Capítulo 15 Fofoca Entre Amigas

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Rafaela Pereira

Entrei na loja onde Natália trabalha como quem não queria nada. Fazia um calor do cão e eu só queria me refrescar no ar-condicionado enquanto fingia estar interessada nas roupas expostas nas araras. Natália, que já me conhecia de longe, veio logo se aproximando com aquele sorriso de sempre.

— E aí, mulher? Não me diga que veio gastar dinheiro, porque eu sei que você tá mais lisa que sabão! — ela disse, já rindo da minha cara.

Revirei os olhos e fiz cara de ofendida, mesmo sabendo que ela estava certa.

— Tô só dando uma olhada, ué. Não posso nem ver as novidades?

Ela riu, me puxando para perto do balcão. A loja estava bem vazia naquele horário, e Natália claramente queria bater papo. Mal sabia ela o que vinha pela frente.

— Mulher, você nem sabe... — comecei, me apoiando no balcão com ar dramático.

Natália, curiosa, já ficou com os olhos arregalados.

— O que foi dessa vez? Bananeira? Daniel? Ou foi o Zezinho aprontando de novo?

— Os três, basicamente! — suspirei, balançando a cabeça. — O Zezinho continua repetindo as fofocas da Dona Dulceneia. Eu quase tive um troço hoje cedo quando ele soltou um "Rafaela continua dormindo com o Daniel" em pleno café da manhã!

Natália soltou uma gargalhada tão alta que até quem passava na calçada podia ouvir.

— Não acredito que ele falou isso! — ela ria sem parar, batendo no balcão.

— Pois acredite, porque eu ouvi direitinho. E o pior é que ele falou na frente da Dona Josefa, que já ficou me olhando de cima a baixo como se eu fosse... Sei lá, uma daquelas personagens de novela!

Eu estava indignada, mas Natália continuava rindo como se aquilo fosse a melhor piada do mundo. Não que eu pudesse culpá-la, era mesmo engraçado de certa forma.

— Ah, Rafaela... Você atrai essas confusões como um imã, não é? — Natália disse, ainda com lágrimas de tanto rir nos olhos.

— Eu juro que não faço por querer! — reclamei. — Mas a parte mais surreal foi que o Daniel apareceu lá na minha casa logo depois.

— O quê?! — Natália parou de rir na hora. — E o que ele queria?

Antes que eu pudesse responder, a porta da sala dos fundos se abriu com força e, como num passe de mágica, a patroa de Natália apareceu. Uma mulher de aparência rígida, com o cabelo preso tão apertado que parecia uma peruca mal colocada.

— Natália, o que é isso? — a mulher perguntou, com a voz mais séria que eu já ouvi na vida. — Está de conversa fiada com clientes em horário de trabalho?

Natália congelou no lugar. A cara de desespero dela me deu vontade de rir, porém, segurei firme. Ela tentou se justificar, mas a chefe nem deu chance. Engoli em seco.

— Eu não pago você para ficar de bate-papo! Temos uma loja para cuidar, produtos para organizar, e clientes que precisam de atendimento sério, não isso! — a mulher gesticulava, apontando para mim e para as roupas desorganizadas nas araras.

— Desculpa, dona Madalena, é que... — Natália tentou falar, contudo, foi interrompida de novo.

— Desculpas não vendem roupas, Natália! Se você continuar assim, vou ter que rever seu desempenho aqui na loja.

Foi aí que eu, muito esperta, resolvi abrir a boca, achando que ia melhorar a situação.

— Me desculpe, dona Madalena, a culpa foi minha. Eu que puxei assunto com ela, foi mal mesmo. Eu só queria ver umas roupas, mas aí...

Antes que eu pudesse terminar, a patroa me olhou de cima a baixo, sem disfarçar. Parecia avaliar cada peça de roupa que eu estava usando, como se fosse descobrir a quantidade exata de tempo que passei sem gastar um centavo naquela loja.

— Ah, claro. A senhorita é amiga da Natália, não é? — ela disse, com um tom seco. — Bom, se vai ficar só conversando e atrapalhando o trabalho da minha funcionária, acho melhor que vá embora. E da próxima vez, se vier aqui, espero que seja para comprar alguma coisa.

Minha cara queimou de vergonha. Olhei para Natália, e ela estava branca como papel.

— Mas eu vou comprar algo! — falei rápido, sem nem pensar. — Eu só estava... Escolhendo!

Natália, coitada, me olhou com aquele olhar de "Pelo amor de Deus, cala a boca!". Claro que eu não obedeci.

— Escolhendo? — dona Madalena ergueu uma sobrancelha. — Então me diga, o que vai levar?

Olhei ao redor, tentando achar qualquer coisa que pudesse salvar a minha pele. Peguei a primeira coisa que vi: uma blusa amarela, horrorosa, cheia de babados.

— Essa aqui! — falei, segurando a blusa como se fosse uma joia rara.

— Essa? — Natália murmurou, quase em pânico.

— Isso mesmo, essa aí. — reforcei, tentando parecer confiante.

Dona Madalena pegou a blusa da minha mão, olhou-a de cima a baixo e deu um sorriso torto.

— Uma excelente escolha. Vai combinar... com seu estilo único. — ela virou as costas e voltou para a sala dos fundos sem dizer mais nada.

Assim que a porta se fechou, Natália me olhou com os olhos arregalados e começou a rir de novo, só que agora de puro nervoso.

— Rafaela, você não tem jeito mesmo, né? A blusa mais feia da loja, sério? — ela riu, entretanto, com um toque de desespero na voz.

— Mulher, eu só queria salvar sua pele! — respondi, rindo também.

— Aham, obrigada por isso. Agora a dona Madalena acha que você tem um gosto terrível.

— Bom, ela não tá errada. — brinquei, olhando para a blusa com desgosto. — Mas pelo menos você não vai perder o emprego por causa de mim!

Nós duas continuamos rindo, mesmo sabendo que a situação tinha sido um desastre completo. E claro, no final das contas, acabei levando a blusa horrorosa só para evitar outra bronca da patroa de Natália.

Quando saí da loja, ainda com a blusa nas mãos, pensei em como eu sempre conseguia me meter nas situações mais absurdas. Contudo, pelo menos dessa vez, o drama foi menor. E de quebra, garanti mais um motivo para Natália me zoar pelo resto da vida.

Debaixo Da BananeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora