TESSA CALLAHAN
Eu estava sentada no chão da sala, rodeada por brinquedos coloridos espalhados por todo lado. Manuela estava à minha frente, com o rostinho concentrado enquanto tentava encaixar uma peça de um quebra-cabeça de madeira. Era uma manhã calma, daquelas em que o sol entrava pela janela suavemente, iluminando tudo com uma luz dourada.
- Essa aqui, Manu. - eu disse, apontando para a peça que ela segurava desajeitadamente nas mãozinhas pequenas.
- Não, Té! - ela balançou a cabeça, a franja ruiva balançando junto, enquanto tentava enfiar a peça num lugar que claramente não era o certo. Ri baixinho.
- Tá bom, você quem manda.
Manuela soltou um gritinho de frustração e jogou a peça no chão, cruzando os bracinhos, o rosto ficando ligeiramente vermelho. Eu conhecia bem aquele gesto. Era o início de uma birra, e sinceramente, eu não tinha energia para lidar com isso agora. Me deitei de costas no tapete, encarando o teto, esperando que a crise passasse. Às vezes, a melhor coisa era deixar que ela fizesse as pazes com o próprio temperamento.
Fechei os olhos por um momento e me permiti respirar fundo. Esse era o meu mundo. Com vinte anos, minha vida girava em torno de uma garotinha de dois anos. Lembro-me de quando isso tudo começou, de quando a morte da minha irmã me empurrou para um papel que eu nunca imaginei que teria tão cedo. Perdi a liberdade, a leveza da juventude. A vida que eu conhecia havia mudado completamente.
Jamais me arrependi de lutar pela guarda de Manuela, ela era minha princesa. Mas às vezes, me sentia tão sozinha. Amigas saíam para festas, viagens, enquanto eu estava aqui, cuidando da Manuela. Tinha dias em que eu mal lembrava como era a sensação de sair sem um carrinho de bebê ou de ter uma noite de sono completa. Mas, mesmo nos momentos de maior cansaço, havia algo em Manuela que me fazia continuar. Não era só o dever, era mais do que isso. Ela me fazia sentir que, apesar de tudo, eu não estava sozinha.
- Senta. - ela disse de repente, apontando para o chão ao meu lado, já mais calma. Seu pequeno lábio inferior tremia levemente, mas a raiva havia passado. Ela pegou outra peça e veio até mim, sentando-se ao meu lado, me estendeu a peça.
- péça tê
Peguei a madeira lisa entre os dedos, olhando para o rostinho dela, com os olhos arregalados e a expressão esperançosa. Aquilo me fez sorrir. Ela sempre tinha esse efeito sobre mim.
- Tudo bem, vamos ver. - respondi, fingindo concentração. Manuela se inclinou para mim, encostando a cabecinha no meu ombro. Senti o calor dela e, por um segundo, um aperto no peito. Esse pequeno ser, tão dependente de mim, tinha se tornado meu mundo inteiro.
Coloquei a peça no lugar certo e ela deu um gritinho de alegria, batendo as mãozinhas.
- Té, êca! Êca! - apontou para a peça encaixada.
- Isso mesmo, Manu, a gente conseguiu! - disse, abraçando-a.
Ela se aconchegou nos meus braços, de repente mais quieta, como se soubesse que aquele era um momento importante. Às vezes, ela parecia entender mais do que eu achava possível para uma criança da idade dela. Talvez fosse o jeito como as coisas haviam mudado para nós duas. Ela perdeu a mãe e eu, minha irmã. Agora, éramos apenas nós duas.
Manuela pegou um dos bonecos que estavam perto, o apertando contra o peito. "Mamãe," ela murmurou, do jeito que fazia às vezes, sem entender totalmente o que significava. Meu coração apertou.
- Sim, Manu. - eu disse baixinho, tentando manter a voz firme. - A mamãe te amava muito.
Ela me olhou, confusa, como se esperasse que eu explicasse mais. Mas o que eu poderia dizer? A vida era injusta às vezes, tirava as pessoas que mais amávamos sem aviso. Eu ainda estava tentando lidar com isso, com o buraco que a morte da minha irmã deixou. Mas eu tinha Manuela. E, de certa forma, isso me salvava.
- Mamá vem? - ela perguntou, inclinando a cabeça para o lado.
Eu balancei a cabeça, tentando não deixar transparecer a dor que senti ao ouvir a pergunta.
- Não, meu amor. A mamãe não pode vir. Mas eu estou aqui, tá? Sempre vou estar.
Manuela pareceu aceitar a resposta. Encostou-se novamente em mim, bocejando. O cansaço estava começando a vencer, e logo ela estaria dormindo em meus braços, como tantas outras vezes.
Fiquei ali, abraçando-a, enquanto ela murmurava algo indistinto. As horas poderiam passar, e eu não me importaria. Porque, apesar de toda a solidão, de todo o cansaço, estar com Manuela fazia com que tudo valesse a pena. Eu a amava mais do que qualquer coisa no mundo, e ela me lembrava todos os dias que, mesmo quando eu me sentia perdida, eu tinha um propósito.
E isso, de alguma forma, me dava forças.
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Minha adorável Tessa
Romancegravidez inesperada • crianças fofas • romance policial. Esse livro faz parte da trilogia militares. - Minha adorável Tessa. - (em andamento) - Minha inesquecível Hera - (em andamento) - Minha linda Sophia. - (em andamento)