pulou nos meus braços e me abraçou, logo começou a chorar, soluçava e me apertava em seus braços.

- Vai ficar tudo bem. - Era o que eu dizia passando as mãos por suas costas, tentava fazê-la parar de chorar. Depois de alguns minutos ela se acalmou e o choro cessou, nos sentamos no sofá, lhe dei um copo de com água e Giovanna bebericou. - Está pronta agora para me contar o que houve?

- Minha mãe, ela... ela não tem filtro, eu estava com meu chefe. - Passei a mão de leve por seu joelho a encorajando a continuar. - Eu tenho muitos defeitos, erro muito Maya, não sou perfeita, nunca fui, mas eu estou batalhando muito para ser efetivada nesse escritório.

- Eu não duvido disso.

- Como ela faz uma coisa dessas? Eu lhe mando dinheiro, não é muito, mas creio que dê para ajudar em algo, quando ela ficou doente fui até ela e ofereci ajuda, por que ela faz essas coisas?

- O que exatamente ela fez? - Giovanna colocou as mãos no rosto e voltou a chorar.

- Ela me chamou de prostituta, insinuou que meu chefe e eu temos um caso, gritou aos quatro ventos dentro do fórum. Eu fiz certas coisas que não me orgulho, mas faria de novo, não quero ser uma miserável que depende de um homem, quero ser uma mulher dependente. - Sim, indiretamente me ofendi pelo o que havia falado. - Sim eu transei com um professor para conseguir bolsa e ser indicada a um bom estagio, mas isso não me torna uma prostituta.

- Então por que chorou daquele jeito? Por que se ofendeu tanto?

- Ela é minha mãe, deveria me amar, mas ela nunca me amou. Eu sou assim por culpa dela, tudo aconteceu por culpa dela.

- Tudo? - Giovanna ficou calada, estava pensativa, parecia distante.- O que aconteceu Gi?

- Ela nunca parava com um namorado, a cada três meses ela trocava e sempre levava eles para dentro de casa. - Giovanna respirou fundo, colocou as mãos na cabeça, acho que estava sentindo dor. - Leandro, ele era um bom homem, pelo menos eu achava, ele me dava presentes, cuidava de mim, gostava dele como um pai. Eu era muito boba, tinha só doze anos, primeiro eram toques na perna, na coxa, pedia para experimentar roupas, não saia do quarto, depois dizia que eu era linda, acariciava meu rosto... - Ela engoliu a própria saliva. - Eu... não sabia, até que um dia ele... me tocou.

- Giovanna! - Eu não queria ouvir, eu não conseguiria ouvir sem desabar.

- Eu preciso contar... por favor... No inicio eu não entendia e foram acontecendo diversas vezes, ele dizia que se contasse para minha mãe ele nos mataria, depois foram beijos, masturbação, sexo oral e por fim, ele tirou minha virgindade, lembro de ter sentido tanta dor que mal podia me sentar no dia seguinte, ainda precisei lavar os lençóis sujos de sangue. - Eu já não conseguia mais segurar o choro, era tão cruel, ela era apenas uma menina, de doze anos. - No dia seguinte ele me deu um celular novo. Foram acontecendo mais vezes e a cada vez ele me dava algo, um computador, uma viagem, sapatos, roupas, me levava para passear eu simplesmente comecei a aceitar a condição, tinha medo de contar e ele cumprir a promessa de nos matar, mas admito que gostava do que ganhava, um dia minha mãe chegou mais cedo do mercado, ela era caixa e viu tudo. - O olhar de Giovanna ficou embaçado e marejado. - Ela me deu uma surra, me chamou de vadia e disse que deveria ter me abortado, me jogou para fora de casa, sem nada, só com a roupa do corpo, eu tinha quinze anos. Uma prima da minha mãe me abrigou, mas por um dia, ficou com medo de que eu fizesse o mesmo com seu marido, então me mandou para morar com uma tia avó que morava em Anchieta. Por que está chorando? - Eu apenas a abracei.

- Não foi sua culpa, você era uma menina. - Nós duas choramos juntas por um longo tempo. Eu não sabia como, mas parecia que conseguia sentir sua dor.

A Amante do Meu Marido ( Magi )Onde histórias criam vida. Descubra agora