Capítulo 16 Pizza E Papagaio

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Daniel, havia me convidado para sair para conversar. Não era um evento qualquer, era uma saída para comer pizza – um convite que, na minha cabeça, tem todo o peso de uma reunião da ONU. Eu queria ter contado para minha amiga, no entanto, não tive a chance quando a chefe dela apareceu na loja. O dia passou rápido e eu fiquei com o coração na garganta, e quando chegou a hora, eu já estava mais nervosa que peru na véspera de Natal.

Cheguei à pizzaria e lá estava ele, sorridente e charmoso, como se não fosse o causador do meu leve colapso emocional. Ele acenou e fui até a mesa, me equilibrando nas pernas, tentando parecer natural.

— Oi, Rafaela. — ele sorriu daquele jeito meio torto que eu comecei a achar bonitinho.

— Oi, Daniel! — falei, tentando não parecer ofegante, embora eu estivesse a um segundo de desmaiar.

Nos sentamos, começamos a conversar e, para minha surpresa, a conversa fluía bem. Falamos de tudo: da cidade, da fábrica, até da bendita bananeira que eu ainda defendia como se fosse meu último trunfo de vida. Ele, com sua paciência de monge, ouviu todas as minhas reclamações e deu risada. A noite estava indo maravilhosamente bem.

— Eu entendo sua conexão com a árvore. — disse ele, pegando mais uma fatia de pizza. — Mas sabia que você é a única pessoa no planeta que consegue transformar uma discussão sobre uma bananeira em algo interessante?

— Ah, vai, estou sendo racional. Pelo menos não estou atacando ninguém com uma enxada — respondi, rindo, enquanto mordia um pedaço de pizza com molho demais.

Tudo estava indo ótimo... até que um movimento estranho na janela chamou minha atenção. Tentei ignorar, afinal, quem se importa com uma sombra quando se está no melhor encontro da vida? Porém, de repente, ouço um barulho inconfundível.

Bando de gente sem o que fazer! Fofocando igual à Dona Dulceneia! — uma voz familiar ecoou, vindo sabe-se lá de onde.

Olhei para o lado, e quem estava lá, pousado em nossa mesa com a autoridade de quem pagou a conta? Zezinho, o papagaio mais intrometido do planeta. Ele tinha me encontrado. Na pizzaria.

— O quê...? Zezinho?! — exclamei, entre choque e vergonha. Como ele tinha chegado ali?

Daniel arregalou os olhos, claramente surpreso. Ele olhou para o papagaio e depois para mim.

— Esse é o seu...?

— Papagaio. — completei, afundando na cadeira. — Sim. Ele tem esse hábito de... aparecer.

Rafaela é teimosa que nem burro amarrado! — Zezinho começou, mais uma vez, a soltar suas pérolas.

Eu queria me esconder debaixo da mesa, porém, sabia que isso só pioraria a situação. Daniel, no entanto, parecia estar se divertindo.

— Então esse é o famoso Zezinho. — ele disse, tentando segurar a risada. — Acho que já ouvi algumas histórias sobre ele.

— Acredite, você não quer saber das piores. — tentei contornar, mas Zezinho não colaborava.

— Daniel é bonito, mas Rafaela está de olho no Rodrigo! — gritou o papagaio, fazendo minha alma abandonar meu corpo por um breve instante.

Fiquei em silêncio, congelada, enquanto Daniel me olhava, claramente achando tudo hilário. Eu não sabia onde enfiar minha cara.

— Eu juro, ele não sabe o que diz. — tentei me justificar.

— Ah, não? — Daniel arqueou uma sobrancelha, ainda rindo. — Parece que ele sabe de muita coisa.

Antes que eu pudesse dar uma resposta minimamente inteligente, Zezinho resolveu subir mais um degrau no meu abismo de constrangimento.

Rafaela diz que Daniel tem cara de quem não sabe usar furadeira! — ele gritou, como se estivesse num megafone.

Nesse momento, eu estava prestes a amarrar Zezinho e mandá-lo pelo correio para o Alasca. Daniel gargalhou tão alto que eu achei que todo o restaurante ia começar a prestar atenção. E, claro, comecei a ver algumas cabeças se virarem para nossa mesa.

— Sério, esse papagaio é melhor que muita gente. — Daniel disse entre risadas, enxugando os olhos.

— Não acho graça nenhuma. — retruquei, cruzando os braços, contudo, acabei rindo junto, porque, no fundo, a cena era absurda demais para levar a sério.

— Zezinho, vai pra casa! — ordenei, tentando manter alguma dignidade.

Não volto! Quero pizza! — O papagaio gritou de novo, pulando de uma cadeira para outra.

— Ele é sempre assim? — perguntou Daniel, ainda se divertindo.

— Infelizmente, sim. Mas geralmente ele só faz isso em casa. Não sei como ele conseguiu me achar aqui!

Zezinho continuava se exibindo. Pegou um pedaço de pizza com o bico e voou de volta para a mesa, como se fosse o convidado de honra.

— Eu realmente não sei o que dizer. — murmurei, derrotada.

— Acho que não precisa dizer nada. — Daniel disse, ainda rindo, estendendo a mão para mim. — De qualquer forma, o que ele diz não muda o que eu penso sobre você.

Olhei para ele, surpresa com a calma dele em meio ao caos. E, de repente, toda a vergonha foi substituída por uma leveza.

— Então você não vai fugir correndo? — perguntei, levantando uma sobrancelha.

— Fugir? Não. — ele pegou minha mão e apertou de leve. — Mas talvez eu precise de mais uma saída com você, sem o Zezinho, se possível.

Ri, finalmente me sentindo mais tranquila.

— Vou trancar ele na gaiola da próxima vez. — prometi.

Rafaela é louca, mas é gente boa! — Zezinho gritou do alto da mesa, como se fosse sua bênção final.

— Parece que temos a aprovação do Zezinho. — Daniel brincou.

Eu suspirei, ainda achando a situação surreal. Mesmo com o papagaio fofoqueiro e intrometido, a noite acabou sendo memorável. E, de certa forma, Zezinho, com todas as suas bobagens, acabou quebrando qualquer tensão que poderia ter sobrado.

— Acho que esse vai ser o encontro mais memorável da minha vida. — falei, rindo.

— Pode apostar que é o meu também. — Daniel respondeu, ainda segurando minha mão enquanto Zezinho tentava roubar mais um pedaço de pizza.

Me deixei levar, confesso, não afastei ele de mim e ainda vivi uma situação embaraçosa com ele.

E assim, de alguma forma, entre risadas, pizza e um papagaio intrometido, a noite terminou melhor do que eu poderia imaginar.

Debaixo Da BananeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora