ᴠᴏʟᴛᴀɴᴅᴏ ᴀ ᴠɪᴠᴇʀ

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Regina's POV


Faz um mês que eu havia saído do hospital, era difícil de acreditar que fiquei em coma por tanto tempo. Imaginar que meus pais iriam desligar os aparelhos me deixou chateada, mas eu não posso culpá-los. Eu mesma sempre fui a favor de não manter uma pessoa viva somente por aparelhos, mas quando uma coisa acontece com você, é o suficiente para te fazer mudar de ideia. Sempre achei que as pessoas que ficam em coma por muito tempo poderiam estar sofrendo e nada mais justo do que a família autorizar que os equipamentos sejam desligados. Hoje percebo o quanto esse pensamento é egoísta. Não é porque somos médicos que sabemos de tudo, às vezes o paciente só está tentando nos dizer que precisa apenas de mais uma chance para continuar vivendo.

Imaginar que eu poderia nunca mais ver minha família e amigos, ou nunca mais poder admirar a natureza, me dá um aperto no peito. Ainda estou de licença e não voltei ao trabalho, mas mesmo depois de voltar, não vou dedicar minha vida somente ao hospital. Eu sei que os pacientes precisam de mim, mas eu também preciso de mim, preciso aproveitar essa nova chance que a vida me deu. Eu vou viver enquanto ainda posso.

Mesmo com toda a felicidade que estou sentindo por continuar respirando, eu sinto um vazio no coração, parece que falta alguma coisa em minha vida, mas ainda não consegui descobrir o que é. Ando pelas ruas como se eu já tivesse visitado lugares dos quais eu nunca estive antes.

Depois de passar algumas horas da manhã no parque da cidade, resolvi dar uma passada em meu apartamento. Quando saí do hospital, meus pais insistiram para que eu ficasse um tempo na casa deles, eu vi o quanto eles estavam se sentindo culpados por terem autorizado que os equipamentos fossem desligados, e eu também queria passar mais tempo com eles e com Zel. Além disso, minha mãe disse que havia alugado meu apartamento para uma mulher, e eu confesso que estava preocupada de encontrar minha casa destruída. Vai saber o tipo de pessoa que estava na minha casa.

A corretora avisou que a mulher sairia de lá ainda nesta semana.

Dei uma última olhada na bela paisagem à minha frente e peguei um táxi, já que com o acidente, meu carro partiu dessa para uma pior.

O taxista parou no farol vermelho em frente a uma loja estranha e meio obscura, algo naquela loja chamou minha atenção.

Dei um sorriso amarelo quando uma mulher morena, com um livro estranho na mão, riu para mim e fez sinal de positivo com a mão.

— Moça, vai descer? — O motorista perguntou, fiquei tanto tempo olhando para o meu prédio que nem percebi que ainda estava dentro do táxi. Tirei do bolso uma nota de 30 dólares e saí sem nem esperar pelo troco.

Dei uma boa olhada no bairro e fiquei feliz em ver que continuava do mesmo jeito.

— Senhorita Regina! — Falou o homem de meia idade com uma expressão de surpresa estampada no rosto.

— Marco! — Dei a volta no balcão da sua recepção e dei um abraço apertado no porteiro.

— Criança, como é bom ver você. — O homem falou com todo carinho. — Como você está, menina?

— Também é bom te ver, Marco.— Separei nosso abraço e segurei suas mãos. — Estou ótima e você também me parece bem.

— Vai voltar morar aqui?

— É o que eu mais quero. Hum... Você sabe me dizer se a moradora temporária deixou a chave aqui?

— Ah, espere aqui. — Ele se afastou e pegou um molho de chaves que estava pendurado no chaveiro. — Uma moça muito simpática, mas com um olhar triste, deixou elas aqui ontem de manhã.

— Obrigada, Marco. Bom, agora vou subir para dar uma olhada no estado em que ela deixou meu apartamento. — Ele deu um beijo na minha testa e eu subi os lances de escada até meu apartamento.— Pelo menos a porta está do mesmo jeito que eu deixei. — Falei para mim mesma. Entrei no apartamento e me surpreendi ao ver que estava na mais perfeita ordem. Dei uma olhada na cozinha, nos quartos e no banheiro. — Bom, por aqui também está tudo em ordem. — Agradeci mentalmente por uma pessoa organizada ter ficado em minha casa, segui para o único lugar que faltava. Meu lugar favorito no mundo.

Subi a escada para o terraço e meu queixo caiu ao ver um jardim com flores lindas. Como isso aconteceu? — Nossa... — Podia sentir meus olhos brilhando, está exatamente como eu queria. Na verdade, está muito melhor, preciso agradecer quem quer que seja a pessoa que tenha feito isso.

— Oi...— Ouvi uma voz atrás de mim. Me virei e me deparei com a mulher do hospital. Depois que ela foi embora, ninguém mais tocou no assunto, só falaram que os aparelhos não haviam sido desligados por conta dela. Naquele dia não tive tempo de ver o quanto ela era linda. Essa jaqueta de couro com as botas davam para ela um ar de badgirl.— Desculpe, não queria incomodar, pensei que não tivesse ninguém. — Olhando para ela ali senti uma estranha sensação de preenchimento.

— Como entrou aqui? — Perguntei desconfiada.

— A chave extra embaixo do extintor. — Mostrou a chave.

— E o que veio fazer aqui?

— Esqueci de pegar uma coisa.

— Era você quem estava morando aqui? — Ela assentiu.

— Não se preocupe, já estou indo embora. — A mulher me deu uma última olhando intensa. — Adeus, Gina. — Esse apelido me pareceu tão familiar, tentei puxar na memória de onde eu já tinha escutado ele, mas não veio nada.

— Emma, né? — Ela parou e se virou para mim. — A chave extra. — Ela voltou a se aproximar e estendeu a chave. Nossos olhares se encontraram com uma intensidade tão forte, que me senti ligada a ela de alguma forma. Analisei todo seu rosto enquanto ela me olhava de uma forma que eu não pude decifrar o que seus olhos estavam dizendo.

— De onde eu te conheço? — Perguntei confusa. Eu não estava falando da cena no hospital, tenho a impressão de que a conhecia antes disso.

— Dos seus sonhos, talvez. — Ela olhou para a chave em sua mão que estava estendida, estendi a minha mão e fiquei aguardando ela me entregar. Nossos olhos permaneciam ligados um ao outro, senti o frio percorrer meu corpo quando sua mão tocou a minha, fui invadida com cenas.

Eu só queria outra chance...

Podemos ir para qualquer lugar do mundo...

Eu quero fazer uma coisa...

Eu acordaria se você pudesse me tocar de verdade...

Eu te amo, Regina...

— Emma, você conseguiu! — Meus olhos marejaram, olhei meu corpo, olhei para Emma e uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto.— Emma, você conseguiu! — Ela tocou meu rosto. Fui pega de surpresa quando seus lábios tocaram os meus em um beijo puro e emocionado, era apenas um selinho, mas cheio de sentimentos. Separei nossos lábios e envolvi seu rosto com as minhas mãos.

— Eu também te amo, Emma.

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𝐣𝐮𝐬𝐭 𝐥𝐢𝐤𝐞 𝐡𝐞𝐚𝐯𝐞𝐧 • swanqueenOnde histórias criam vida. Descubra agora