Rafaela Pereira
Eu já estava em casa, descansando depois de um dia agitado, quando ouvi meu celular apitar. Peguei o aparelho do lado da cama, e quando vi o nome de Rodrigo piscando na tela, meu coração deu aquele salto automático. Aquela paixão secreta — ou nem tão secreta assim, já que Natália sempre me zoava — parecia acender toda vez que eu via o nome dele. E a mensagem? Era um convite inesperado.
"Ei, Rafa, o que acha de uma caminhada hoje no fim da tarde? Podemos bater um papo e aproveitar o pôr do sol."
Pôr do sol, conversa com Rodrigo... parecia o cenário perfeito! Eu me sentei na cama de um pulo, com os dedos já tremendo para responder. Respirei fundo, tentando não soar desesperada.
— Claro, por mim está ótimo! Nos encontramos onde? — respondi, tentando não parecer uma adolescente surtada.
Ele logo respondeu, sugerindo um ponto de encontro perto da praça principal. Não dava para acreditar. Será que ele estava mesmo interessado? Ou seria só uma amizade casual? Ah, quem se importava? Eu já estava imaginando todos os possíveis desdobramentos dessa caminhada. Afinal, uma caminhada poderia ser o início de algo mais, não é?
Comecei a me arrumar, trocando de roupa umas três vezes, até encontrar o equilíbrio perfeito entre "não me esforcei tanto" e "sou naturalmente incrível". Na minha cabeça, era a estratégia infalível. Coloquei uma roupa mais esportiva, mas que destacava meus pontos fortes. Claro, sem exageros — afinal, era só uma caminhada, né?
Saí de casa um pouco antes do horário combinado e, quando cheguei à praça, lá estava ele. Rodrigo, com seu sorriso lindo e aquela aura de confiança. Ele me cumprimentou com um aceno e, quando me aproximei, aquele cheirinho de perfume masculino misturado ao suor controlado de quem acabou de malhar me atingiu como uma onda.
— Oi, Rafa! Pronta pra caminhar?
— Prontíssima! — respondi, tentando manter o tom casual, apesar do frio na barriga. Como gostaria de devorar aqueles lábios rosados dele, contudo, precisava me controlar e vê no que ia da nossa caminhada.
Começamos a andar pelo caminho que levava para um terreno que muita gente costumava usar para caminhadas. O sol começava a descer, tingindo o céu de laranja e rosa. Eu estava tentando focar na conversa, no entanto, estava difícil. A cada passo, a proximidade dele me deixava mais consciente de cada movimento. E aí, como quem não quer nada, ele começou a me fazer perguntas sobre minha vida, minha rotina, se eu gostava de caminhar ali com frequência.
— Sabe, eu não sabia que você curtia caminhar, Rafa. A gente nunca se esbarrou por aqui. Eu teria gostado muito de uma companhia como a sua.
— Ah, eu gosto de vez em quando. Faz bem pra espairecer, né? — respondi, tentando soar tranquila, enquanto meu cérebro gritava por dentro. O que será que ele estava pensando?
Enquanto caminhávamos, ríamos de algumas histórias antigas. Eu estava quase começando a relaxar, sentindo que o papo estava fluindo bem. Foi quando, do nada, notei algo no canto do olho: Daniel. Ele estava do outro lado da rua, saindo aparentemente de alguma loja de materiais de construção.
Meu coração disparou de novo, mas por um motivo completamente diferente. O que ele estava fazendo ali? Eu sabia que ele sempre ficava de olho em tudo, porém, não esperava vê-lo nesse momento tão... peculiar.
— Olha, quem tá ali! — Rodrigo comentou, me tirando dos pensamentos. — Não é o Daniel, aquele dono da fábrica em construção?
— É, ele mesmo. — respondi, tentando soar indiferente, mas sentindo um calor nas bochechas.
Daniel nos olhou de longe, e por um segundo nossos olhos se encontraram. Ele deu um leve aceno com a cabeça e um sorriso que, embora discreto, parecia conter algo mais. Só que eu sabia o que era. Daniel disfarçava bem, mas tinha um quê de ciúme ali. Era quase palpável. E, para piorar, Rodrigo acenou de volta, despreocupado, sem notar nada.
Continuamos caminhando, contudo, minha cabeça ficou presa naquela troca de olhares. O que será que Daniel estava pensando? Será que estava achando que eu e Rodrigo éramos um casal? E por que eu me importava tanto com isso?
Rodrigo, alheio a toda a tensão que eu sentia, continuava falando sobre as melhorias que planejava fazer na academia. Eu tentava prestar atenção, mas meus olhos sempre acabavam voltando para Daniel, que agora entrava em uma loja e desaparecia de vista. Tentei me focar no que estava à minha frente — literalmente —, mas meu cérebro teimava em voltar para o empresário teimoso.
— Então, o que você acha? — Rodrigo perguntou, me pegando de surpresa.
— Ah, é... muito legal! — Respondi, sem ter a menor ideia do que ele tinha acabado de falar. Ele riu, achando graça da minha distração.
— Você parece distante, tá tudo bem?
— Sim, claro! Só... pensando na vida. — menti, tentando desviar a atenção.
Enquanto isso, eu só imaginava Daniel voltando para casa, remoendo aquela cena. Será que ele estava realmente com ciúme? Será que ele disfarçou só para não parecer incomodado? Aquele segundo beijo na frente da minha casa ainda estava fresco na minha memória. E agora, andando ao lado de Rodrigo, comecei a perceber que meus sentimentos estavam mais bagunçados do que eu admitia.
Rodrigo me levou até o final do percurso planejado, e enquanto nos despedíamos, ele comentou casualmente:
— A gente devia repetir isso mais vezes, Rafa. É sempre bom ter companhia. Você é divertida.
— Eu também gostei. Vamos marcar, sim! — sorri, genuinamente feliz com o convite.
Nos despedimos com um abraço, e enquanto ele seguia para um lado, eu fiquei parada ali por uns segundos, absorvendo tudo. Não sabia o que pensar. Rodrigo era o cara dos meus sonhos adolescentes, mas... Daniel estava começando a invadir meu pensamento de um jeito inesperado.
Voltei para casa, meio confusa, meio ansiosa. Caminhadas no fim de tarde com Rodrigo eram algo que eu sempre quis. Porém, agora que estava acontecendo, parecia que o caminho estava me levando para outro lugar... ou para outra pessoa.
E, por mais que eu tentasse, Daniel não saía da minha cabeça.
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Debaixo Da Bananeira
HumorEm uma pequena cidade cearense, Rafaela Pereira luta com unhas e dentes para salvar uma bananeira plantada por seu pai antes de falecer, ameaçada pela construção de uma nova fábrica. Daniel Correia, o dono da fábrica, fica fascinado pela teimosia da...