Eu não sei por que insisto em acompanhar Natália nessas ideias malucas dela. Talvez seja porque ela é minha melhor amiga e, bem, a gente sempre acaba metida em confusão juntas. Só que dessa vez, eu realmente queria estar longe. Longe dali, longe daquele barraco. E tudo isso por causa de um homem, claro.
Tudo começou no meio da semana, quando Natália me ligou toda empolgada, dizendo que ia se declarar para o tal do Lúcio, um cara que ela andava de olho fazia meses. Ela já tinha dado várias indiretas, jogado charme, até derrubado uns copos de propósito perto dele na esperança de rolar uma interação mais... calorosa. Só que nada acontecia. E, bem, já que ela achava que precisava de um empurrãozinho, quem sou eu para negar apoio moral, não é?
— Rafa, amiga, eu tenho que fazer isso logo! Ele nunca vai perceber se eu não falar com todas as palavras!
— Você tá certa. Vai lá e bota pra quebrar. — eu disse, ainda sem saber no que estava me metendo.
Chegamos no tal bar onde Lúcio e os amigos costumavam aparecer depois do trabalho. Era um lugar bem pequeno, simples, porém, aconchegante. Não deu cinco minutos e lá estava o bendito, sentado com uma cerveja na mão, rindo com os amigos. Observei de longe, torcendo para tudo acabar bem rápido, já que minha única intenção era ir para casa assistir minha novela tranquilamente.
— É agora... — Natália disse, respirando fundo como se estivesse prestes a subir em um palco.
Ela foi decidida, rebolando, jogando o cabelo de lado. Até eu fiquei impressionada com a confiança. Quando chegou perto dele, percebi que ela começou a falar de forma mais animada do que o normal. De longe, parecia que o Lúcio estava até gostando da atenção, dando risadinhas e tudo mais. Eu estava distraída, tomando minha água, quando o caos começou.
— Quem é essa aí, Lúcio?! — uma voz estridente cortou o ar e fez meu corpo todo gelar.
Virei a cabeça tão rápido que quase torci o pescoço. Uma moça, com cara de poucos amigos e mãos na cintura, vinha marchando em direção a Natália.
— Quem você pensa que é pra ficar dando em cima do meu namorado? — a mulher gritou, empurrando o peito de Natália.
Eu queria evaporar. Era como se uma tempestade tivesse se formado em segundos. A namorada do Lúcio era baixinha, mas tinha uma fúria que eu nunca tinha visto igual. Natália, coitada, ficou paralisada por um segundo, sem saber o que dizer. Eu levantei da mesa, já imaginando que aquilo ia terminar muito mal.
— Olha, eu... eu não sabia que ele tinha namorada! — Natália tentou se explicar, levantando as mãos como quem se rende.
— Não sabia? Não sabia? — a moça repetiu, aumentando o tom de voz a cada palavra. — Todo mundo aqui sabe! Sou a namorada dele faz dois anos, todo mundo sabe quem eu sou!
Eita. Natália realmente tinha se metido numa enrascada. Ela olhou para mim como quem pede socorro, mas eu mal sabia o que fazer. A essa altura, o bar todo estava de olho na confusão. O Lúcio, ao invés de resolver a situação, parecia uma estátua, completamente sem ação. E o pior de tudo? Ela começou a olhar pra mim.
— E você? O que você tem a ver com isso? — ela veio em minha direção, dedo apontado na minha cara.
Eu? Eu nem sabia o que responder. Olhei ao redor tentando encontrar uma saída.
— Eu... Eu não fiz nada! Só vim aqui acompanhar minha amiga, não tenho nada a ver com isso! — minha voz saiu mais alta do que eu esperava, contudo, era o nervosismo tomando conta.
— Sei... Parece que você faz parte do teatrinho! — ela continuou, ainda sem baixar o dedo. — Vem junto, fica quieta, mas tá apoiando, né?
Agora eu tava com raiva. Que culpa eu tinha se Natália resolveu dar em cima do namorado alheio sem saber? Eu nem queria estar ali!
— Olha aqui, eu tô quieta porque essa briga nem é minha! Se eu soubesse que o Lúcio tinha namorada, eu teria impedido a Natália antes! — eu disse, tentando me defender, entretanto, a Marcela não parecia nem um pouco disposta a ouvir.
— Tá tudo errado, você e sua amiga! Duas sonsas achando que podem vir aqui roubar o namorado dos outros!
— Roubar o namorado? Mulher, você tá me ouvindo? Eu nem sabia que esse homem existia até hoje! — minhas palavras saíram rápidas, o que só deixou ela mais irritada.
A confusão já estava fora de controle. Algumas pessoas no bar começaram a se levantar, achando que o barraco ia virar pancadaria a qualquer momento. Olhei de novo para a Natália, esperando que ela dissesse algo que salvasse a gente, mas ela só repetia:
— Eu juro que não sabia!
Lúcio, finalmente, decidiu sair da inércia.
— Marcela, calma, a gente só tava conversando! — ele disse, tentando pegar no braço dela.
— Conversando?! Ah, você tem coragem de falar isso na minha cara? Eu vi o jeito que ela tava te olhando!
Eu só queria desaparecer. Pensava no Zezinho, meu papagaio, em casa, que com certeza estaria mais seguro do que eu naquele bar. Talvez até ele soubesse lidar melhor com a situação.
— Rafa, me ajuda! — Natália me cutucou, desesperada.
Foi aí que percebi que não tinha como escapar. Se eu quisesse sair dali inteira, ia ter que apelar para o bom senso, se é que ainda existia algum.
— Olha, Marcela, ninguém aqui quer roubar seu namorado. Vamos ser sinceras, o Lúcio não vale tanto esforço assim. Natália só queria trocar uma ideia, nada de mais. Se soubesse de você, nem teria chegado perto. Então, vamos resolver isso como duas pessoas adultas e cada uma segue seu caminho. Que tal?
Por um momento, achei que a Marcela fosse concordar. Ela respirou fundo, olhou pra Natália, depois pra mim... e deu finalmente de ombros.
— Tá. Mas se eu ver vocês perto dele de novo, vai ter problema.
Eu quase dei um suspiro de alívio. Ela pegou o braço do Lúcio e saiu do bar, deixando o silêncio pesado para trás. Natália virou pra mim com um sorriso nervoso.
— Acho que não foi tão ruim, né?
Olhei para ela com a sobrancelha levantada.
— Não foi tão ruim? Eu quase levei uma surra por sua causa!
Ela deu de ombros.
— Pelo menos agora eu sei que ele tem namorada.
Balancei a cabeça, ainda incrédula, e me preparei para sair daquele lugar antes que mais alguma coisa acontecesse.
— Da próxima vez, vai sozinha, tá bom?
A confusão parecia que sempre estava no meu rastro e eu não conseguia evitar.
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Debaixo Da Bananeira
HumorEm uma pequena cidade cearense, Rafaela Pereira luta com unhas e dentes para salvar uma bananeira plantada por seu pai antes de falecer, ameaçada pela construção de uma nova fábrica. Daniel Correia, o dono da fábrica, fica fascinado pela teimosia da...